ALTAMIRO BORGES
Três dias após o lançamento do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), em janeiro passado, o Banco Central jogou água fria nas expectativas de desenvolvimento do país ao reduzir o ritmo da queda da taxa de juro de 0,5% para 0,25%. É como se os nove agentes dos banqueiros que controlam o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, a começar do ex-presidente do Bank Boston, Henrique Meirelles, dessem um recado aos incautos.
Vocês elegeram o Lula e querem que o país cresça. Tudo bem! Mas não esqueçam que quem manda no país é a ditadura do capital financeiro. Na ocasião, diante desta baita provocação, todos deveriam ter sido exonerados. Mas este não é o estilo do presidente Lula, que prefere evitar brigas com os avarentos banqueiros.
Agora, novamente, o Banco Central volta a colocar o pé no freio do crescimento. Na sua reunião da semana passada, simplesmente interrompeu a redução da taxa Selic, mantendo-a em 11,25% ao ano a segunda mais alta do mundo. No seu lacônico comunicado, ele decretou: Avaliando a conjuntura macroeconômica, o Copom decidiu, por unanimidade, fazer uma pausa no processo de flexibilização da política monetária. A unanimidade burra do BC confirma o total divórcio com os interesses da nação. Os tecnocratas sequer levaram em conta que a meta de inflação para este ano, fixada em 4,5%, não apresenta qualquer sinal de ameaça, já que a variação dos últimos doze meses acumula 4,15%. Na prática, mais uma vez predominou da gula dos banqueiros.
Entusiasmo dos banqueiros
A decisão do BC revela que, na prática, esta instituição já é autônoma apesar de ainda não o ser legalmente e que serve apenas aos interesses dos rentistas. Ela representa novo golpe nos que almejam índices mais elevados de crescimento econômico, com geração de empregos e aumento da renda. Mantida esta tendência ortodoxa, bem ao gosto dos tucanos infiltrados na instituição, ela pode empacar o próprio PAC, transformando-o numa mera peça publicitária. A atual política monetária, que segue os dogmas neoliberais do governo FHC, estimula a especulação financeira, atraindo capitais voláteis ávidos por juros altos, eleva a dívida pública e corta os investimentos do estado e sabota a produção. Favorece a economia virtual em detrimento da economia real.
A repercussão da nova pisada no freio do BC confirma esta lógica perversa. Enquanto as centrais sindicais e as entidades patronais da indústria e comércio criticaram a medida, os banqueiros não esconderam sua satisfação. De forma escancarada, o presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef), Walter Machado de Barros, abusou do linguajar tecnocrático para apoiar os amiguinhos do BC. A decisão foi estratégica, a fim de balizar o crescimento da demanda, avaliando os efeitos das reduções anteriores da Selic e seus efeitos no consumo. O Ibef encara a decisão como uma pausa necessária, tergiversou.
As dicas de Sicsú
O presidente Lula, que não conta com a simpatia dos rentistas e só foi reeleito graças ao apoio do povão, bem que poderia deixar de agradar os banqueiros e de ouvir seus diretores do BC. Uma sugestão é dar mais atenção às idéias do novo diretor de estudos macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), João Sicsú, que não perdeu o senso crítico ao ingressar num órgão do governo. Em recente entrevista, ele disse que a atual taxa de juros eleva a dívida pública e entrava o crescimento do país e deu importantes dicas.
Acho que poderia haver uma regra para limitar quanto o governo pode gastar na rubrica despesas de juros. O governo gastou, entre 2003 e 2006, cerca de R$ 600 bilhões. Essa despesa não gera empregos nem bem-estar.
Também defendeu mudanças na política de câmbio, que está supervalorizado e pode causar saldo negativo na balança comercial, e a reforma tributária. Neste ponto, novamente polemizou com os neoliberais que pregam a redução do estado. Gastos de um governo devem ser analisados pelos benefícios que podem gerar. Gastos de custeio, capital, pessoal e previdenciário geram benefício para a sociedade, geram empregos e bem-estar social. Há gastos que não geram empregos nem bem-estar. Um exemplo é o gasto do governo com o pagamento dos juros referentes à dívida pública. Quem recebe essa transferência, em geral, não transforma renda em gastos de consumo ou investimentos. Normalmente, compra mais títulos da dívida... A carga tributária no Brasil cresceu na última década porque as despesas públicas com juros cresceram demasiadamente.
Bolsa especulador
Bem que o presidente poderia demitir a equipe de tucanos infiltrada no BC, que sabota o próprio PAC e faz a alegria dos banqueiros, e nomear pessoas mais preocupadas com o desenvolvimento do país e o bem-estar do seu povo. Mas aí já é pedir demais para quem optou pela via pragmática da conciliação e não está disposto a mexer nos problemas estruturais do Brasil! No condomínio de classes sonhado por Lula, segundo a definição do cientista político Luis Werneck Sodré, os bancos continuarão batendo recordes de lucro e os miseráveis receberão o Bolsa Família!
No ano passado, este programa social doou R$ 15 milhões para 11 milhões de famílias. Já o bolsa especulador deu R$ 150 bilhões para 20 mil famílias de credores da dívida pública. Não há futuro para um país que beneficia dessa maneira sua camada mais rica, critica Frei Betto.
Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro As encruzilhadas do sindicalismo (Editora Anita Garibaldi).
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