"O empresariado já não quer mais Bolsonaro", observou Chomsky em recente conversa com este jornalista. Enquanto o PT perde a oportunidade mais propícia da história para se afirmar alternativa progressista no Brasil
Sequer a coloca em debate em defesa de seu principal projeto político: alcancar poder em mais uma trágica história, a volta do PT ao poder, que inevitavelmente se repetirá como farsa, nova ascensão do fascismo no País. Chega de ilusões
Não se necessitava testemunhar esta presente orgia política a que, previsível e novamente, o Partido dos Trabalhadores (PT) presta-se para ter ciência de que por este setor não há saída ao Brasil, como nunca houve.
No segundo semestre de 2017, enquanto Luiz Inácio buscava alianças até com o coronel alagoano Renan Calheiros a fim de aumentar popularidade, retornar ao cenário político e, ao mesmo tempo, safar-se da iminente prisão que já o ameaçava, em Pravda Brasil este autor alertava que o petista seria, em hipotético novo mandato presidencial, ainda mais neoliberal que nas duas anteriores vezes que ocupou a Presidência.
E, para escândalo das puritanas alas "progressistas" deste País, este jornalista afirmou que a besta neonazista Jair Bolsonaro era (e continua sendo) menos indecente com seu eleitorado, que Luiz Inácio com o seu.
Nestas vésperas eleitorais, enquanto o ex-presidente petista alia-se ao que existe de mais declaradamente neoliberal, elitista, reacionário e corrupto no Brasil mais achincalhado que Judas em Sábado de Aleluia, os mesmos que trouxeram o País a esta situação, alguns de seus porta-vozes chegaram a abusar da falta de capacidade analítica da sociedade (a qual, por sua vez, sempre acaba surpreendendo neste quesito) ao afirmar que "Lula é como Jesus Cristo: esquece erros dos 'antigos' [!] inimigos que o quiseram prejudicar, perdoa-os enquanto 'arrependidos' [!], e o faz unicamente pela causa 'anti-fascista', apenas pelo bem do Brasil e não pensando em si mesmo [o poder]". Chega de ilusões.
Difícil mesmo é definir quem é Jesus Cristo e quem é Judas, neste patético teatro que não se cansa de usar o povo como marionete (famosa "massa de manobra").
Luiz Inácio abraça hoje (novamente) nada menos que outro coronel, "velho companheiro": José Sarney, ex-presidente da Arena, partido da ditadura dos militares que ameaçam seguida e seriamente o paupérrimo resquício de democracia que existe no Brasil - contra os quais, quando parece que o cerco vai fechar de vez, o mesmo Luiz Inácio (líder progressista ou do caciquismo tupiniquim?) clama aos setores progressistas que "lutem". Chega de ilusões.
Na iminência de ser preso, em passado nada remoto Luiz Inácio apressava-se em suplicar que "toda a esquerda precisa se unir [em torno a mim] neste momento". Pré-candidato presidencial tendo ninguém menos que dom Geraldo Alckmin como "ilustre" vice, o maquiavélico discurso hoje é: "Não devo ser de esquerda, nem de direita, mas presidente". Chega de ilusões.
Maneira precariamente "democrática" de lavar as mãos ao melhor estilo Poncio Pliatos, e ainda se contradizer já traindo a a todos os ingenuos "companheiros" que, dando-lhe voto de confiança, engajaram-se nas lutas mais ferozes para livrá-lo das grades.
Subterfúgio com aspecto de "maturidade política" (no dizer predominante petista) para enviar a clara mensagem que não deve ser cobrado por políticas sociais e que nem se espere dele, uma vez presidente, nada além do afago às elites que lhe é peculiar.
Presidente, ele mesmo disse "nunca fui de esquerda"; em outra ocasião, gerando entusiásticas gargalhadas e aplausos de auditório da nova "companheirada", a elite paulistana nos idos de 2006, palrou que "quem chega a certa idade com ideias de esquerda, tem problema mental". Chega de ilusões.
Agora tal qual sempre, tudo sob a justificativa de "derrotar o fascismo no Brasil". Chega de ilusões.
Em 2017 não existia presidente Bolsonaro nem fascismo no poder e nas ruas, exalando seu profundo mal-cheiro em todos os rincões do Pais como agora. Tampouco existia anos antes, quando era presidente, por ocasião de seu fraternal abraco a figuras tétricas como Paulo Maluf, Collor de Mello e o supracitado José Sarney, entre tantas outras. Para mediano entendedor, tais recordações bastam e sobram. Chega de ilusões.
"Política é assim mesmo; sem isso tudo, o PT não poderia chegar ao poder": auto-reconhecimento mais claro, na mais gritante contramão das sugestões de Noam Chomsky (que para Luiz Inácio, pelo visto, apenas serviu para fazer "carnaval internacional" em 2018 enquanto esteve preso), de que o PT é um partido igualzinho a todos os outros deste sistema podre, nao poderia haver. E que a moribunda ala "progressista" deste judiado País, como um todo, não pode; que as ideias progressistas não são viáveis; que as políticas progressistas não são possíveis no Brasil.
Enquanto são altamente possíveis tanto quanto urgentes. Só se requer compromisso, e um nada heroico mas mínimo ato de coragem hoje em dia. Ao mesmo tempo que não é tarefa nada difícil, pelo contrário, a qualquer líder oposicionista vencer Bolsonaro diante do cenário atual. Mas o PT escolhe o acovardamento. O mesmo filme, de novo. Chega de ilusões.
Se não bastasse, o líder "mais progressista" do Brasil alia-se aos mesmos que não apenas lideraram o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, como também apoiaram ativamente a propria eleição presidencial de Bolsonaro - hoje em baixa popularidade inclusive com o alto empresariado, nacional e internacional.
Diante disso tudo, pode-se mesmo acreditar em mínima sinceridade na "luta contra a corrupção e o fascismo" por parte dos que Luiz Inácio, "ingenuamente" (?), abraça nestes tempos - exatamente os que trouxeram o Brasil a este desastre? Chega de ilusões.
Sobre o caso específico da ampla rejeição a Bolsonaro, perguntado por este jornalista em recente conversa particular se ao regime de Joe Biden interessa mais Bolsonaro ou Luiz Inácio, Chomsky foi categórico ao afirmar que "o empresariado já nao quer mais Bolsonaro". Por todas as traquinagens políticas e econômicas que tem causado o atual mandatário brasileiro.
O mesmo legendário sociólogo e linguista americano observou em seu tour pelo Brasil em 2018, em companhia de sua esposa, a tambem linguista carioca Valéria Chomsky, que o PT deveria fazer mea culpa em relação aos mandatos precidenciais.
“Eles tiveram tremendas oportunidades. Algumas foram usadas em benefício da população, outras foram perdidas. É preciso perguntar por que isso ocorreu, e fazer isso publicamente. E realizar reformas internas que impeçam que aconteça outra vez”, pontuou então Chomsky.
E acrescentou: "Se o PT reconquistar o poder político – ou mesmo se não chegar lá, de uma forma ou de outra -, uma grande tarefa que deve enfrentar é de estabelecer uma espécie de comissão da verdade para olhar com honestidade para o que ocorreu. Olhar com franqueza para as oportunidades que perderam. Isso teria um grande significado".
Nada envolvendo mais essa indecência politiqueira petista pode, sequer, ser classificada de infantilidade democrática. Se se deseja encontrar uma saída ao Brasil, há que ser minimamente realista, suficientemente dotado de brios que faltam historicamente ao PT, e chamar tudo isso por seu verdadeiro nome.
Por sinal, os mesmos nomes que o PT sempre utiliza para aplicar a seus oponentes políticos - muitos, os mesmos abraçados por seu mais ilustre líder hoje - quando atuam da mesma maneira que o PT hoje e sempre, ou mesmo em situações ainda menos serias que estas.
Inclusive setores e atores progressistas, defendendo ideias progressistas, costumam ser invariavelmente "nomeados" pelo PT, covardemente quando este está no poder ou na iminência de alcançá-lo, como agora. A história sempre foi assim, continua sendo assim, foi previsto que seria assim, e continuará sendo assim. Chega de ilusões.
Trata-se, de Luiz Inácio e seu PT, da mais pura excrecência da politicagem nacional, que marca este País. Do que Bolsonaro é subproduto. E que vai gerar novos bolsonaros apos isto que os petistas qualificam de "derrota do fascismo no Brasil. Chega de ilusões em nome do poder pelo poder no Brasil.
Que as proximas eleicoes vao derrotar o bolsonarismo e o fascismo no Brasil, e mais uma ilusao vendida pelo PT. Tudo isso apenas adia - e potenxializa - mais uma tragedia. O senhor Luiz Inacio esta, uma vez mais, apenas pavimentando o caminho para isso em nome de sua sede por personalismo, e poder a qualquer custo, com o menor esforço (e conquista de inimizades politicas como natural consequencia) possivel.
O que derrotaria esse mal seria enfrentá-lo de verdade, com metodos progressistas. E nunca houve na história do Brasil momento mais propício para isso, que este.
O tal Jesus Cristo contemporâneo da mais baixa politicagem tupiniquim, mais próximo a beato de boteco volta as costas (de novo) aos que realmente lutaram por um Brasil progressista, hoje sofrendo duras consequências desta inglória briga.
Abracando os mesmos que têm feito de tudo para anular os setores progressistas, e contra quem os verdadeiros progressistas têm combatido, Luiz Inácio esta virando as costas (de novo) para que, de uma vez, o País enfrente seus reais problemas em nome de, na prática e sejamos realistas de uma vez, chegar-se ao poder pelo poder. Chega de ilusões.
Tanto quanto um futuro governo petista tem tudo para ser, do ponto de vista econômico, o mais neoliberal dentre os "progressistas" da história do Brasil, politicamente será, de novo e ainda mais acentuadamente que em seus dois anteriores mandatos, um "cala boca" com aspecto democrático.
Ja se vê os profundos, fortuitos ataques a toda e qualquer crítica, mesmo análises sóbrias do cenário nacional que passe por questionar as alianças de Luiz Inácio, ou mesmo que não o tenham como centro do universo político tupiniquim.
Se em 2011 o renomado economista progressista Paulo Kliass publicava artigo sob o título "Não ao Patrulhamento e ao Medo da Crítica", direcionado ao PT - Dilma/Lula, uma vez este vença as próximas eleições, os títulos dos artigos progressistas a partir de então tenderão a ser ainda mais dramáticos que os daquela época - e censurados com ares de progressismo, calando toda e qualquer voz realmente progressista. Afinal, "eles" estão no poder.
Quem não se lembra quando, em 2014 às vésperas da mal-fadada Copa do Mundo de péssima memória (sob todos os aspectos, como também era de se prever e se previu amplamente), o outrora considerado pelos petistas "companheiro" Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto na cidade de São Paulo (cujo prefeito era Fernando Haddad do PT) protestava contra inúmeros despejos em nome do "grande evento", tendo sido acusados pelo "intelectual" militante petista Emir Sader de nada menos que cães vira-latas?
Quando não serve mais ao PT, assim é; quando passa a servir, mesmo os Alckmins, Temers, Aloyisos Nunes, Malufs, Collors são "companheiros". Nenhuma novidade. Coforme observado por este autor em 2017, não é nada difícil que algum dia Luiz Inácio se disponha a abraçar politicamente Bolsonaro; o inverso, é impossível.
Se sob Bolsonaro os progressistas somos tachados exatamente daquilo que somos, "progressistas", "socialistas" e outros termos que passem por essas verdades; sob novo governo do PT, voltaremos a ser rotulados de "extrema-direita".
Ja não poderemos mais ser acusados de aliados a Geraldo Alckmin, como nos anos que se estenderam de 2003 a 2016, pois o "gênio político" Luiz Inacio já se antecipou e deverá, sagazmente, trocar o discurso covarde em face do "novo companheiro": não se tenha a menor dúvida de que passaremos a ser acusados de aliados a Bolsonaro, em todo este farsesco cenário que se avizinha.
Na menos grave das previsões, seremos acusados novamente de aliados do PSDB (até antes de ontem o partido de Alckmin, hoje partido do mesmo Aloyiso Nunes, agora aliando-se ao PT diante do entusiasmo lulista).
Falar de políticas progressistas sob um novo mandato de Luiz Inácio voltara a ser palavrão, será mais proibido que nunca; afinal, o dito-cujo terá heroicamente "vencido o fascismo no Brasil". A história se repete como tragédia, depois como farsa dizia Karl Marx. Estaremos, todos, reféns (de novo) dos que nos trouxeram a esta situacao devido a sede petista pelo poder.
O bolsonarismo e o fascismo não deixarão de existir como uma possível perda eleitoral neste ano, como já apontado. E terão de ser confrontados, em algum momento. Isso é ou deveria ser inevitável. O momento é esse. Mas nao será.
Prenuncia-se de novos bolsonaros a surgir em breve, como subproduto exatamente de Luiz Inácio. E Bolsonaro acaba sendo hoje, por (ir)responsabilidade de Luiz Inácio, uma tragédia necessária para a revolução social, política e cultural, únicas capazes de salvar o Brasil, mexendo em suas estruturas.
Com Bolsonaro, o debate progressista está sempre "quente", faz-se aceitável por todos os progressistas, une-os e incita insurreições. Não com Luiz Inácio presidente, o "cala boca" com pobre aspecto democrático em nome da manutenção do poder. Tal é a tragédia brasileira hoje. E repita-se, insista-se: repetir-se-á como farsa.
Com Luiz Inácio e seu PT, que mais uma vez perdem grande chance de tão-somente colocar em debate tal tema, nem a longuíssimo prazo isso será possivel alcançar-se. Chega de ilusões. Ai está a nua e crua realidade, uma vez mais
O tal "trabalho das formiguinhas" alegado pelos petistas em meio a tudo isso, trata-se de mais uma falácia já vivida no passado. Quem viver, verá - de novo. Eles insistem em teimar até com a própria história recente. Infantilidade democrática? Não! Cafajestagem politiqueira, isto sim.
A única coisa que não é ilusão neste momento trágico da história brasileira, é que a única saida e a afirmação incondicional de políticas progressistas. O que implica dizer, outrossim, afastar da política presidencial todos aqueles corruptos e reacionários, discriminadores e retrógrados que nos trouxeram a este atraso imensurável.
O PT nos leva de volta a um círculo vicioso dentro do qual ele mesmo virá a cair novamente. Arquitetando sua própria armadilha. Hoje os militares podem muito bem aplicar um outro golpe, o que se deve em enorme medida a este círculo nefasto ao qual o PT nos meteu. Sem previsão nenhuma de aprimoramento.
Quando se torna normal formar alianças políticas com bandidos corruptos, discriminadores e reacionários retrógados, isto significa que um país já está falido.
Chega de ilusões
Edu Montesanti
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