Questão de sobrevivência: fora, Bolsonaro!
Adilson Roberto Gonçalves
O golpe contra Dilma Rousseff em 2016 resultou na situação catastrófica do desgoverno com viés fascista de Bolsonaro. Não adianta agora a imprensa pregar o dever, mesmo sem o devir, do impeachment, ignorando sofismamente esses fatos. Curioso que em relação aos crimes de Donald Trump nos EUA, articulistas dos jornalões usam tranquila e corretamente a palavra golpe. Todos esses articulistas neoliberais não querem assumir a serpente que criaram, como se Bolsonaro tivesse sido plasmado por si só.
Nessa toada, é inacreditável que o Estadão ainda trate os governos do PT com a mesma falácia que levou Bolsonaro ao poder, ignorando tudo o que se revelou na Vaza Jato e nas armações de Sérgio Moro. Em outros editoriais, o jornal tem destrinchado com primor o desgoverno atual, revelando todos os crimes cometidos pelo presidente, levando Tunéscio, seu defensor-mor, à beira da loucura. Mas, agora, muda o tom e até defende que se deva salvar o Brasil do comunismo, como se em algum momento da História a implementação de tal regime tivesse sido possível!
Tanto a imprensa como empresários e parte da sociedade caíram no conto da esperança por uma política econômica melhor, inexistente desde o início de 2019. A "ilusão de Tunéscio" nos levará a um estado de sítio, a um auto-golpe ou simplesmente à destruição do Estado Democrático de Direito. Acordemos, pois!
As dezenas de crimes de responsabilidade de Bolsonaro são, portanto, explícitas, e implícitos são os crimes do Parlamento, pela conivência em não abrir nenhum dos processos de impeachment. Não se pode deixar de lado o papel do presidente da Câmara dos Deputados com os crimes praticados por Jair Bolsonaro, uma vez que não levou adiante os mais de 50 pedidos de abertura de processo de impeachment. Agora, no apagar das luzes de sua presidência, malograda a hipótese inconstitucional de recondução ao cargo, Rodrigo Maia quer fincar posição pensando nas eleições futuras e não na população que precisa urgentemente de um novo ocupante do Palácio do Planalto. Vamos ver até que ponto Baleia Rossi tem força, apoio e compromisso para, se for um dos comandantes do Parlamento, desengavetar tudo o que seu antecessor deixar de herança.
A conta do impeachment é uma matemática na qual os interesses da população não entram. Fossem menos acovardados, os parlamentares teriam aberto vários processos de impeachment. E não é somente Rodrigo Maia o culpado, pois os demais não acionaram os mecanismos internos da Câmara dos Deputados para forçar esse presidente a tomar decisões. Temer chegou ao fundo do poço em popularidade e não foi cassado. O genocida Bolsonaro também se mantém, com tendência iminente para um auto-golpe. A solução é continuar a pressionar, questão de sobrevivência.
A sordidez do Parlamento é enorme. Não estranha, no entanto, Arthur Lira ser o candidato de Jair Bolsonaro. Tão logo a oposição fechou o apoio a Baleia Rossi (já chamado de "Balela" Rossi), o presidente usou de sua técnica diversionista para interromper a reforma ministerial e lançou impropérios contra a economia do País. Ou seja, mesmo com sua falta de escrúpulos em se apoiar em criminosos - por ser um deles -, sabe que perderá mais uma vez. Se não for urgentemente removido da Presidência, continuaremos a perder todos nós!
A incompetência do capitão é, agora, reconhecida até por ele, mas como ação golpista à la Jânio Quadros. Ficou quase 30 anos mamando das benesses como deputado sem nada fazer e achava que era só manter o status de presidente que o Brasil se resolveria. A alucinação se expande para as afirmações presidenciais desdizendo o que acabou de dizer: não ter ofendido a China, não ter indicado remédios que não possuem eficácia contra a covid-19, não ter chamado a doença de gripezinha e por aí vai. Lendo a biografia do autor do livro 1984, recebi um slogan a ser defendido: queremos que George Orwell volte a ser ficção! Assim, à pergunta 'Bolsonaro é louco?' não haverá resposta precisa enquanto o diagnóstico médico não for feito. Porém, criminoso, com certeza, ele é e já era muito antes de ser candidato a presidente. Os remédios democráticos e jurídicos não funcionaram com ele quando planejou explodir o sistema Guandu de abastecimento de água no Rio de Janeiro, quando fez apologia à tortura e à ditadura militar, quando fez disparos em massa de fake news para vencer em 2018 e quando implementou sua familícia no poder. Impedido de continuar na presidência, os médicos que então decidam pela camisa de força ou cela de prisão.
As pessoas que verdadeiramente pensam e praticam o bem do País e de sua população concordam totalmente com os pedidos de impeachment. Juntando à conivência política e aos Tunéscios bolsonaristas, o Parlamento não seguirá com os pedidos de impeachment caso não seja pressionado pelas ruas, ainda mais com a possibilidade de Arthur Lira comandar a Câmara dos Deputados. A pandemia nos impede de protestar, ceifando milhares de vidas, mas não dá para esperar a imunização total para defender a democracia.
Mas, talvez agora, o impeachment do criminoso que ocupa o Palácio do Planalto vá adiante, em função da movimentação e da indignação de líderes religiosos e de parte da bancada da Bíblia no Congresso. O receio é trocar um falso milagre por uma indulgência comprada, mas torçamos para que a ação prospere. Não sei como ficará o senhor Tunéscio, o representante bolsonarista que tinha fé cega em seu Messias, ao ver que aqueles que lhe indicaram o voto pelo WhatsApp dois anos atrás são os mesmos que agora tiveram uma epifania de clareza política.
Por fim, para que 'fora, Bolsonaro'? A resposta é simples: para mostrar um mínimo de coragem e decência dos outros poderes da República. Bolsonaro é um criminoso muito antes de ser presidente. Nunca deveria ter sido candidato e, o sendo, a chapa deveria já ter sido cassada pelo TSE pelo disparo em massa de mensagens falsas para ganhar votos. Saia e deixe que nos preocupemos com o desgoverno de Hamilton Mourão e em retirá-lo, se praticar crimes. Pelo menos seria amargura em página nova. Mas, antes de tudo, FORA, BOLSONARO JÁ!
Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia de Letras de Lorena, da Academia Campineira de Letras e Artes e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas
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