Uma loucura o que está ocorrendo em Salvador, velha capital do Brasil e da Bahia, com a explosão da violência entre gangues. Coisa que só se tinha ciência na Nova Iorque do século 19 e dos subúrbios mexicanos neste século atual. A cidade vivendo nos últimos dias cenários de batalha campal entre as gangues de traficantes que está deixando a população de vários bairros vulnerável por demais. Quem mora nas regiões afetadas jamais vai se acostumar, como os moradores das comunidades do Rio de Janeiro jamais se acostumarão. É uma juventude que está cada vez perdida.
Jolivaldo Freitas
Estive na Chapada Diamantina, recentemente, e ouvi queixas dos moradores do distrito de Cascavel, num recôndito de Ibicoara, que estão assustados com a ação das gangues. A droga chegou também para valer lá e em outros cantos da Chapada Diamantina. Já Salvador está loteada por grupos conhecidos. O Bonde do Maluco está presente em Brotas, Campinas de Brotas, Federação, Engenho Velho da Federação, Garcia, Suburbana e Cajazeiras. Valéria vive a guerra entre a Katiara e o Bonde do Maluco.
O Comando da Paz que se juntou ao Comando Vermelho domina o Nordeste de Amaralina, Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Chapada do Rio Vermelho e tenta invadir áreas do PCC e Katiara na Federação e Ondina. O subúrbio foi fatiado entre as facções e em Plataforma e Coutos a luta por território ocorre toda semana.
Interessante é que a participação de grupos diversos no sistema de tráfico em Salvador ganhou força a partir do final dos anos 1990. Até este período o tráfico de drogas em Salvador tinha um endereço certo. Quem organizava e controlava era Raimundo de Souza, conhecido como Ravengar. O centro de comercialização era o Morro do Águia, na Fazenda Grande do Retiro e de lá Ravengar administrava 15 pontos na capital.
Sua prisão deu fim ao monopólio e abriu espaço para o surgimento de diversos grupos, que hoje se matam continuamente, isso sem falar dos grupos que têm menos força como o do Perna e o Atitude ou Mercado do Povo que pouco se ouve falar. Claro que drogas sempre existiram. Mas até o final dos anos 1960 a senhora e o senhor só veriam drogados amiúde se fosse nos bregas, no Porto da Barra ou lá em Arembepe na aldeia hippie. Tudo escondido da polícia e o pai não podia sequer desconfiar. Menino que fumasse cigarro levava tapa na boca. Se fosse o do Satanás o vizinho dedurava.
Mas o Brasil está sitiado. Perdemos playboy. São muitas as facções na briga para atender à demanda de viciados que também é cada vez mais crescente. O PCC (Primeiro Comando da Capital) atua em 23 estados. O CV (Comando Vermelho) está forte em 7 estados. A Família Monstro em 2. A Okaida também em 2. A FDN (Família do Norte) em 1. Isso sem falar nos novatos e nas gangues que atuam de forma autônoma nos 5.568 municípios brasileiros. Está difícil sobreviver ao caos.
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Escritor e jornalista. Email: [email protected]
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