Saúde indígena na UTI, descaso e mortes no Acre
Foto: Rosenilda (Rose) Padilha
Somente nos primeiros oito meses deste ano de 2019 foram registradas mortes de 20 crianças indígenas somente na terra indígenas Alto Purus, na região de Santa Rosa do Purus, no estado do Acre. Se isso já é de uma gravidade indizível, imaginem que estes números são ainda subnotificados porque grande parte das vítimas se quer chegam à sede do município onde deveriam ser assistidos pela Secretaria Especial de Saúde Indígena - SESAI. Esses dados, portanto, referem-se apenas aos casos que foram levados a conhecimento público e de alguma autoridade de saúde.
Esses dados, digamos 'oficiais", (já que até os dados oficiais são subnotificados), apurados pelo Conselho Indigenista Missionário, em levantamento coordenado por Rosenilda Nunes Padilha, dão conta de serem até final de julho deste ano: 20 crianças (entre 01 mês e 11 anos), sendo 09 meninas, 11 meninos. 01 Jaminawa, 17 Madija e 02 Huni Kui.
Omitimos aqui os nomes das vítimas para preservar a memória e para evitar a exposição neste primeiro momento. Entretanto, a relação bem como um relatório mais completo serão encaminhados ao Ministério Público para que possam ser tomadas as medidas que o próprio MPF julgar necessário.
Constatou-se ainda que desta vez ocorreram também casos de mortes por diarreia em pessoas adultas, aumentando ainda mais a preocupação por causa da agressividade das diarreias. Lamentamos ainda a constatação de casos de suicídios entre os Madija que segue sem que as autoridades tenham conseguido adotar medidas efetivas na prevenção deste mal que tem assolado o povo Madija em especial.
No ano de 2012, só nos primeiros meses o CIMI apurou e denunciou a morte de 24 crianças indígenas nesta mesma região, o que escancarou o descaso com a saúde indígena no Acre, a precária e até criminosa situação de desassistência àquelas comunidades. Em 2014, o povo Huni Kui denunciou mais uma vez, a morte de quase uma dezena de crianças também com diarreia e vômito conforme denunciamos aqui.
Já se passaram 08 anos e nada foi feito, ou quase nada. Por isso, tão logo informado deste novo surto, o CIMI, na pessoa da antropóloga Rosenilda nunes Padilha, se dirigiu o mais rápido possível às aldeias daquela região e durante os dias 11 a 17 deste mês de outubro, infelizmente confirmou as mortes anunciadas e pior, constatou que o caso era ainda mais grave. Além de serem subnotificados os casos, a grande maioria dos pacientes estava sendo levada para o município de Monoel Urbano. A explicação para que as vítimas (pacientes) fossem levadas para outro município que não o de Santa Rosa, era a de que em Santa Rosa não se estava resolvendo nada.
Na tentativa desesperada de salvar vidas e evitar que a tragédia seja ainda maior, o CIMI está organizando para os próximos dias uma nova missão na região, desta vez partindo de Manoel Urbano e subindo o Rio Purus até a cidade de Santa Rosa, passando por todas as aldeias Huni kui, Madija e Jaminawa.
Esperamos que as autoridades tomem medidas emergenciais para que cesses as mortes imediatamente e que haja um planejamento de longo prazo que seja efetivo. Não podemos admitir que enquanto dezenas de crianças indígenas tem suas vidas ceifadas por algo já superado há anos, como diarreias e vômitos, a Secretária Nacional da SESAI se contente em postar vídeos em suas redes sociais apenas para defender o governo Bolsonaro.
Fonte: Blog do Lindomar Padilha
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