Enquanto a mídia (previsivelmente) esquece-se do massacre ocorrido nos complexos de favelas do Alemão e da Penha no Rio de Janeiro no último dia 28 de outubro, jogando definitivamente os indivíduos assassinados pelo Estado na mais letal operação policial da temerosa história do Brasil a meros números, faz-se providencial observar o oportunismo do governista Partido dos Trabalhadores (PT).
Postura histórica deste partido nos mais diversos aspectos e em particular quando se trata da própria violência do do terrorista Estado brasileiro, que não apresenta sequer uma luz no fim do túnel rumo à mudança.
Embarcando politicamente na indignação mundial pelo horror ocorrido há quase um mês na capital fluminense, o presidente Inácio da Silva e seus correligionários aproveitaram o ensejo para, apostando na desinformação e ausência de memória coletiva, subir no palanque palrando cinicamente defesa dos direitos humanos.
Mas a amarga realidade é que o PT é tão adepto da lógica da guerra do Estado a custa do devido processo e de políticas públicas (incluindo projeto de segurança efetiva) nas favelas quanto os perpetradores de mais este trágico capítulo da história do Brasil.
E, tal é a situação do Brasil, tanto quanto o ex-presidente Jair Bolsonaro com enorme responsabilidade pelo ocorrido no Rio recentemente por sua herança política, que se manifestava frequentemente em gestos simbólicos na mórbida tara por armas, não poupando sequer criancinhas de suas “brincadeiras” que apenas incitavam a sociedade e o próprio Estado a mais violência.
Vale recordar que certa vez, o então presidente Bolsonaro pegou nos braços uma menina de cerca de quatro anos de idade, induzindo publicamente e a gargalhadas uma das mãos da pequenina ao formato de um revólver, marca histórica de sua carreira política.
Tanto pregou — e praticou indiscriminadamente — violência desde tempos no Poder Legislativo com macabro destaque para a Presidência, e o que mudou para melhor no Brasil? Ao mesmo tempo em que a resposta é óbvia, a pergunta ainda é algo que certos segmentos da sociedade ainda não tiveram a imaginação de formular.
Ex-ditadores militares e seus filhotes teriam algo a dizer a este respeito? Pois que se ocupem agora, bem mais serviço prestariam ao País, de levar café e bolo de fubá a Bolsonaro nas dependências da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília.
Uma semana após o massacre, após relativo silêncio, Inácio da Silva qualificou a Operação Contenção nos complexos do Alemão de Penha do mês passado de “matança”, condenando o governo de Claudio de Castro (seu adversário político).
Porém, em 2007 durante discurso do anúncio de verba de R$ 1,6 bilhão para a reurbanização de favelas no Rio como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o mesmo personagem afirmou a fim de justificar violência policial nas favelas: “tem gente que acha que é possível enfrentar a bandidagem com pétalas de rosa ou jogando pó de arroz”.
Em junho daquele mesmo ano, tempos em que o governador do estado fluminense era Sérgio Cabral, seu aliado político, uma operação policial no mesmo Complexo do Alemao deixou 19 mortos. Recorde de assassinados pelo Estado em favelas do Rio que seria mantido por mais de uma década, a “operação” envolveu Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Federal, além de homens do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e da Força Nacional de Segurança Pública.
Cerca de 2.600 agentes participaram da ação, que também ficou conhecida como “Chacina do Pan”, em referência aos Jogos Pan-Americanos que aconteceriam na cidade no mesmo ano. Segundo a ONG de direitos humanos Anistia Internacional, perícias independentes realizadas posteriormente revelaram que várias dessas mortes tinham indícios de execuções extrajudiciais.
Em 4 de novembro deste ano, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), manifestou-se indignado em relação à Operação Contenção: “o Estado não pode ser um Estado matador. Não pode. Não é o Estado que tem que fazer isto. O Estado tem que mediar”.
Contudo, é a Polícia Militar de seu estado exatamente a mais letal de todo o Brasil em números absolutos, representando cerca de um quinto de todos os assassinatos cometidos por policiais em todo o Brasil.
Em 2024, a PM-BA matou 1.557 pessoas, número superior ao total de assassinatos cometidos pela polícia de todos os Estados Unidos, mesmo que a população baiana corresponda a apenas 5% dos EUA.Em 2023, ano em que Jerônimo Rodrigues assumiu o cargo de governador, a PM-BA matou 1.702 pessoas. Dentre as vítimas, 94,6% eram negras, 99,5% homens e 62% jovens entre 18 e 29 anos.
A atual deputada federal Benedita da Silva (PT) pelo Rio de Janeiro também deu as hipócritas caras para qualificar de “desastrosa” a mais recente operação mortífera em sua cidade. Porém, em 2002, ano em que a petista governou o Rio, houve o maior índice anual de assassinatos de policiais no estado,até então: 1.195 suspeitos de crimes mortos. Mais do dobro do que ocorrera um ano antes no governo de Anthony Garotinho, quando 772 civis acabaram mortos em confrontos.
Pois a comparação torna-se mais vergonhosa a Benedita da Silva, em relação ao próprio governador Castro, em cujo governo no ano de 2024, foram 699 civis mortos em confrontos com a PM. Quase a metade.
Isso tudo somado à sombria “resposta” e à sucessão de acontecimentos – e omissões – do Poder Público à megachacina de outubro deste ano no Rio apenas confirma a certeza de que o Brasil seguirá sendo o mesmo Estado terrorista desde que, pateticamente, virou esta pseudo-República.
O terror de Estado é, de todos os lados e contra classe social e etnias bastante claras, um projeto político no Brasil. Existe alguém que ainda tem alguma dúvida quanto a isto?
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