INFILTRAÇÃO NA ESTRUTURA - DESTRUINDO UMA EMPRESA SE DESTRÓI O PAÍS
Está ocorrendo no Brasil uma infiltração nas já pouco sólidas estruturas de sustentação de suas instituições e de sua economia. Um cupim que vai desbastando as vigas e pilares tem um nome específico e é usado para destruir a mais competente e maior empresa brasileira, geradora da energia que move a nossa e todas as nações industrializadas no Planeta: o petróleo.
Comecemos entendendo o petróleo. Volta e meia sai, irresponsavelmente, na mídia e até das academias, em trabalhos financiados por interesses muito particulares, a condenação do petróleo. O petróleo polui, está no fim sua era, é necessário substitui-lo, e outras sinônimas manifestações.
Como teria sido quando o homem obteve o fogo. Aqueles que viviam da escuridão, se aproveitavam do frio e da comida crua teriam dito: o fogo devastará o mundo, seremos todos destruídos por ele.
O petróleo, como todos os minerais, e os produtos de natureza finita e não reprodutiva, chegarão ao fim. Mas antes, muito antes disto, o homem terá encontrado um substituto que, provavelmente, não terá o mesmo conteúdo energético e de transformação que uma gota deste composto orgânico, deste hidrocarboneto é capaz.
O que ocorre com toda certeza, aliás já ocorreu, foi o fim do petróleo barato. Aquele petróleo que custou um único dólar estadunidense por décadas, em moeda constante, não pode mais ser produzido. Assim, a civilização que se construiu nos Estados Unidos da América (EUA), na Europa e em alguns outros poucos países deverá passar por transformação. E como é difícil mudar! Principalmente quando se considerava o centro do mundo, o pedagogo maior do comportamento humano, o fiscal do universo.
Vamos apresentar uma interpretação desta mudança.
O modelo energívero, voraz por energia, que caracterizou a civilização ocidental contemporânea deverá ser substituído. Mas os que dela se beneficiam buscarão se aproveitar da última gota. Este fim de era surge nas décadas 1960/1970.
A pujança e a certeza do progresso do pós-guerra começam a ser substituídas pelos conflitos de um crescimento impossível para todos. Quem seriam os escolhidos? Quem sobraria? E o sistema que estudava, influenciava e formava os dirigentes buscou outras rotas, redirecionar a manada humana. Os interessados na História e os mais antigos lembrar-se-ão do Woodstock, do Maio de 1968 parisiense e dos movimentos que, de algum modo, celebravam a Era de Aquário, com maconha e a libertadora pílula anticoncepcional.
As crises do petróleo constituíram verdadeiro multiuso para este bem: mudança de base monetária, sistemas de gestão, golpes em países mais fragilizados, etc. Começando pelo petróleo mais caro, em rota nunca mais descendente, e na mudança do paradigma monetário, deixando para sempre (até 2020, ao menos) um referencial e dando à moeda o status de uma commodity, a ser valorada pela abstrata entidade: o mercado. Que muitos já divinizavam.
Mas teve o contraponto de permitir novas áreas produtoras, a começar pelo fracassado Mar do Norte, mas chegando ao disputadíssimo pré-sal do Brasil.
E tendo chegado ao petróleo brasileiro, façamos um intervalo para discorrer sobre um dos cupins: o PPI.
O PPI - Preço de Paridade de Importação - é uma jabuticaba. Não pelo sabor único da fruta, mas pela raridade, pelo tamanho da ofensa feita a todo povo brasileiro. Devemos reconhecer a ousadia e audácia de comunicar, em 2016, que se estava implantando um modo de a Petrobrás perder mercado, consumo e até lucro, como já se constatou no Balanço de 2019.
Quando a Petrobrás tornou, pela competência e dedicação de seu corpo técnico, o Brasil inteiramente autossuficiente em petróleo, com o pré-sal e sua rede de refinarias, dutos, terminais, bases de distribuição podendo colocar os derivados do petróleo em todo território nacional aos menores preços possíveis, surge o PPI, acompanhando a mais insana desnacionalização industrial, logística e comercial que se tem notícia.
O atilado leitor perguntará, com toda razão: como foi possível aceitar este crime contra o Brasil?
Ousamos ter uma resposta. Pela pedagogia colonial.
Retomemos, brevemente, nossa cronologia nas crises do petróleo. Não houve somente o aumento de preço e a demonização do petróleo. Vieram novas referências monetárias e administrativas. Os objetivos de desenvolvimento empresarial e nacional foram sendo substituídos por valores globais. Ser global e não nacional passou a ser referência. Um aspecto curioso é que autores como Adam Smith passaram a ter leituras diferentes para se encaixar nas novas necessidades do poder. Não mais a realidade forneceria elementos para as construções teóricas, era a teoria que definiria e construiria a realidade.
E nesta verdadeira esquizofrenia, a audácia, a falta de escrúpulo, a verdadeira corrupção toma conta da direção do Brasil e das empresas públicas e privadas brasileiras, chegando à situação que nos encontramos hoje, sem emprego por falta de empresas, e com a nova escravidão dos ubers e pejotizações dos meis (Micro Empreendedor Individual MEI).
Este Brasil tem início nos anos 1980, se aprofunda com a Constituição de 1988, e explode com Fernando Collor e Fernando Cardoso. Nada, desde então, revogou, demoliu, saneou o que se fizera; o Brasil entrou e permanece cego no neoliberalismo.
Prossigamos na compreensão do PPI, que nos foi imposto em 2016 pela dupla Michel Temer/Pedro Parente.
PPI, "Preço de Paridade de Importação", não é um eventual preço internacional, fixado em Bolsas de Mercadorias, mas aquele que é internado no Brasil, conforme se segue.
A base do preço é a do combustível (diesel e gasolina, principalmente) produzido nas refinarias do Golfo do México. Das 10 maiores refinarias estadunidenses, oito estão localizadas nos estados do Texas (4), Louisiana (3) e Mississipi. Em 2018, estas oitos refinarias pertenciam às seguintes empresas: Exxon Mobil (Baytown, Baton Rouge, Beaumont), Marathon (Galveston Bay e Garyville), Chevron (Pascagoula), Citgo (Lake Charles) e, com maior capacidade de processamento, da Motiva Enterprises, a Port Arthur Refinery. Além destas, cinco outras empresas têm refinarias no Golfo do México: Valero Energy, PBF Energy, PDV, Shell e Koch.
Não é difícil imaginar que exista um acordo, para não dizer um oligopólio formado por estas empresas para estabelecer preços de exportação. Mas isto nem é relevante, como veremos no decorrer desta análise.
A este preço do derivado são acrescentados: o custo do transporte até um porto brasileiro, os custos da internação do produto no Brasil (impostos e taxas aduaneiras, seguros do frete e do produto e outros encargos), o seguro para eventual variação cambial (entre a compra e a internação decorrem cerca de 30 dias e o valor do dólar pode mudar) e o lucro prefixado.
Agora o atilado leitor imagine esta equação nas mãos das empresas internacionais de comercialização (traders) que sabem em que porto embarcar/desembarcar a mercadoria para aproveitar os incentivos na guerra que o sistema tributário nacional coloca os Estados e Municípios brasileiros, e que negociam, com volumes elevados, os preços de compra nos EUA. Não necessariamente nas oito grandes, mas naquelas pequenas, que podem lhe proporcionar maiores lucros. O Brasil fica nas mãos destes especuladores para o importantíssimo preço que movimenta suas Forças Armadas, os alimentos para os brasileiros e as cargas para toda economia nacional.
E isto quando o Brasil não mais precisa importar o petróleo bruto, pois já o produz, com o pré-sal, acima de seu consumo atual, nem qualquer derivado, pois desde 1980, com os investimentos de Médici e Geisel, a exceção de quatro anos no século passado, tem toda gama de derivados utilizados no País produzidos pelas refinarias brasileiras.
A PPI é uma jabuticaba podre e um crime contra a economia nacional. Só existe no Brasil, pois nenhum País, com dirigentes que tenham um mínimo de dignidade, aceitaria colocar a vida dos cidadãos e a própria nacionalidade no balcão da especulação globalizada. Com atores cujos verdadeiros donos, seus mandantes, se escondem em fundos financeiros internacionais.
A Direção da Petrobrás impõe às suas refinarias o PPI para venda às distribuidoras. E isto quando a Petrobrás, como vimos, é autossuficiente em produção de petróleo e derivados, ou seja, tem um preço muito inferior a esta simulação de preço de paridade com o importado. Apenas resulta perder mercado para as traders que trazem de onde desejarem os derivados, pois terão no Brasil um preço de venda altamente compensador.
E perdendo mercado, a Petrobrás deixa ociosa suas refinarias e exporta petróleo bruto para importar derivados. O Brasil volta à condição anterior a de 1950.
Mas há outra consequência. O etanol faz parte da energia que movimenta veículos terrestres no Brasil. O etanol nacional é obtido da cana-de-açúcar. A maior empresa produtora de etanol é a COSAN, que tem seu capital registrado nos EUA (Cosan Ltd) e cujos acionistas são entidades financeiras. A COSAN é sócia menor da SHELL na RAÍZEN, um verdadeiro polvo estrangeiro nas áreas de energia e combustíveis (cujo organograma pode ser acessado em https://ri.raizen.com.br/sites/default/files/organograma_raizen_jul2019_0.pdf).
Com o PPI aumentando desmesuradamente o preço da gasolina, a Raízen tem elevados lucros na venda do etanol. E ainda pode fazer chantagem com o preço do açúcar. Ou seja, interferir nos custos da alimentação brasileira.
Mas a Raízen é Shell, que, como vimos, tem também refinarias no Golfo do México. Ou seja, a Shell, controlando o álcool combustível e importando seu próprio derivado, pode ter o lucro desejado e derrubar o concorrente, monitorando portanto o consumo nacional de um forte componente energético.
Chamar esta situação de mercado livre é mais um tapa nos brasileiros. Não existe qualquer competição.
Urge demonstrar esta desconstrução da economia nacional, das instituições brasileiras, pelos cupins que foram colocados nas suas pilastras, nas suas estruturas.
Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado.
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