TGV, Espanha e Olivença

A falta de perspectiva estratégica evidenciada por muitos decisores políticos, acompanhada de inabilidade e ignorância cultural e histórica, conduz ao desconhecimento do interesse nacional e acarreta a este, frequentemente, prejuízos de monta.


Infelizmente, na ausência de um pensamento político-estratégico elaborado, conhecido e respeitado, tais decisores multiplicam os casos em que descuram, quando não abandonam, a defesa do bem comum dos portugueses. Veja-se, como exemplo, o compromisso assumido com o TGV dirigido a Madrid e a admissão desta cidade como capital e centro da Península.


Com naturalidade evidente, Madrid vem encantando e cativando muitos responsáveis políticos nacionais, os quais, aliciados com o novo “Eldorado” da integração económica da Península (“Espanha! Espanha! Espanha!”, como gritou José Sócrates), aceitam - com aparente prazer - colaborar na erecção da “Ibéria”, cujo epicentro se situa na Meseta, e na qual talvez aqueles almejem ocupar o mesquinho posto de cipaios, cantineiros ou capatazes.


Se é sintomática a argumentação ainda agora usada, a propósito da sustação do TGV, alertando para a “incompreensão” do país vizinho, foi também significativa a disponibilidade de José Sócrates para acompanhar José Luís Zapatero na última campanha eleitoral, bem como a maneira feliz e pressurosa como então arremedou a Língua de Cervantes…


Não está em causa, naturalmente, a conveniência e a necessidade de serem desenvolvidas relações económicas e culturais entre países e nações distintos mas vizinhos, nem sequer o incremento de um descomprometido diálogo político entre duas realidades adjacentes, de onde podem resultar ganhos e benefícios para todos.


Mas já haverá de ser visto com reserva um projecto voluntarista que, beneficiando certamente Madrid e a “Grã-Espanha”, se apresenta, na sua ambiguidade, de ganhos duvidosos para Portugal.


Tudo isto, claro, ainda no pressuposto de que os referidos decisores não estarão já conquistados - vendo em “dón” José Luís Zapatero um novo Filipe II - para a ideia de fazer de Portugal uma grande Olivença…


António Marques

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