"As lutas das mulheres rurais pelo acesso à terra e outros recursos naturais nos países de língua portuguesa"
Debate virtual organizado pela ACTUAR - Associação para a Cooperação e o Desenvolvimento e Fundação Land Portal, de 06 de março a 20 de março de 2017
Os países da CPLP (Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste) enfrentam sérios e distintos desafios no que respeita o acesso, a posse e a governança da terra. Para além das acentuadas desigualdades sociais, culturais e económicas, o acesso e o controlo sobre a terra e outros recursos naturais por parte dos pequenos produtores estão ainda muito condicionados na maioria destes países.
O papel das mulheres rurais nos países de língua portuguesa é crescentemente reconhecido por instituições e agências regionais e globais: em alguns países da CPLP, são as mulheres que exercem a maioria do trabalho agrícola e contribuem para a segurança alimentar e nutricional. Na Guiné-Bissau e em Moçambique, por exemplo, a percentagem de mulheres rurais que trabalham e que dependem da agricultura atinge os 90% (FAO, 2015).
No sentido de dar visibilidade e impulsionar a realização dos direitos das mulheres rurais, diversas organizações nacionais membros da Plataforma de Camponeses da CPLP e da Rede da Sociedade Civil para a Segurança Alimentar e Nutricional na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (REDSAN-CPLP) têm realizado importantes esforços de mobilização e sensibilização nos países da região.
É o caso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG - Brasil), membro da Plataforma de Camponeses da CPLP, que dispõe de mais de 4.000 sindicatos de trabalhadores rurais afiliados, e que tem fomentado a impressionante Marcha das Margaridas, uma ação cuja última edição, em 2015, reuniu mais de 100 mil agricultoras, quilombolas, indígenas, pescadoras e extractivistas.
Nesse importante ano de mobilização das mulheres rurais, nasce a "Rede das Margaridas do Mundo", em que mulheres de todo o mundo se manifestam coletivamente acerca do seu modo de vida e alertam para a centralidade e urgência em reconhecer e valorizar a ação estratégica das mulheres para a Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional do nossos povos, ao produzirem alimentos saudáveis e diversificados e ao conservar e promoverem a biodiversidade agrícola.
Esta rede tem constituído propostas de luta pela democracia, justiça, autonomia e igualdade na segurança alimentar e nutricional, pela soberania alimentar, pela proteção de sementes nativas, pela promoção da agroecologia.
A Rede das Margaridas do Mundo, em parceria com a ACTUAR - Associação para a Cooperação e o Desenvolvimento e com a Fundação Land Portal, pretendem promover um debate virtual que confira centralidade às lutas das mulheres rurais que vêm sendo implementadas nos países de língua portuguesa, promovendo a sua articulação em rede e o reforço das suas lutas pela terra e pela defesa dos seus territórios.
Neste sentido, será facilitada uma discussão que terá como principais objetivos:
· Fomentar o debate, intercâmbio de experiências, perspetivas e posições, relativas ao papel da mulher rural para a soberania e segurança alimentar e nutricional nos países de língua portuguesa, e os desafios para o acesso e controlo das mesmas sobre a terra e outros recursos naturais;
· Identificar espaços de mobilização das mulheres rurais existentes nos países de língua portuguesa, bem como eventuais casos de estudo e manuais de boas práticas existentes, que trabalhem ou incidam no acesso da mulher rural à terra;
· Integrar as diferentes organizações participantes e estimular a sua organização em rede, em prol da promoção de um espaço regional de luta pelos direitos das mulheres rurais ao acesso e controlo sobre a terra e outros recursos naturais;
· Estruturar e divulgar as principais conclusões do debate, em língua portuguesa, espanhola e inglesa.
O debate será facilitado por Valdisleia Oliveira, e contará com a participação de duas especialistas sobre direitos das mulheres, Alessandra Lunas (Brasil) e Margarita Salinas (Bolivia). As/os participantes serão estimulados/as a reflectir e partilhar experiências e conhecimentos relativamente às questões que se seguem:
· Quais são atualmente as principais formas de discriminação que as mulheres rurais sofrem no acesso e no controlo sobre a terra, no seu país?
· Que fatores impedem, direta e indiretamente, o fortalecimento das mulheres rurais no seu país?
· Qual é a situação atual das mulheres rurais no que respeita o acesso e o controlo sobre a terra no seu país?
· Que papel tem tido a sociedade civil, a academia e os governos no fortalecimento das mulheres rurais para a participação nos espaços de discussão, formulação, implementação, monitoramento e avaliação de políticas públicas, no seu país?
· A luta pelo acesso à terra e outros recursos naturais assume visibilidade a nível nacional, regional e internacional?
· Quais são as principais experiências e lutas nacionais que as mulheres rurais têm travado no seu país?
· Quais são as estratégias mais eficazes para combater a discriminação das mulheres e para facilitar o acesso à terra e a outros recursos naturais?
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