Nota editorial - Artigo de Opinião: Na hora da banalização da política, acredito que todos têm direito à sua opinião, especialmente quando serve de motivo de troca de ideias
Lula e a Relativização da Moralidade
Presidente eleito apoia reeleição de ninguém menos que o bolsonarista Arthur Lira à presidência da Câmara dos Deputados
Indica José Múcio, antigo membro do partido da ditadura militar e bem ao gosto da alta cúpula militar hoje, ao Ministério da Defesa
E Nilson Leitão, ex-deputado federal da bancada ruralista, é cotado para assumir Ministério da Agricultura do próximo governo
Nem tomou posse e a politicagem mais baixa já iniciou. "Salvar a democracia" dos bolsonaristas na campanha, estava claro: marketing político
Banalização da política, e mais fogo sobre a perigosa lenha bolsonarista, movimento de extrema-direita cuja alma é a negação da política
Confirmando, uma vez mais, o senso geral de que campanhas políticas e a própria política são teatro do pior gosto, mercadão de privilégios
Antes mesmo de tomar posse o novo presidente da República eleito em outubro, Luiz Inácio Lula da Silva, trata de confirmar o que já se vinha alertando durante a fanfarrona campanha petista: um governo lulista muito pouco teria de popular por natureza, mas muito de oligarca.
Pelo caminho que seguia a campanha, que além da retórica incluía escolhas nada progressistas do então candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), estava claro a qualquer mentalidade que não fosse excessivamente ingênua nem alma refém de interesses político-partidários, onde desaguaria um terceiro mandato presidencial lulista.
Enquanto o próprio PT divide-se, desde a campanha presidencial e agora mais que nunca, diante das inglórias escolhas de seu líder, presidente da República eleito.
Luiz Inácio tem anunciado abertamente apoio a ninguém menos que o bolsonarista Arthur Lira (PP-AL) para que seja reeleito presidende da Câmara dos Deputados, eleita neste ano com maioria bolsonarista. A eleição para a presidência da Casa se dará no início de fevereiro.
Lira, aliado fiel do atual governo, engavetando dezenas de pedidos de impeachment contra Bolsonaro, trata-se de parlamentar outrora duramente criticado fora do círculo bolsonarista, e com razão: mas para os petistas, apenas no governo de Jair Bolsonaro (PL) - mas antes que o petista fosse eleito (!). O petista elegeu-se, e tudo mudou: discursos ainda que excessivamente acalorados já nao têm a ver, necessariamente, com prática. O poder, como um passe de mágica, muda tudo.
O parlamentar alagoano gerenciu na Câmara a distribuição do chamado Orçamento Secreto — dezenas de bilhões de reais em emendas parlamentares que desde 2020 foram destinadas por deputados e senadores a suas bases eleitorais em operações pouco transparentes que têm dado margem a possíveis desvios.
“Age como se fosse um imperador. Já quer tirar o poder do presidente para que o poder fique na Câmara. E acha que pode mandar [na República] administrando o orçamento,” esbravejou o petista sobre Lira em campanha maio passado, na capital paulista.
Em agosto, disse o petista em entrevista ao Jornal Nacional: "O Bolsonaro é refém do Congresso Nacional. O Bolsonaro sequer cuida do orçamento. O orçamento quem cuida é o [Arthur] Lira, ele que libera verba, o ministro liga para ele, não liga para o presidente da República. Isso nunca aconteceu desde a proclamação da República".
Com este personagem o novo presidente eleito propoe-se a negociar, já jogando por terra toda e qualquer possibilidade de investigação contra “a maior bandidagem feita em duzentos anos de República”, segundo outra definição de Lula sobre Lira em comício em Diadema (SP) em agosto.
Mas eis que o "gênio progressista" da politicagem tupiniquim mais baixa promete indicar para o Ministério da Defesa ele, José Múcio (PTB-PE): conhecido pelo bom trânsito nas Forças Armadas, durante os anos de 1966 a 1979 Múcio integrou a Arena, partido dos ditadores militares, pelo qual foi deputado a partir de de 1976.
Não apenas desvincular militares da política do Brasil tem sido clamor geral, como o pior neste caso: Múcio, escolhido a dedo por Luiz Inácio, é um dos preferidos dos militares bolsonaristas. Pois não deveria surpreender a ninguém tal gosto do petista pelos ditadores militares e seus filhotes: Luiz Inácio já apareceu em público, mais de uma vez, demonstrando apreço à ditadura militar.
Nem sequer assumiu a presidência da Republica, e Luiz Inácio não fica por aí em suas grandes tacadas oligárquicas: enquanto durante todo o governo de Jair Bolsonaro, especialmente na campanha presidencial os justos berros petistas centraram-se na preservação ambiental e proteção indigena, contra os grandes latifundiários e o agronegócio, agora que o petista foi eleito ninguém menos que o ex-deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT) é cotado para ser ministro da Agricultura de seu governo. Leitão é hoje presidente do IPA (Instituto Pensar Agro), que assessora a bancada ruralista no Congresso.
Na semana passada, o vice-presidente eleito na chapa de Luiz Inácio e coordenador do governo de transição, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB) recebeu o ex-parlamentar da bancada ruralista, próximo de Alckmin. Segundo aliados, o atual coordenador do novo governo diz ver no político mato-grossense uma forma de aproximar o PSDB e o agronegócio do futuro governo petista. Leitão foi líder do PSDB na Câmara e coordenou campanhas presidenciais de Alckmin em Mato Grosso.
Em campanha os petistas manifestavam cínica piedade aos povos indígenas (assassinato de índios aumentou 168% nos governos Lula e Dilma) e alguma preocupação quanto ao desmatamento especilmente à preservação da Amazônia, ambos vítimas do mesmo setor que Leitão representa.
O mesmo Alckmin – em passado não tão remoto inimigo peessedebista a ser combatido a todo custo pelos petistas que chegavam a ponto de acusar, histericamente, inclusive analistas críticos dos governos do PT de ser “aliados” e até mesmo “financiados por Alckmin” – em evento promovido por Esfera Brasil no Guarujá em São Paulo, no dia 26 de novembro, garantiu que o novo governo não vai desfazer “reformas” feitas nos recentes anos, isto é, nos inglórios (des)governos de Bolsonaro e Temer.
O petista vem uma vez mais dar razão, pateticamente em seu caso particular, ao dito do ex-deputado federal Delfim Netto, certa vez, retratando o caráter oportunista, maquiavélico de muitos na política: “O poder é que nem violino: toma-se com a esquerda, mas toca-se com a direita.”
Bolsonaro ainda é presidente e aí se observa Luiz Inácio desavergonhadamente abraçando aliados daquele, a fim de obter vantagens políticas no Parlamento em que o PT não conseguiu votos populares suficientes para exercer a influência desejada.
A aliança lulista-lirista é tão bizarra que pouquíssimo espaço tem obtido até no sítio sob tutela do PT, o Brasil 247. A esculhambação do apoio de Luiz Inácio ao deputado federal Lira começa no fato de que o petista eleito presidente da República em outubro, tomará posse em 1º de janeiro próximo: o Brasil tem um presidente por vez, portanto o petista não deve imiscuir-se na política nacional, exercendo influência antecipadamente sobre esta.
Pouco após a primeira vitória presidencial dos Estados Unidos em novembro de 2008, antes de tomar posse quando o presidente ainda era George W. Bush (filho), Barack Obama recusou-se sequer a responder determinada pergunta de jornalista americano, considerando que imiscuir-se-ia na poítica nacional de seu país apresentando a análise solicitada: "Os Estados Unidos têm um presidente por vez", respondeu Obama.
Valendo ressaltar, em meio a mais esta tragicomédia petista, que durante a campanha presidencial os petistas acusavam histericamente determinados comunicadores - este que escreve incluído - de ser "aliados de Bolsonaro", por criticar a campanha lulista.
Luiz Inácio tem muito que ser responsabilizado pela nova composição parlamentar, a mais oligarca da história recente do Brasil, desde a tal "redemocratização" em 1985. E de falta de aviso jornalístico por isso, não pode reclamar o petista.
O PT optou por campanha ambígua - isto, quando atingiu nível "muito bom" dentro de seus próprios padrões - com claras características neoliberais quando mais objetivo além do forte apelo ao confronto anti-bolsonarista. A escolha do vice petista trata-se de uma das maiores evidências da agenda neoliberal petista hoje. que já vem se desenhando antes mesmo da posse presidencial em janeiro
Ao invés de promover entre a sociedade debate progressista, apresentando objetivamente políticas sociais como saída ao País possibilitando encarar de frente o bolsonarismo que, conforme insistido por comunicadores como este, não seria derrotado através de mero revés eleitoral neste ano. Nem jamais serão, os bolsonaristas, extirpados desta maneira.
Mas o foco petista promovido por seu marketing político durante a corrida presidencial insistiu em ser, claramente, personalista, com forte apelo emocional com base em uma falsa "primavera democrática" em curso insistindo que o revés eleitoral derrotaria o bolsonarismo. Agregando a isso tudo, o acirramento do choque social "nós" contra "eles" apostando, desta maneira, na "lenha ilimitada sobre o fogo", isto é, a falsa polarização "em nome da democracia", insistindo na rejeição a Bolsonaro em detrimento de projetos políticos claros e sólidos.
Amarga ironia do destino (entre uma sociedade que, em enorme medida, carece historicamente de memória): "amounts to the same thing", ou "tudo a mesma coisa" nas práticas políticas como se vê agora, bem antes da posse presidencial. Afinal, do "nosso" lado sempre se justifica: somos "nós". Não é que o velho "ou se está ao nosso lado, ou está contra nós" tratava-se de mais um rotundo engodo, a fim de obter vantagem eleitoreira?
E nesta corrida desenfreadamente desavergonhada atrás do poder, como sempre o povo acaba pagando a impiedosa conta do ódio artificialmente gerado por cima, atraves de marketing político. Da violência que este produz, enquanto profissionais da política vivem em uma bolha blindados de críticas, do compromisso de seguir preceitos ideológicos, éticos e morais, apenas diante do aplauso da plateia geral.
O mesmo argumento que se utilizou para injusta e indiscriminadamente atacar "inimigos por ser amigos de meus inimigos", volta-se, na prática, contra si mesmo e sem ruborizar minimamente: a politicagem mais baixa.
Afinal, moralidade, princípios, coerência, válidos apenas à sociedade civil, e dela, valores rigorosamente cobrados: políticos e donos do poder em geral, isentos destes e de todo e qualquer valor. Esta é a declarada, institucionalizada ordem social brasileira.
Considerando o tipo de campanha aqui em questão, o líder petista, uma vez mais, pavimentou o caminho para que o bolsonarismo se afirme e retorne - a curto, médio ou longo prazo, isto o tempo dirá -, colaborando à ascencão de novos Bolsonaros em um futuro bem próximo. Exatamente o que ocorreu nas duas décadas anteriores, como fruto também das escolhas petistas.
Desta maneira, aqui temos o Parlamento para os próximos anos - escolhido pelo povo, é bom lembrar aos "reclamões" de plantão, especialmente a cúpula petista que tem abordado a nova composição do Parlamento como se se tratasse de algum fenômeno sobrenatural. Fruto, aqui de novo, das campanhas políticas, evidentemente. Imperando, na votação, a rejeição e não a escolha segundo preferências - inclusive para presidente da República, segundo pesquisas oficiais.
Campanhas valendo-se de forte apelo personalista, calor emocional e não de ponderação sobre ideais. O apoio velado, com precário aspecto social-democrata, à irracionalidade que toma conta do Brasil e apenas cresce.
O dia em que jornalistas (até antes de ontem, acusados injustamente de aliados do outrora demonizado adversário deste mesmo que agora os abraça fraternalmente) não puderem cobrar, sem ser patrulhados, postura ética e coerente de seus governantes nem a sociedade esperá-la de seus líderes políticos sem ser assediada moralmente (e estamos nestes dias), isto significa que já não há quase nada de democracia em um país.
O pior de tudo está aqui:
Enquanto é inimaginável uma aliança entre Joe Biden e líderes partidários de Donald Trump nos Estados Unidos, e coisa semelhante por toda a Europa, Japão até mesmo em países do Terceiro Mundo com um pouco mais de vergonha na cara que o velho Brasil, em terras tupiniquins tudo isso é considerado normal, até bom e necessário: anormal acaba sendo criticar. Desde que, é claro, parta do "nosso" governo.
Imaginemos, por um instante, que na Argentina onde os ex-ditadores militares foram julgados e rigidamente condenados pelos crimes de lesa humanidade, os atuais presidente e vice, Alberto Fernández e Cristina Kirchner respectivamente, aliem-se a politicos macristas. E inimaginável, nas circunstâncias que forem. Não o equivalente no Brasil - e pense-se que Mauricio Macri esteve a léguas imensuráveis de distância de Jair Bolsonaro, este para bem pior. Mas que importa isto agora, não é mesmo?
O PT, e Luiz Inácio pessoalmente, historicamente critica este mesmo tipo de "política" do "toma-lá-dá-cá" em que se presta um favor político, a fim de receber benefício político. Pior, quando isso envolvia supostos "inimigos históricos" neste picadeiro de democracia de péssimo gosto.
Devem-se lembrar Luiz Inácio e os petistas que, em uma democracia que eles dizem defender, há mesas e microfones em um Parlamento onde cada membro faz-se livre para expor ideias e projetos de lei; há debates, a mídia divulga tudo isso, a sociedade discute sempre livre para pressionar seus representantes a votar pelas melhores propostas ao País, não a um partido político (em tese, o que deveria ser incentivado por politicos realmente comprometidos com valores democráticos).
Se percebido que determinado(s) parlamentar(es) vota(m) ou bloqueia(m) projetos de lei por interesses político-partidários ao invés do interesse da cidadania, temos (?) democracia e todos os seus instrumentos e personagens com ela comprometidos... ou não a temos? Engodo? Lembrando que democracia não se resume ao mero exercício do voto a cada punhado de anos, longe disso.
Nos Estados Unidos, sempre há grande expectativa sobre as "eleições intermediárias" quando os americanos votam, na metade de cada mandato presidencual, pelos representantes no Congresso. Quem dominará a Casa, democratas ou republicanos, éa grande questão que se coloca a cada quatro anos no pais norte-americano.
Quando um dos lados sai vencedor, contrário ou favorável ao partido do presidente de turno em termos de número de representantes no Parlamento, o debate gira em torno de como amplificá-lo, fortalecendo as ideias de cada parte nos próximos anos a fim de que projetos propostos venham a ser aprovados de acordo com a nova composição parlamentar. O objetivo centra-se, dentro de ambos os partido, em setentar fortalecer seus projetos. Persuadindo o outro lado nos debates parlamentares, e a sociedade, de que se trata do melhor ao país.
Como convencer o outro lado que o que se proporá é o melhor para o país, colocando a sociedade nas discussões, promovendo entre ela o debate. Seguindo, dentro das limitações democráticas americanas cuja discussão não cabe aqui, uma linha politico-partidária minimamente coerente.
Este sistema faz parte do chamado "jogo democrático", não a jogatina politica tupiniquim de boteco.
Dentro de cujo processo democrático seria, aqui tambem, inimaginável que por exemplo o senador Bernie Sanders, considerando que Partido Democrático possui minoria na Casa, alie-se ao homólogo republicano Mitt Romney a fim de encontrar facilidades para que os democratas convençam os republicanos a votar por suas futuras propostas; seria igualmente risivel considerar o presidente democrata Joe Biden confraternizando-se com o senador republicano Marco Rubo da Flórida, apoiando sua liderança no Senado com o fim de estar bem quisto entre os legisladores, e desta maneira fazer com que sejam aprovadas com mais fluência suas propostas de governo.
Sabe-se bem, particularmente no Brasil, o que significam alianças poíticas e agora mais que nunca, indicando um fanático bolsonarista para presidir, por novo período, o Parlamento fortalecendo ainda mais o bolsonarismo que se dizia combater. Com tentativa cinicamente olímpica de se tentar justificar esta postura para a qual inexiste justificativa. Em que país estamos vivendo, que sistema estamos construindo? Em que sistema estamos nos apoiando, e apostando para exercer poder? A dura realidade está sempre escancarada, a quem quer vê-la.
Sempre e quando o PT e seu principal líder apostam no maléfico "toma-lá-dá-cá" em detrimento da afirmação através das ideias e de todo o natural processo democrático acima argumentado, nada mais que legitimam, já fazendo parte, este perpétuo sistema de boicotes a projetos políticos no Parlamento em nome de interesses político-partidãrios. A politica como mercadão de troca.
A mais eficiente denúncia e renúncia que deve ser feita a esta perversa estrutura, dar-se-ia opondo-se na prática a ela permitindo, assim, que o processo democrático, participativo a ser incentivado por partidos comprometidos, executasse seu trabalho. Berra-se contra isso tudo em campanha, aliando-se uma vez no poder, pavimentando o caminho para novos Bolsonaros, insista-se.
Assim é - ou deveria ser - o processo democrático de um País. A tentativa de se fazer valer pelas ideias, pelo bem comum tudo através do debate e do exercício da cidadania, a ser incentivado. Não o "toma-lá-dá-cá" dos interesses comprados e vendidos. Esta "cultura" política já deveria ter sido superada há muito. Moralidade, princípios, coerência tambem têm a ver com política. Ou deveriam ter.
No caso da votação presidencial parlamentar, o que o petista poderia fazer uma vez de posse devidamente tomada no caso de não querer maiores problemas com o Parlamento de maioiria opositora, seria manter-se neutro em relação a ela.
E deixar que os parlamentares se resolvam - já não seria muito digerível que, diante da possibilidade de um bolsonarista reeleger-se líder da Câmara dos Deputados, Luiz Inácio, que venceu as eleições com base no histérico apelo "salvacionista democrático" exatamente contra o bolsonarismo, se mantivesse neutro. Mas seria menos bizarro.
Ao optar pelo apoio aberto a um fanático e corrupto líder parlamentar bolsonarista como Lira, o novo presidente eleito também coopera em enorme medida para o seguimento da banalização da política no País, e para o descredito e a erosão dos partidos políticos.
E ao escolher Múcio para o Ministério da Defesa, ao invés de amparar-se em âncora democrática contra suposta ameaça de rebelião militar ou mesmo golpe de Estado contra seu futuro governo, Luiz Inácio, antes mesmo de tomar posse, aqui também opta pela saída anti-democrática.
O que se deveria fazer, aqui igualmente: fortalecer instituições democráticas - e com base neste discurso (precário de sua parte, como já observado), o candidato petista foi eleito. Nunca trazer maus elementos, o autoritarismo e o golpismo ao governo - em qualquer situação, aliás.
O novo presidente eleito (eis o festival da bizarrice petista), fez campanha baseada no clamor anti-militarista denunciando, diuturnamente a possibilidade de golpe militar propondo, como antídoto a tal ameaça, saídas democraticas a fim de angariar votos. Foi com base nisso que o petista venceu a eleição, "salvar a democracia" - agora, trazendo a linha-dura do círculo militar a seu governo. Isto tem um nome - na realidade tem vários nomes nada aprazíveis, mas um deles mais de acordo com este contexto, é: fraude eleitoral.
Além do mais Múcio, como futuro ministro, significa jogar por terra as (já remotíssimas) possibilidades de se julgar os ditadores militares pelos crimes de lesa humanidade (histórica retórica petista). Algo inimaginável em países vizinhos como Argentina, Chile e Uruguai, que julgaram e condenaram ex-ditadores sendo ainda inconcebível, naqueles países, que militares ocupem cargos políticos nos dias de hoje.
Tudo isso confirmando, uma vez mais, o senso geral de que campanhas políticas e a própria política brasileira são teatro do pior gosto.
O petista foi eleito para garantir a segurança das institucições democráticas, não de sua manutenção no poder aliando-se àqueles que acusava até antes de ontem, de colocá-las em risco (e realmente as colocam).
As ufanistas campanhas presidenciais, bolsonarista e principalmente petista, jogaram no esquecimento coletivo o fato de que há anos, desde 2013 governos, instituições democráticas e partidos políticos têm sido deslegitimados no Brasil.
O que Luiz Inácio vem fazendo contribui em grande medida com este cenário. Depois da ressaca desta primavera democrática falsamente retratada, alegando que "o neofascismo foi derrotado no Brasil através do revés eleitoral de Bolsonaro", quando a sociedade despertar da presente anestesia da consciência coletiva, esta amarga realidade se fará sentir de forma clara e contundente. Não tardara muito para que isso ocorra, pelo contrário.
Não apenas o movimento de extrema-direita no Brasil não foi derrotado em outubro deste ano como, através de mais esta banalização em série da política pelo PT, ele acaba sendo alimentado pois sua alma é o repúdio à vulgarização da política. Obviamente, com o desastroso equívoco de apontar como saída uma economia neoliberal e o poder autoritário, ou mesmo totalitário, ao invés de Estado de Bem-Estar Social com democracia participativa.
Deve-se começar, de uma vez por todas no Brasil, a chamar democracia o que ela relmente é ao invés de se conformar com essa fachada de mau gosto denominada "democracia representativa", arremedo mal arranjado por donos de poder de turno, e de sempre.
E como se tudo já não bastasse, o maior desserviço dos políticos brasileiros (o que eles mais sabem fazer) com o "toma-lá-dá-cá", é perpetuar entre a sociedade a ideia de que é normal a mesquinha troca de favores, e a corrupção.
É certamente "menos normal" que Luiz Inácio alie-se a bolsonaristas (embora esperado), do que determinados jornalistas publicarem críticas a campanhas políticas, convenhamos. Especialmente se tais críticas são coerentes dentro das carreiras dos comunicadores em questão, e com as cartilhas de ensino do Estado de direito que empoeiram nas prateleiras dos comitês dos partidos políticos brasileiros.
Mas no Brasil os papeis estão sempre invertidos. Por isso temos o que temos, e nunca saímos do lugar no final das contas. Política não é isso, ou nao deveríamos nos conformar que estejam fazendo dela este mercadão fechado dos privilégios e da manutenção do poder. Em uma democracia, os políticos são funcionários públicos - para o serviço social, evidentemente. Democracia só passou a existir um dia porque, na Grécia antiga, os gregos acreditaram e insistiram que poderia e deveria haver algo melhor que o prévio sistema aristocrático.
Quando estiveram "eles" no poder, os petistas nunca perdoaram essas suas mesmas práticas de hoje (e sempre).
No caso particular de Luiz Inácio, se na campanha tivesse formado no povo seu grande ponto de sustento hoje não se sentiria refém de fantasmas de Brasília, tão temeroso do que possa ocorrer contra si nos próximos quatro anos em que estará a Presidência. Há grandes exemplos, atuais e ao longo da história, do papel fundamental das sociedades na defesa de seus governantes contra a tirania, e a garantia da governabilidade. Este é o caminho da afirmação democratica, a qual requer compromisso e coragem.
O grande problema do PT, com destaque ao senhor Luiz Inácio, é que o tão propalado processo democrático vale quando o partido está na oposição. Quando no poder, a ordem é mantê-lo a qualquer custo.
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