Por Jolivaldo Freitas
Lula até hoje não se desculpou com os judeus sobre a comparação que fez da guerra que Israel enceta contra o Hamas com o holocausto, mesmo com o apelo que fizeram diplomatas brasileiros que viram em sua atitude boquirrota o Brasil perdendo influência na política externa. Mas, atendendo dessa vez à visão dos seus assessores políticos, que de besta nada têm, decidiu dar entrevista e dizer reconhecer a força dos adversários políticos depois da repercussão sobre o ato de Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista, no último domingo (25).
Lula falou para uma rede de TV que a manifestação pró-Bolsonaro teria sido “grande”. Mas por que a PT decidiu deixar o presidente assumir tal postura? Como se diz na Bahia quando a coisa ganha tal perfil e envolve mangangões, “ninguém é menino”. Trata-se de uma técnica de comunicação que tem dois lados. O primeiro demonstra a preocupação do Partido dos Trabalhadores com a força demonstrada pelos eleitores bolsonaristas que se despontaram ainda vivos. O segundo é que Lula está chamando a atenção dos seus partidários para a necessidade de atenção, observância e ação refratária.
O PT, em 2018, levou uma porrada por não ter dado a devida importância ao que estava na cara, nas ruas e nas redes sociais e viu Bolsonaro surgir como uma espécie de São Jorge para enfrentar e ganhar do dragão. O PT tinha deixado na mão e esquecido o que tinha de mais importante, que era a mobilização da sua militância. A militância estava em total letargia. O PT estava num limbo histórico com a questão da corrupção histórica. O que se vê agora com Lula saindo para “reconhecer” o peso da manifestação última, que os organizadores garantem que é em defesa da democracia, mas que analistas afiançam que foi apenas para apoiar Bolsonaro e tentar impedir que ele vá parar na cadeia como um dos responsáveis pelos atos do dia 8 de janeiro em que Brasília quase reduz a democracia a um espectro, é o peso da foto que mostra ainda um país cortado no meio.
Lula repetiu dessa vez o que ouviu da assessoria ou consultoria política e não saiu do script para querer negar a magnitude do movimento em São Paulo no domingo. Entretanto, chamou a atenção de que ali estava claro “um ato em defesa de um golpe” orquestrado e anulado. O presidente fez o papel que lhe era esperado.
O certo é que Lula procurou dessa vez fazer o dever de casa e, de forma sub-reptícia, chamar a atenção dos seus (deputados, senadores, prefeitos, governadores, vereadores) eleitores que lhes asseguraram os votos para a volta ao poder depois de um governo complicado feito por Bolsonaro. Para ficar na real, rememore, mesmo assim, Lula foi eleito dessa vez com 50,9% dos votos e Bolsonaro ficou com 49,10%.
Se Lula, o PT, o governo em si, não se comportarem direito, o risco é grande da oposição se reorganizar e dar um piparote na situação. A margem de votos na eleição foi pequena. E tudo revela que o país ainda está dividido. Por enquanto, a questão política parece um baba, uma pelada, um jogo de várzea. Mas ninguém se iluda."
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Escritor e jornalista. Autor do romance “A Peleja dos Zuavos contra Dom Pedro, os Gaúchos e o Satanás”; “Histórias da Bahia – Jeito Baiano” e “Baianidade”.
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