Problemas na navegação do Airbus causaram 3 acidentes
O diálogo gravado na cabine do avião da TAM, onde um diz desacelera, desacelera, e o outro responde: eu não consigo, eu não consigo, sugere que os pilotos tentaram frear o avião, e foram impedidos pelo computador de bordo
É irresponsável quem diz que os pilotos cometeram um erro, afirmou o relator da CPI sobre o setor aéreo na Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT/RS), após a leitura da transcrição do diálogo entre a tripulação do Airbus da TAM e a torre do Aeroporto de Congonhas, gravado pela caixa preta do avião. Não houve erro humano. Todos os procedimentos padrão para o pouso foram adotados. É prematuro afirmar que a responsabilidade é dos pilotos, reiterou o relator, na quarta-feira passada.
Marco Maia condenou a conclusão de alguns órgãos de imprensa de que a informação sobre a posição do manete direito da aeronave, que conforme dados da caixa preta estava na posição incorreta, apontariam que o acidente foi provocado por falha humana. A Aeronáutica está apurando a origem da falha operacional que desencadeou os eventos que fizeram o avião acelerar ao invés de reduzir a velocidade causando o desastre.
FALHA
Segundo o relator, uma das hipóteses que deve ser mais investigada é de falha mecânica ou do software que controla os equipamentos do avião. Ele ressaltou ser possível que os pilotos tenham acionado o manete, mas o comando não tenha sido corretamente interpretado pelo computador. Não descarto que alguma falha possa ter ocorrido nos equipamentos da aeronave, disse. Os pilotos tinham consciência que o reverso estava desligado, tinham consciência dos procedimentos operacionais que deveriam tomar, fizeram todos os procedimentos adequados sobre o pouso, ressaltou Maia, assinalando que qualquer avaliação de que teria havido apenas falha humana é precipitação e não condiz com a realidade da investigação.
Muito embora a Airbus, em seu comunicado, tenha tentado muito mal negar as falhas, os fatos demonstram o contrário.
Relatórios internos da TAM em poder da CPI revelam que o avião que sofreu o acidente em São Paulo apresentou problemas no motor esquerdo no próprio dia do acidente. O incidente foi apontado pelo piloto que fez o vôo entre Confins e Congonhas. Já o motor direito, cujo reverso fora travado no dia 13, também teve problemas cinco dias antes, 10 de julho, durante o vôo 3201 (Confins/Congonhas). Ao iniciar a descida do nível de vôo 260 (26 mil pés), notei uma vibração severa de motor em ponto morto, sem indicação de que o controle de manutenção automática de potência estivesse desligado, e a vibração parou quando as turbinas foram aceleradas, diz a ficha do vôo.
Acidentes semelhantes ao de Congonhas, com o mesmo tipo de aeronave, também levam o relator da CPI a considerar com mais intensidade a hipótese de falha técnica no computador de bordo. Ele que saber ainda porque a Airbus não adotou procedimentos, nem promoveu mudanças que permitissem evitar falhas na operação dos equipamentos.
ACIDENTES
Após analisar três acidentes com essa mesma versão do jato, o engenheiro de software Lawrence Bernstein, do Stevens Institute of Technology de Nova Jersey, Estados Unidos, identificou um padrão que indica para a ocorrência de falhas nos programas que controlam a navegação do A-320. Em junho de 1988, em um vôo de demonstração no campo de provas de Mulhouse-Habsheim, na França, logo que o modelo começou a voar comercialmente, o software da aeronave interpretou um vôo rasante do piloto sobre a pista como uma intenção de pouso, levando o avião a se chocar contra o solo. Na queda, três das 136 pessoas que estavam a bordo morreram.
Em fevereiro de 1990, um A-320 da Indian Airlines caiu nas proximidades do aeroporto de Bangalore, depois que sua velocidade foi reduzida bruscamente, de modo automático, pelo computador de bordo. O piloto não pôde corrigir a ação do equipamento. O desastre matou 92 pessoas das 146 a bordo. Em janeiro de 1992, mais um Airbus caiu sobre uma floresta de pinheiros em Mont Sainte-Odile, na França, porque os sistemas de navegação informavam uma altitude de 4,7 mil pés, enquanto o avião voava a 2,5 mil pés no momento do impacto. 87 pessoas morreram.
DIÁLOGOS
No caso do avião da TAM, o diálogo dentro da cabine sugere que os pilotos detectaram uma falha operacional do sistema de frenagem logo após o pouso ocasionada por um problema técnico, ou mesmo por falha na operação mas foram impedidos de corrigir o problema nos equipamentos, que passaram a operar de forma automática. Confira a transcrição da caixa-preta. As indicações hot 1 e hot 2 indicam as falas de piloto e co-piloto dentro do Airbus A320.
Hot 1: Está ok? Tudo certo?
Hot 2: Ok e pergunta onde irão pousar.
Hot 1: Acabei de informar
Hot 2: Eu não ouvi, desculpe, ela falando.
Hot 1: Mas ela ouviu. Congonhas.
Hot 2: É Congonhas? Que bom. Ela deve ter ouvido, obrigado.
Hot 1: Lembre-se que temos apenas um reverso.
Hot 2: Sim, nós só temos o esquerdo.
Airbus A320 reduz velocidade para aproximação e chama a torre na freqüência 127.15
Hot 1: Boa tarde
Hot 2: Boa tarde
Hot 1: Torre de São Paulo, aqui é TAM 3054
Torre: TAM 3054 reduza a velocidade mínima para aproximação. O vento é norte 106.
Hot 1: Eu vou reportar quando estiver OK 35 esquerda.
Torre: Autorizado
Hot 2: Sistema de checagem final completo, a pista de chegada à vista, pousando
Hot 1: Pergunte à torre sobre as condições de chuva, da pista e se a pista está escorregadia
Hot 2: Da cabine, pelo rádio: TAM em aproximação final, a duas milhas de distância, poderia confirmar as condições?
Torre: Está molhada, ainda está escorregadia. Eu reportarei que a 35 está liberada a 3054, já na final
Torre: TAM 3054, 35 à esquerda, autorizado para pousar. A pista está molhada e escorregadia e o vento é 330 a 8 nós
Hot 1: 330 a 8 é o vento
Torre: Checado, 3054
Hot 1: Pouso está liberado?
Torre: Pouso está liberado. Pouso verde, vôo manual
Som do piloto automático desconectado
Hot 2: Checado
Som de três cliques indicando reversão para vôo manual
Som do movimento do acelerador
Som do aumento do ruído do motor
Som similar a um toque na pista
Hot 1: Reverso número um apenas. Spoilers (freio) nada
Hot 2: Olhe isso
Hot 1: Desacelera, desacelera
Hot 2: Eu não consigo, eu não consigo. Oh, meu Deus, oh, meu Deus!
Hot 2: Vai, vai, vira, vira!
Barulhos de batida
Torre: Ah, não (voz masculina)
Pausa nos barulhos de batida
Torre: Som de gritos (voz feminina)
Som de batida
Válter Félix
Fonte: www.horadopovo.com.br
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