Nenhuma Posição de Washington sobre Situação no Brasil?

Embaixada dos EUA em Brasília: Nenhuma Posição de Washington sobre Situação no Brasil?

Silêncio norte-americano não é surpreendente, porém mais um fato sintomático entre tantos. Lilian Ayalde, atual embaixadora dos EUA em Brasília, exercia mesma função no Paraguai em 2011 quando golpe parlamentar de extrema-direita, muito semelhante ao que ocorre no Brasil, depôs o então presidente progressista Fernando Lugo que, a exemplo do PT hoje, optava pela integração latino-americana

Senhorita Lilian Ayalde: 

Conforme seu próprio governo historicamente reconhece (e nem se precisaria disto), o gigante sul-americano desempenha papel crucial não apenas para a economia dos Estados Unidos, mas também para o próprio futuro da região: "Para onde o Brasil for, o resto da América Latina irá", disse em 1971 o presidente Richard Nixon, dos políticos baixos da história de seu país, quem renunciaria ao cargo dois anos mais tarde a fim de não ser impedido por escândalos envolvendo corrupção e espionagem.

Tal raciocínio tem sido parte fundamental da política externa estadunidense, além do propalado interesse dos senhores, integrantes do regime de Washington, em democracias e direitos humanos alheios que serve como pretexto para levá-los às mais absurdas ingerências em todo o mundo - inclusive na América Latina, desde o século XIX sabotada, boicotada, invadida,vítima de golpes e genocídios pelos Estados Unidos, em nome dessa suposta democracia que os senhores mesmos não vivem.

Por que o silêncio de Washington e da instituição que a senhorita chefia, qualificada de Missão Diplomática, diante da atual situação vivida no Brasil? O que os senhores têm a dizer agora, como supostos paladinos da democracia, da justiça e da liberdade? Nada?

Pois é no mínimo muito curioso, srta. Lilian Ayalde, que nem o presidente norte-americano, Barack Obama, nem a senhorita, suposta diplomata, manifestem-se sobre o que ocorre no Brasil dado que inclusive a Unsasul reconhece e condena o golpe em curso, e os grandes meios de comunicação internacionais (dentre eles The New York TimesThe Los Angeles TimesCNN etc) publicam dia a dia, assombrados, o atentado ao Estado de direito por parte da classe política e da mídia de direita brasileiras. 

Segundo esses meios (da América ao Extremo Oriente) e de acordo com todas as evidências, sobretudo jurídicas, há excesso de hipocrisia e de distorções jurídicas por parte de parlamentares corruptos envolvidos em lavagem de dinheiro, recebimento de propinas milionárias (dos 594 membros do Congresso, 318 estão sob investigação ou acusados), e por parte de uma mídia local gritantemente partidária contra a presidente Dilma Rousseff sem nenhum envolvimento na investigação chamada de Operação Lava Jato, nem investigada em nenhum outro caso de corrupção, a não ser atraso de pagamentos ("pedaladas fiscais", práticas comuns na Presidência da República desde 2000 e em todas as esferas políticas brasileiras que, segundo a Constituição, não motivam impedimento).

Um dos mais pateticamente célebres deputados que votaram pelo "sim" ao impedimento da presidente do Brasil foi Paulo Maluf, integrante da lista vermelha da Interpol por conspiração. Enquanto isso, o New York Times informa que o vice-presidente Michel Temer, que assumiria o posto da presidente em caso de impedimento, está "sob alegações de envolvimento em um esquema de compra ilegal de etanol".

Já o deputado Jair Bolsonaro, quem também optou pelo "sim", na própria votação elogiou explicitamente a ditadura militar e homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe de tortura da ditadura (notavelmente responsável pela tortura de Dilma). Filho do milicoBolsonaro, Eduardo, também na casa, afirmou que estava dedicando seu voto pelo impedimento "aos militares de '64": aqueles que executaram o golpe e impuseram o poder militar (como hoje, promovido pela mídia predominante e pelas classes dominantes sob fajuto argumento da defesa da família, da religião e do patriotismo contra os "perigos do comunismo e da perversão").

Tais fatos, entre inúmeras outras afrontas ao Estado de direito, não são suficientes para deslegitimar ou ao menos questionar o que ocorre contra uma chefe de Estado democraticamente eleita? Onde está agora a nação norte-americana que se proclama a guardiã da democracia global, que afirma aos quatro ventos, "sem nós, o mundo não pode fazer nada", valendo sanções, sabotagens, golpes, invasões a quem discordar disto?

Não lhe parece se tratar de profunda contradição do regime de Washington diante do cenário atual brasileiro, dada a "insistência por liberdade" norte-americana em alguns países (Equador, Honduras, Bolívia, Argentina) e defesa "furiosa por democracia" em outros tantos (Venezuela, Cuba, Síria, Líbia, Iraque, Afeganistão)?

Conspiração made in USA em 7 pontos

Tão curioso quanto isso tudo são alguns fatos que devem ser colocados em contexto, e tudo fica bastante claro para quem ainda tem alguma dúvida. Abaixo, tais sintomáticos fatos que, conjuntamente, formam surpreendente (?) "coincidência":

1. Era exatamente a senhorita, Lilian Ayalde, a "diplomata" no Paraguai em junho de 2011 quando o presidente Fernando Lugo sofreu golpe parlamentar muito semelhante ao que a presidente Dilma vem sofrendo agora. Lugo aumentava investimentos em políticas sociais e, a exemplo do PT no Brasil, do PSUV de Chávez-Maduro na Venezuela, do MAS de Morales na Bolívia, do Alianza País de Correa no Equador e do peronismo de Cristina na Argentina, seguia o caminho da integração regional.

E não apenas sofreu golpe sob o mais absoluto silêncio por parte da senhorita e de seu regime em Washington: em 21 de março a senhorita havia recebido em sua residência, tão cheia de preocupação cidadã, blogueiros paraguaios a fim de "conversar" sobre paradigmas e diretrizes para aqueles setores societários que já estavam desempenhando importante papel na sociedade local. 

Naquela ocasião, em 25 de março eu mesmo havia publicado em sua página no Fez-Se Buque esta nota: "Creo que la embajadora debería reunirse con los blogueros paraguayos para explicar, a lo mejor disculparse por la injerencia en el país, recién expuesta por WikiLeaks". Logo em seguida, publiquei Carta Aberta em seu perfil e nos perfis de blogueiros e dos mais diversos cidadãos paraguaios a fim de alertá-los do que estava por trás daquele "gentil" encontro (*).

Menos de três meses depois daquele encontro, sobreveio ao povo paraguaio a facada pelas costas: o golpe contra o então presidente Lugo. Sem que, então, nem Washington nem a senhorita mesma demonstrasse nenhuma preocupação cidadã. Todo aquele circo armado no Congresso paraguaio acabou passando completamente desapercebido pela senhorita. Por quê?

2. A "Embaixada" que a senhorita hoje chefia, é histórico ponto de encontro com setores opositores ao atual governo federal (PMDB, DEM e especialmente PSDB) a fim de discutir: financiamento de campanha; possibilidades de vitória eleitoral do PSDB declarando que seus candidatos são os preferidos de Washington; políticas que, uma vez estando o PSDB no poder, favoreçam aos interesses de Washington (especialmente envolvendo o petróleo da camada pré-sal brasileira); medidas que minem movimentos sociais como o dos Sem-Terra (apoiado pelo PT).

Tudo isso segundo telegramas secretos emitidos daí mesmo da "Embaixada" a Washington, interceptados e revelados por WikiLeaks.

Pois é este o papel de alguma Missão Diplomática, em algum lugar do planeta? Em que mundo estamos? E se, por exemplo, as embaixadas venezuelana, boliviana, brasileira agissem da mesma maneira em seu país, srta. Lilian Ayalde, que ocorreria conosco, qual seria o destino da presidente Dilma Rousseff, de outros presidentes que estivessem envolvidos nessa baixeza criminosa, e de seus delegados internacionais?

3. No dia seguinte à votação parlamentar pelo impedimento da presidente Dilma, o líder do PSDB (SP) no Senado, sr. Aloysio Nunes Ferreira, viajou às escondidas a Washington. 

De 18 a 20 de abril, o senador paulista também envolvido em denúncias de corrupção e com histórico discurso de aproximação política entre Brasil e Estados Unidos, participou de três dias de reuniões com várias autoridades de seu país, além de lobistas e pessoas influentes próximas a Hillary Clinton (famosa pelos discursos e práticas fascistas) e outras lideranças políticas.

Conforme noticiado no sítio The Intercept do jornalista norte-americano Glenn Greenwald (maior receptor de documentos por parte de Snowden) no dia 18:

A Embaixada Brasileira em Washington e o gabinete do Sen. Nunes disseram ao The Intercept que não tinham maiores informações a respeito do almoço de terça-feira. Por email, o Albright Stonebridge Group afirmou que o evento não tem importância midiática, que é voltado "à comunidade política e de negócios de Washington", e que não revelariam uma lista de presentes ou assuntos discutidos.

Antes desta publicação, o gabinete do Sen. Nunes informou ao The Intercept que não tinha mais informações sobre a viagem dele à Washington, além do que estava escrito no comunicado de imprensa, que data de 15 de abril. Subsequente à publicação, o gabinete do Senador nos indicou informação publicada no Painel do Leitor (Folha de S. Paulo, 17.04.2016) onde Nunes afirma - ao contrário da reportagem do jornal - que a ligação do vice-presidente Temer [enviando-o aos Estados Unidos] não foi o motivo para sua viagem a Washington;

4. A IV Frota Naval de seu país ronda os mares brasileiros próximos exatamente à camada pré-sal: desativados desde o final da II Guerra Mundial, foram reativados pelos EUA, "coincidentemente", logo após tal descoberta petrolífera em 2008, que coloca o Brasil como segunda maior reserva de petróleo e gás natural do mundo;

5. "O que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil", disse Humberto de Alencar Castelo Branco assim que assumiu o regime militar em 11 de abril de 1964, dez dias depois do golpe contra o presidente progressista João Goulart, acusado de "comunista" e contrários aos "princípios da família e da religião".

O regime de Washington, ao contrário do que tentou negar por vários anos, promoveu o golpe militar de 1964 no Brasil e ensinou métodos de tortura, de assassinatos em massa e de ocultação de cadáveres (documento do arquivo governamental norte americano) apoiado pela grande mídia brasileira, a mesma que hoje faz aberta campanha a favor do impedimento de Dilma, quem combateu a ditadura militar, por isso presa e torturada;

6. Segundo telegramas ultra-secretos revelados por Edward Snowden, a comunidade de espionagem de seu país e esta própria "Embaixada" têm espionado o Brasil nos últimos anos como nenhum outro país na América Latina, e em 2013 o Brasil foi simplesmente o país mais espionado do mundo, fato negligenciado pela grande mídia local.

"NSA e CIA mantiveram em Brasília equipe para coleta de dados filtrados de satélite. Brasília fez parte da rede de 16 bases dedicadas a programa de coleta de informações", foi revelado por Snowden, ex-funcionário da CIA e ex-contratista da NSA.

Desde a presidente Dilma, seus funcionários, a Petrobras até os mais comuns cidadãos, controlados de perto pelos Estados Unidos para quê, srta. Lilian Ayalde? As intenções por trás de mais esses graves crimes por parte de seu regime nunca foram devidamente esclarecidos, muito menos desculpado. Nada nunca mudou;

7. Desta "Embaixada" partiu este telegrama confidencial emitido em 22 de dezembro de 2009, liberado por WikiLeaks em 6 de fevereiro de 2011:

(...) O Estado de S. Paulo e O Globo, além da revista Veja podem se dedicar a informar sobre os riscos que podem advir de se punir quem difame religiões, sobretudo entre a elite do país. Esta Embaixada tem obtido significativo sucesso em implantar entrevistas encomendadas 
a jornalistas, com altos funcionários do governo dos EUA e intelectuais respeitados. Visitas ao Brasil de altos funcionários do governo 
dos EUA seriam uma excelente oportunidade para pautar a questão para a imprensa brasileira (...) 
[grifos meus].

Nunca houve nenhuma palavra por parte dos setores midiáticos envolvidos nesta "venda" de reportagens e de opiniões, e nem de seu "comprador", o "corpo diplomático" dos Estados Unidos no Brasil.

A pergunta que não quer calar, senhorita: esta "Embaixada" continua pautando a imprensa brasileira, encomendando reportagens, editoriais e "entrevistas" de acordo com os interesses mesquinhos dos Estados Unidos, através de dólares na conta desses meios e de jornalistas cínicos e covardes?

Os mais recentes fatos comprovam que sim, nada mudou nos porões do poder de um lado imperialista, impiedoso, do outro os velhos catadores de migalhas de Tio Sam, seres reacionários e golpistas sem o menor escrúpulo.

Centro de Espionagem Infestada de Agentes da CIA

Isso não é "Embaixada", mas centro de espionagem; a senhorita e todos os colegas que a precederam, assim como os que atuam hoje mundo afora, não são nem nunca foram diplomatas, mas são agentes da CIA travestidos de embaixadores, ou desempenham papel de agentes de espionagem conforme os telegramas secretos apontam (nem se precisava deles dada a realidade, porém agora não há mais como negar tal fato).

Não há pesquisa neste sentido, mas se a sociedade brasileira for consultada certamente dirá que prefere descolamento de Washington, caminho seguido por Lula e Dilma, e acercamento dos temidos rivais norte-americanos: Rússia e China, que compõem os BRICS (com Índia, Brasil e África do Sul), bloco econômico odiado pelos senhores, norte-americanos que se impõem pelo poderio bélico e não, jamais, por uma suposta "superioridade" moral e racial precariamente imposta às mentalidades mais vulneráveis por Hollywood e pela Imprensa predominante. Norte-americanos que insistem em fazer da América Latina perpétuo quintal traseiro.

Aqui Há Gente que Se Respeita: Viveremos e Venceremos!

Quanto a meu passaporte, que recebeu visto de entrada aos Estados Unidos anos atrás, solicito que me dê a honra de colocá-lo em sua lista negra, senhorita Lilian Ayalde! Não faço questão nenhuma de ingressar a seu país novamente - além de mergulhado em severa crise econômica, país autoritário, altamente discriminador, segregacionista e terrorista onde se mata por cor da pele, por classe social, por natureza/opção sexual, por etnia, por nada!

Enquanto estiver no poder em seu país este regime que, desde a fundação do Estado nacional, incentiva a idiotização de sua sociedade (usando todos os meios possíveis para exportá-la ao mundo), não faço questão nenhuma de estar novamente em território estadunidense. 

Prefiro minha América Latina por cuja Pátria Grande, se necessário, disponho-me a derramar o sangue! 

Bem se sabe que palavras semelhantes a essas por parte de um cidadão norte-americano, para os senhores e para seus porta-vozes midiáticos, indicam lindo e bravo "patriotismo", enquanto de um estrangeiro especialmente asiático, africano ou latino-americano aponta para um potencial terrorista neste jogo imperialista. Diante disso, tampouco importa, não me importa em absolutamente nada se me incluirão na farsante lista dos terroristas, onde constam indivíduos que supostamente apresentam ameaça ao seu regime deplorável! Seus covardes!!

Chega de golpes made in USA na América Latina e no mundo! Chega de medíocre regime hegemônico que se enxerga como salvador do planeta, achando-se no direito de impor sua vontade, seus 'valores" que, na essência, são seus interesses mesquinhos sem se importar com a auto-determinação e o bem-estar de outros povos. 

Os senhores têm problemas demais para resolver, e competência "de menos", muito menos para se meter nos assuntos alheios. Os senhores não servem de exemplo a ninguém, e no Brasil não queremos nem precisamos de sua ajuda.

Aqui há povo que se respeita, senhorita Lilian Ayalde! A resposta é "não" a mais um golpe à democracia, à justiça e à liberdade made in USA

Não à violência, não à cassação de direitos, não ao retrocesso aos anos mais sombrios deste país. Sim à paz e à igualdade. Para isso, muitas vezes resistir é preciso. Pois chegou a hora de o brasileiro resistir, e não há mais como fugir. Viveremos e venceremos!!


(*) A Carta Aberta enviada há exatos 5 anos quando esta mesma senhorita espionava e conspirava contra o vizinho e vulnerável Paraguai, intitulada Efeito WikiLeaks: Embaixadora dos EUA no Paraguai Não Perde Tempo, e Reúne-Se com Blogueiros Locais, pode ser lida na íntegra em WikiLeaks - América Latina. Naquela ocasião, tal comunicado precedeu a queda golpista de um presidente voltado a políticas sociais. Neste caso envolvendo o Brasil, guardadas as devidas proporções no que diz respeito às causas sociais, ocorrerá o mesmo? "Tais documentos expõem muita vergonha dos políticos, mas são a realidade e o preço da nossa fome, da nossa pobreza, da nossa miséria, da nossa vergonha. Mais vergonha ainda, significa comer as migalhas jogadas por eles...", foi a conclusão da Carta.

 

Edu Montesanti

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey