A ideologização sobre tudo o que se move na sociedade é uma espécie de patologia que expandiu-se com o MBL (Movimento Brasil Livre), em 2014, desenvolveu-se no lavajatismo e atingiu grau máximo com o bolsonarismo, em 2018.
Muito foi escrito sobre a permanência do lavajatismo e bolsonarismo mesmo após a desmoralização de seus líderes, como Dallagnol, Moro e Bolsonaro. Todos erraram, porque sem o apoio da imprensa reacionária, nada fica de pé por muito tempo.
Com a vinda do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ao Brasil, para a reunião de cúpula dos países da América do Sul, vimos, mais uma vez, como esses ‘adjetivismos’ são dependentes de uma boa imprensa parcial e financiada para produzir as narrativas de interesses dos EUA.
O Presidente Lula, como anfitrião, teve que tomar atitudes de acordo com cada convidado. Com Maduro, que se parece com aquele primo beberrão que vive aprontando, mas que é convidado por ser da família, Lula teve que normalizar sua presença, mesmo sabendo das críticas que receberia.
As análises simplistas feitas por jornalistas e palpiteiros da internet sobre a ditadura na Venezuela, não colocam na discussão o cidadão e cidadã venezuelanos, não aprofundam as questões como nacionalidade e pertencimento.
Os venezuelanos, nas análises dessa turma, são fugitivos de um regime ditatorial de um sanguinário, que abandonam suas vidas, sua pátria, seus sonhos, para viverem de maneira sub-humana em outros territórios.
Na verdade, existem venezuelanos saindo da Venezuela, como existiram cubanos indo para Miami. Porém, não é criando sanções e embargos comerciais contra o governo, que na prática se vira contra a população, que esse problema será resolvido. No Brasil, a aprovação do Marco Temporal foi uma derrota para o governo, como apregoa a imprensa, ou uma derrota para os indígenas?
Aos berros, reacionários de todos os naipes e escalões, fazem coro com o imperialismo que sustenta as narrativas que refletem na crise por qual passa o povo venezuelano e, agindo assim, são responsáveis indiretos por aquilo que denunciam.
O Presidente Lula, com toda a sua sensibilidade, percebeu isso e, diplomaticamente, de maneira cordial, do alto do exercício de seu mandato de chefe de Estado, afagou e acolheu Maduro em sua casa, tentando ‘humanizá-lo’ perante a opinião pública mundial, para que o povo venezuelano seja tratado com mais respeito e tenha a devida atenção daqueles que levaram seu país à condição que está hoje.
A América do Sul precisa se unir e tentar resolver diferenças de cunho ideológico, social e comercial, com total soberania interna dos países do continente. Desde sempre convivemos com a desvalorização de nossas moedas, com o abafamento da nossa cultura e andamos de cabeça baixa pelos corredores da ONU e fóruns internacionais.
Aos que olham a vida com viés ideológico, fica a lição de que existe limite entre uma nação e outra, que as diferenças precisam ser abordadas com respeito a essa regra, porque só assim é possível o diálogo, mesmo que seja com um ditador, para que haja solução positiva que coloque em primeiro plano as necessidades dos principais envolvidos, nesse caso, o povo venezuelano.
Ricardo Mezavila, cientista político
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter