O desemprego é a maior praga do sistema capitalista. O desempregado se torna um pária numa sociedade onde o consumo é endeusado e com ele desmorona, quase sempre, toda sua estrutura familiar.
A capacidade de trabalhar é a razão que permitiu separar o homem do restante do reino animal. Foi acompanhando com rigor científico o desenvolvimento das técnicas para controlar as forças da natureza, desde o primitivo homem das cavernas até os dias de hoje, que se tornou possível contar a história da humanidade.
Quem estiver disposto a vivenciar o significado que o desemprego traz para a vida familiar, não precisa se ater aos frios relatórios sobre o mercado de trabalho. Em qualquer sebo da cidade certamente será possível encontrar o livro de John Steinbeck, As Vinhas da Ira, que conta a saga de trabalhadores americanos nos anos de depressão que abalaram a maior economia do mundo, no princípio dos anos 30, do século passado.
Enquanto no escravismo e no feudalismo existia uma relação interpessoal entre as partes envolvidas no trabalho - o dono com o escravo e o suserano com o vassalo - no sistema capitalista, esta relação é inteiramente impessoal. Para os empresários, os trabalhadores são apenas números dentro de uma planilha de investimentos destinados a gerar lucros. Por isso mesmo podem ser removidos de seus empregos para atender o objetivo fundamental da empresa, que é sempre o lucro.
Somente numa sociedade comunista - hoje apenas um sonho utópico - este quadro alienante poderia ser modificado, com o fim da divisão de classes e o estabelecimento da política de pleno emprego.
A vitória da burguesia, com o fortalecimento do sistema capitalista, se foi revolucionária e progressista na medida em que destruiu instituições retrogradas como o escravismo e o feudalismo, criou também uma nova e perversa forma de explorar a força de trabalho dos homens.
Além de se apropriar, como lucro, de uma parte do trabalho não pago, a mais valia, os capitalistas logo se deram conta que manter um exército de reserva no mercado de trabalho, permite chantagear os trabalhadores ativos com ameaças permanentes de demissão.
Com isso, é possível arrochar os salários e negar ganhos trabalhistas. Um simples olhar nos processos de disputa entre patrões e empregados que ocorrem a nossa volta, permite constatar como essa técnica de opressão continua sendo aplicada, nas grandes empresas, nos bancos e mesmo nas instituições de ensino.
Grécia, Espanha, Portugal, com seus índices estratosféricos de desemprego, estão sempre nas manchetes dos jornais, mostrando que o capitalismo esgotou suas possibilidades de gerar novos empregos. Mesmo nos países centrais da Europa e nos Estados Unidos, os índices de desemprego não baixam dos dois dígitos.
A globalização, que permite aos empreendedores das grandes nações interferirem nas relações econômicas de países menos desenvolvidos e o uso de técnicas de produção cada vez mais sofisticadas, que levam a prescindir do trabalho do homem, apontam para um futuro cada vez mais negro para as expectativas de trabalho da maioria das populações em todo o mundo.
Um olhar mais atento para o mercado de trabalho brasileiro ajuda a entender as razões da imensa campanha desencadeada contra os governos Lula e Dilma.
Em março de 2013, a taxa de desemprego no Brasil caiu para 5%, o menor índice registrado pelo IBGE, desde que a instituição começou a pesquisar este segmento em 2002.
A crise cíclica do capitalismo que atingiu os países desenvolvidos e emergentes no mundo inteiro a partir de 2014, levou o empresariado a defender cada vez mais uma política de arrocho nos salários dos trabalhadores, de cortes nos direitos trabalhistas e de demissões em massa.
No caso brasileiro, por mais que os governos do PT tenham transigido em suas políticas em defesa dos trabalhadores, determinadas medidas que interessavam os empresários nunca foram aceitas, daí a necessidade de se colocar no poder um governo, que sem compromissos populares, se dispusesse a cumprir esse papel.
É isso que o governo Temer está fazendo e os seus perversos resultados já apareceram. O índice de desemprego no Brasil subiu no final do ano de 2016 para 1,8%.
Um estudo do Banco Credit Suisse mostra que o quadro é ainda pior. Usando o critério de desemprego ampliado, que soma o número de desempregados com várias formas de subemprego, o banco mostra que entre 31 países desenvolvidos ou em processo de desenvolvimento, o Brasil figura em sexto lugar, com um índice de 21,2%, o que corresponde a 23 milhões de trabalhadores.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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