Como a crise econômica expõe a ideologia de mercado e seus ideólogos - Realmente, o feitiço virou contra o feiticeiro! Enquanto os órgãos da ideologia liberal tentam dar adeus aos seus grandes críticos, a sua mais importante fonte ideológica o liberalismo dá adeus.
Realmente, o feitiço virou contra o feiticeiro! Enquanto os órgãos da ideologia liberal (principalmente dos Estados Unidos e da Europa) tentam (desesperadamente e sem nenhum êxito) dar adeus aos seus grandes críticos (como Lênin, por exemplo); a sua mais importante fonte ideológica o liberalismo dá (esse sim, mais uma vez) adeus.
A percepção desse fenômeno (da impossibilidade total do liberalismo enquanto fato econômico prático, portanto, só existindo na pura ideologia de mercado) não é nova. Para se ter uma idéia (e não saindo do mainstream econômico), já nos idos de 1926, quando a grande depressão econômica estava às vésperas de assolar as economias de mercado desenvolvidas da época, J. M. Keynes (1883 1946), famoso economista britânico que salvou a sociedade de mercado já escrevia: essa é a época do fim do liberalismo o fim do laissez-faire.
O liberalismo é entendido (dentro da vertente ideológica liberal da Ciência Econômica) como o instrumento que deve garantir a livre iniciativa e a concorrência como princípios básicos capazes de harmonizar os interesses individuais e coletivos e gerar o progresso social. Segundo esse princípio, dentro do processo de produção, não há qualquer lugar à ação econômica do estado que, quando intervém na economia, só causa ônus. Logo, para essa corrente (ideológica), o governo não deve intervir (de forma alguma) na economia. O liberalismo garante que, deixados sozinhos, os agentes privados garantirão o bem-estar geral da humanidade.
O vexame dos ideólogos liberais é que a prática só mostra que eles não estão falando a verdade. É certo que o governo Obama é (em seus discursos) contra a idéia da estatização ou da intervenção do governo na Economia (mantendo-se, assim, fiel à idéia liberal), mas, após várias intervenções econômicas de fato, o que ele fez, na prática, foi demonstrar que o seu discurso é apenas retórico e ideológico (não sendo seguido, inclusive, por ele mesmo).
Desde o início do ano de 2009 (com o agravamento da crise econômica) americanos e europeus socorreram bancos, seguradoras, montadoras de carros (dentre outros) com trilhões de dólares. Só para se ter uma idéia, o City Group tem no governo americano o seu maior acionista (sendo este proprietário de cerca de 40% de suas ações). O City Group já recebeu (somente do governo Obama) cerca de US$ 50 bilhões de ajuda estatal. Outros exemplos, apesar destes não terem o governo dos Estados Unidos como acionista (ao menos por enquanto) são o do Bank of America (que recebeu, recentemente, US$ 45 bilhões) e a seguradora AIG (que recebeu mais de R$ 180 bilhões, nos últimos meses).
Além disso, os governos do outro lado do Atlântico socorreram (também de forma direta e bilionária) conglomerados como a RBS e o Lloyds Bank.
Portanto, fica a pergunta: quem acredita (ou se ilude) com o liberalismo? A resposta é fácil: ninguém!
Texto elaborado por: Fred Leite Siqueira Campos
Professor Doutor e pesquisador na área de Economia
E-mail: [email protected]
REFERÊNCIAS:
GLOBO NEWS TV. Programa sem fronteira. Exibido em março 2009.
GRANDE ENCICLOPÉDIA BARSA. John Maynard Keynes. São Paulo: Barsa Planeta Internacional Ltda. v. viii, pp. 399-400.
KEYNES, J. M. The end of laissez-faire. Disponível em: < http://www.panarchy.org/keynes/laissezfaire.1926.html >. Acessado em: 30/03/2009.
SANDRONI, P. Dicionário de economia e administração. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
VARIAN. Microeconomia: princípios básicos. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2006.
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