Nas terras da antiga cabeça do império, Portugal, explodiu mais um maremoto nas actuais e alterosas ondas financeiras. Depois do BPN e do BPP, agora - em menor escala, deseja-se, - o BES (são só siglas...).
Na mais ancestral família financeira lusa, o Grupo Espírito Santo - remonta ao limiar dos anos 1870's o seu nascimento -, desponta o espectro do malogro ou da insolvência.
Se o problema pudesse ser resolvido nas fraldas do pequeno rectângulo implantado ao sudoeste da Europa tudo poderia ser mais fácil. No entanto, esta crise tem contornos que ultrapassam, e muito, a pequenez do país da esfera armilar.
O Grupo Espírito Santo que, desde o início, foi sempre uma família financeira próxima do poder (fosse ele qual fosse), tem ramificações - leiam-se, sedes - e braços financeiros (Espírito Santo Financial Group) e não-financeiros (Rioforte) em vários países, sejam na Europa (Luxemburgo ou Suíça), como nos EUA (Miami) ou no Panamá, seja no Brasil ou (energias) em Angola (BESA - onde o BES ainda é detentor da maioria do capital, com 51,94%).
E é no caso de Angola que o problema está a ser mais visível; isto se tivermos em conta os recentes desenvolvimentos jurídicos deste affaire, que terá sido devido a uma das operações do Grupo em Angola - a transacção financeira da ESCOM (Espírito Santo Commerce) para a Sonangol - que terá levantado eventuais suspeitas em diversas autoridades reguladoras.
Esta hipotética transacção acabou também por ter efeitos no BESA - Banco Espírito Santo Angola, subsidiária do Banco Espírito Santo - pela existência de uma enorme linha de crédito que uma anterior administração terá dado a "amigos e similares"; segundo o portal Maka Angola esses créditos serão no valor de 6,5 mil milhões US dólares a que se acrescem cerca de US$ 1,5 mil milhões que se refletem nas contas do português BES; tudo correspondendo a cerca de 80% do crédito do BESA!!!
Um dos principais beneficiários dos créditos do BESA é o seu antigo presidente da comissão executiva, Álvaro Sobrinho - que também detém 1,3% do BESA -, que, por mero acaso, está muito próximo não só do bureau político do MPLA como, ainda e principalmente, da Cidade Alta.
Talvez por isso tudo o que se passa no BESA está a ser tratado pelas autoridades financeiras nacionais com pinças de ouro e no maior silêncio dos corredores do Poder. Ou não fossem alguns dos detentores do capital do BESA personalidades muito próximas daquele e de certos corredores políticos que ciciam ao espírito santo nacional...
O mesmo Poder que deu - espante-se - uma garantia financeira (leia-se, uma Carta-conforto) de cerca de 5 mil milhões de US$, por um período de 18 meses (qualquer coisa como 4133 milhões de euros).
Em princípio essa garantia irá ser transformada em activos de capitais no BESA passando o BES a ser detentor da minoria do capital e o restante para investidores angolanos.
Até aqui, nada demais; são meras transacções financeiras. Serão?
É estranho que seja a Cidade Alta - e no caso concreto, a presidência da república - a dar aquela garantia financeira e não o Banco Nacional de Angola entidade supervisora dos bancos nacionais angolanos ou o Ministério das Finanças, como inicialmente estava previsto, por via do Plano Nacional de Desenvolvimento de Médio Prazo para 2013 até 2017; ou, em alternativa, alguns dos braços financeiros do Governo, como já anteriormente aconteceu, através, por exemplo do petróleo, via Sonangol.
Salvo, se o petróleo nacional já estiver todo hipotecado às operações financeiras e industriais chinesas que nos têm oferecido algumas contrapartidas pouco aceitáveis e de qualidade duvidosa, mas...
Ou, talvez, tudo o que o que se passa em torno deste maremoto luso-angolano não seja mais que um sussurro santificável ao espírito santo...
Publicada por ELCAlmeida às Pululu
Eugénio Costa Almeida, Ph.D
Investigador/Researcher do CEI (ISCTE-IUL)
(http://cei.iscte-iul.pt/equipa/eugenio-costa-almeida/)
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