No Brasil, é num ambiente de vitória eleitoral duramente conquistada e a formação de um tipo de 'coabitação governamental' inédita em que o governo de esquerda, com vontade reformista e transformadora expressada, nomeia ministros dentre as pessoas mais conservadoras e à direita do país, que vai se abrir a 20ª Conferência das Partes, a COP-20, em Lima-Peru, de 1º a 12 de dezembro. Para muitos especuladores, esta conferência prepara as bases de um novo acordo que deveria ser assinado o próximo ano em Paris.
Por Lucas Matheron, AgoraVox (Bruxelas)
Assim como já comentei em artigos anteriores [1] [2] [3], um dos pontos mais polêmicos dentre as soluções de luta contra o aquecimento global são os mecanismos de compensação das emissões, entre os quais, notadamente, os chamados REDD e REDD+. E nesta questão, o Brasil está especialmente interessado. Com efeito, longe de resolver os problemas, esses mecanismos os reforçam e os amplificam, pois ao lado das questões puramente ambientais, explodem problemas sociais, como do direito à terra e das comunidades indígenas. E isso, legalmente. Em resumo, é mais uma estratégia para sustentar um capitalismo agonizante (?), como o pensa David Harvey, que, desta vez, se ataca "ao que resta" a explorar, a natureza, antes de colocar, provavelmente daqui a pouco, um relógio no sol!
No entanto, observa-se um forte lobby favorável à introdução desses programas no nível dos Estados; seria, de fato, um sinal forte a favor da legitimação desse capitalismo desenfreado, e da espoliação dos bens vitais à humanidade no seu conjunto. Já o vemos com a indústria das sementes que, aos poucos, consegue impor seus OGMs em toda parte do mundo, nos deixando reféns do seu bem-querer.
Dá para se perguntar o que leva organizações internacionais famosas, tal como a UICN [4] ou o WWF [5], a defender a implantação de tais mecanismos, haja vista que seus efeitos perversos já foram demonstrados pelas muitas experiências negativas em diversas regiões do planeta. Certamente, essas organizações se satisfazem da entrega de algumas zonas para proteger, criar parques e preservá-los, no intuito de conservá-los para mostrar às futuras gerações o que de fato existiu... Um novo tipo de museus! Talvez seja também uma forma de se financiar, junto ao capital privado, já que o público está cada vez mais escasso.
Enfim! Embora essas manobras se deem na mais completa indiferença da imprensa "oficial", alguns grupos se mobilizam para denunciar esse lobby pró-destruição do homem e da natureza. É o caso do World Rainforest Movement que alavancou uma petição mundial [6] para levar a voz "dos 99%" na assembleia da COP-20 e, logo mais, na Conferência de Paris. Aqui se encontra o documento de base [7] dessas reivindicações. Aliás, é importante que os Franceses também se mobilizem sobre essas questões, pois através da Guiana, a França é "um país amazônico", é bom lembrar.
Aqui está o link para assinar a petição "No REDD" por e-mail:
"Para apoiar o chamado à ação, pedimos que você envie um e-mail para [[email protected]] com o nome de seu grupo, país ou região de trabalho e contato antes de 05 de dezembro."
E então, é para fazer alguma coisa? Sim, claro. Mas provavelmente uma solução (se não é A solução) é de seguir um caminho mais radical e afastar-se do modelo "político-ecologicamente correto" que visa sempre a favorecer os mesmos, ou seja, aqueles que têm dinheiro, ou seja, o poder. É preciso parar, sim, de apostar no lucro, sempre o lucro, e pensar no ser humano que já não come mais alimentos sadios, não respira mais um ar limpo, possui um ritmo de vida deplorável, e em breve nem terá mais água para satisfazer suas necessidades essenciais. E falo apenas dos "privilegiados"!
Por gentileza, faça com que esta mensagem circule, pois se nem sempre é possível "fazer alguma coisa", é importante saber o que está acontecendo.
[1] O Brasil da cobiça: Financeirização da natureza [http://port.pravda.ru/busines/31-12-2013/35940-natureza-0/]
[2] Amazônia brasileira: Dossiê Acre [http://port.pravda.ru/news/cplp/14-12-2013/35832-dossie_acre-0/]
[3] Os pontos nos "i" na Amazônia [http://lindomarpadilha.blogspot.com.br/2014/10/lucas-matheron-os-pontos-nos-i-na.html]
[4] http://cmsdata.iucn.org/downloads/uicn_document_de_position_unfccc_cop_20_lima.pdf
[5] http://www.portaldomeioambiente.org.br/comunicacao-ambiental/9671-wwf-brasil-leva-para-australia-experiencia-brasileira-com-os-parques-nacionais
[6] http://wrm.org.uy/actions-and-campaigns/to-reject-redd-and-extractive-industries-to-confront-capitalism-and-defend-life-and-territories/
[7] http://wrm.org.uy/pt/files/2014/11/Chamado-COP-Lima_NoREDD.pdf
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