O que querem os jornalões?

Adilson Roberto Gonçalves

 

            A mídia clássica, que já foi rotulada de PIG (partido da imprensa golpista) por defender o golpe contra Dilma Rousseff, disfarçado de impeachment, também foi a que defendeu as ações do bandido ex-juiz e atual senador Sérgio Moro por seu conluio com Deltan Dallagnol para unicamente tirar Lula das eleições de 2018 em que seria fragorosamente vitorioso.

            De Dilma, comprovado agora que não houve nenhum crime que levou a seu afastamento, sequer uma notinha de rodapé foi redigida para dizer o quanto essa imprensa errou em sua avaliação à época. Isso porque não era erro, mas, sim, ação deliberada para tirar o PT do poder.

            Essa mesma mídia volta à carga agora, passado o susto que teve com Jair Bolsonaro na presidência do país, defendendo a candidatura do governador fluminense em São Paulo, Tarcísio de Freitas. O governador é considerado um bolsonarista que, pelo menos, come com garfo e faca. Mas os jornalões querem imputar a ele uma aura de democrata liberal que redimiria a todos da “corrupção petista” que assola o país. Fato é que, mesmo a economia e o emprego indo bem, a notícia é de caos no país, o presidente Lula só comete erros e que a equipe econômica não tem rumo, como se quase toda a política não dependesse do Congresso Nacional, o mais retrógrado e de péssima qualidade de todos os tempos.

            Assim são os jornalões, mesmo com a presença de ombudsman, no caso da Folha de S. Paulo, a qual, teoricamente, deveria defender o leitor frente ao jornal. Na mais recente avaliação de Alexandra Moraes, profissional que tem esse papel, cujo mandato foi prorrogado por mais um ano, quanto às apurações realizadas, está o declínio da qualidade jornalística. Um fator a mais para deteriorar a vergonhosa atuação da mídia brasileira. Gastar sola de sapato já não é medida de trabalho bem feito. Além disso, o outro lado deve ser sempre ouvido quando ele existe. Em questões científicas, por exemplo, durante a pandemia, os negacionistas reivindicavam que deviam ter sua “opinião” também publicada. É o risco do erro pelo excesso, abrindo espaço para fake news, que foi – e continua sendo – uma constante em várias reportagens, tanto as políticas de interesse próprio da PIG, quanto as genéricas.

 

Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp – Rio Claro-SP

 

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