Assassinato de Politkovskaya quase resolvido

A morte da jornalista Anna Politkovskaya, assassinada no elevador de seu edifício em outubro do ano passado, gerou grandes críticas por parte da imprensa ocidental e de vários governos, que sugeriram (sem nenhuma evidência) de que ela teria sido morta a mando do governo russo, já que era uma crítica contumaz do presidente Putin.

Porém, sempre foi pouco provável que esta hipótese fosse correta, por um motivo bastante simples: o governo russo não ganhou nada com a morte de uma jornalista que, por mais crítica que fosse, tinha pouca influência na opinião pública de seu país; e, por outro lado, sua morte no próprio dia do aniversário de Putin criou uma situação difícil e embaraçosa para o Kremlin, o suspeito número 1 para a opinião pública internacional.

Os ocidentais gostavam muito dos artigos de Politkovskaya, e lhe deram vários prêmios de jornalismo. Porém, suas hipóteses conspiratórias são pouco críveis, como a de que todos os ataques terroristas atribuídos a radicais tchetchenos foram na verdade perpetrados pelo próprio governo russo. Não que ela fosse uma jornalista vendida: sua dedicação era real, pois se submetia espontaneamente a situações difíceis e perigosas na Tchetchênia, inclusive na época em que esta república estava em guerra. Seu erro foi dar crédito incondicional a tudo que alegavam os radicais e terroristas da região, que tentavam justificar seus crimes. E talvez sua relação tão próxima com a máfia e os terroristas tchetchenos tenha sido a causa da sua morte.

Há dois dias, o procurador-geral da Rússia, Iuri Tchaika, anunciou que 10 pessoas estão sendo processadas, suspeitas de participar no assassinato da jornalista. Por enquanto ainda se sabe muito pouco, mas pode ser que um policial e um agente do FSB (Serviço Federal de Segurança) estejam envolvidos, embora as informações sobre isso sejam contraditórias. Aparentemente, o mandante foi um líder mafioso tchetcheno que conhecia pessoalmente Politkovskaya, e que atualmente vive no exterior. Os nomes dos processados não foram oficialmente publicados, pois a investigação ainda não terminou, embora esteja a ponto de concluir.

O mais interessante é a informação de que o mandante viva no exterior, o que parece reforçar a hipótese (provável desde o início) de que o assassinato foi cometido para prejudicar a imagem do atual governo russo. O fim da investigação confirmará se isso foi realmente o que aconteceu.

Para os que pensam que tudo isso é apenas uma armação do governo russo para ocultar os verdadeiros responsáveis e limpar sua imagem, o filho de Politkovskaya declarou que não tem dúvidas quanto aos resultados da investigação, mas manifestou preocupação pela divulgação precipitada de informações. Embora não seja o mais adequado, considerando que a investigação ainda não está concluída, é algo compreensível, uma vez que o Kremlin se encontra sob pressão internacional para resolver o caso o mais rápido possível.

Enquanto isso, pouco ou nada se avançou na resolução de outro assassinato famoso, também atribuído ao governo russo: o do ex-agente desertor Aleksandr Litvinenko, que foi morto em Londres em novembro do ano passado. O governo britânico afirma que o culpado é o também ex-agente Andrei Lugovoi e exige sua extradição, mas até agora não forneceu nenhuma prova disso, e nem sequer divulgou o resultado da autópsia – até hoje não sabemos a causa da morte de Litvinenko, o envenenamento por substância radioativa é apenas uma hipótese.

Um crime ocorrido em território russo está a ponto de ser resolvido e os culpados levados à justiça. Outro, ocorrido fora, não registrou nenhum avanço real. O significado disso é claro: o governo russo não tem nada a ocultar em relação ao assassinato de seus “inimigos”. Parece que não se pode dizer o mesmo sobre o governo britânico.

Carlo MOIANA

Pravda.ru

Buenos Aires

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey