Não necessariamente os integrantes do Pink Floyd vão ficar contentes com o livro The Dark Side of The Moon, que conta os bastidores da obra-prima do grupo e chega esta semana às livrarias brasileiras. Escrito pelo jornalista inglês John Harris, o livro (Jorge Zahar Editora, 224 páginas, R$ 39) disseca as gravações do famoso disco do prisma, lançado em 1973 e rapidamente alçado à categoria de ícone do rock progressivo setentista. Harris não se incomodou de expor as rusgas da banda, especialmente entre o baixista Roger Waters e o vocalista/guitarrista David Gilmour, que se estranham até hoje, apesar (ou por causa) dos mais de 30 milhões de discos vendidos.
Não falo com Roger desde 1987, nem ele demonstra que queira falar comigo. Tudo bem, diz Gilmour, no prólogo do livro. Não sinto falta de Dave, para ser sincero com você, retribui Waters, que tem shows marcados para o Brasil em março, em São Paulo (dia 23) e no Rio (dia 24).
Harris desfaz, no livro, a aura de psicodelia que envolveu o grupo, surgido em Londres na segunda metade dos anos 60, da cabeça delirante de Syd Barrett. Rick (Wright, tecladista) e eu dávamos uns tapinhas num baseado de vez em quando, mas Roger e Nick (Mason, baterista) não, revela (ou dissimula) Gilmour. Barrett não: é um caso famoso de artista afogado em drogas. Afastado do grupo após o lançamento do primeiro disco, The Pipe at The Gates of Down (1967), Barrett enlouqueceu de tanto LSD, e o grupo jamais se recuperou.
Dark Side é Roger Waters, que assumiu (com dificuldades, diz Harris) o posto de principal compositor do Pink Floyd, falando sobre loucura, vida e morte. Gilmour, que gradualmente substituiu Barrett, tornou-se o principal opositor do egocêntrico (como ele) baixista, num desgaste que se intensificou a partir das gravações do álbum, e terminou com a separação, em 1983.
Harris entrevistou os envolvidos na produção, de Alan Parsons, que recebeu 60 dólares por semana para gravar o disco, à cantora Clare Torry, que fez os vocais arrepiantes de The Great Gig in The Sky e sofreu com os métodos cerebrais e perfeccionistas do grupo. Para Nick Mason, a grande dificuldade do grupo era começar algo. Dark Side levou sete meses para ser gravado e se tornou um clássico do rock (com Time, Money, Us and Them, Brain Damage...). O ápice do Pink Floyd. E o começo de seu fim.
Quando era adolescente, o jornalista John Harris compartilhava a opinião geral de que o Pink Floyd soava como um dinossauro redundante. Era mais preconceito do que julgamento embasado, disse Harris a O DIA, de Londres. Ele só foi ouvir Dark Side quando já trabalhava como repórter da New Musical Express. Eu tinha 23 anos, meio tarde, não? Meu chefe me disse: resenhe este disco para a edição dos 20 anos do Dark Side. Àquela altura, o punk rock não me afetava tanto, e descobri um disco musicalmente ambicioso, com letras penetrantes e soberbamente realizado, elogia, e torce o nariz para o Pink Floyd light que Gilmour ainda mantém.
Harris levou um ano para escrever o livro, entre entrevistas e pesquisas. Ele expõe sem pena os atritos entre os integrantes da banda e não acredita que eles possam voltar a tocar juntos, apesar de terem se reunido, ano passado, no Live 8. Gilmour disse que o Live 8 foi como dormir com a ex-mulher. Para mim, aquela foi uma conclusão digna (para o grupo), diz. Especializado em música, o jornalista não vê, na atualidade, tanta efervescência criativa no universo pop como havia na época em que o Dark Side foi composto. Ou quase. Há uma palavra que prova ainda existir vida no rock: Radiohead!, acredita.
Segundo "O Dia Online"
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