G8: Separar políticas da politiquice

A tentativa falhada de Bush e Blair de virar as atenções das questões centrais nesta Cimeira do G8 por fazer comentários insolentes e intrusivos quanto às políticas do Governo democraticamente eleito da Federação Russa, constituiu uma mancha indelével sobre qualquer possível (já duvidosa) futura candidatura para o estatuto de Estadista para qualquer destes Gémeos Terríveis. Estas tácticas amadoras e antagonistas para ganhar o protagonismo serviram apenas para relegar a Cimeira para o nível de diplomacia da sarjeta mesmo antes de ter iniciado.

O Primeiro-Ministro de Canadá, Harper, colocou-se firmemente na cadeira do futuro lambe-botas de Bush, escolhendo como alvo o Kremlin com umas referências absurdas que sublinham a sua fraca presença no palco internacional.

A última batalha de Blair

Poderia ter sido gloriosa. Em vez disso, foi o cambalear estonteante de um velho e cansado actor de segunda ou já terceira categoria, três gin-tónicos abaixo do limiar de sobriedade, que em vez de proclamar sua última linha de três palavras de viva voz, deu um sonoro arroto e tropeçou, caindo por cima do orquestra.

Por tencionar utilizar a Cimeira do G8 para “ter uma franca conversa acerca do estado da relação” entre a U.E. e a Rússia, Blair mais uma vez ultrapassou os limites de bom senso. Nem é porta-voz da U.E., nem tem qualquer autoridade de falar de democracia depois de participar no ilegal acto de chacina no Iraque e depois de conceder asilo político a um dos líderes dos terroristas chechenos.

Afinal, a reunião com Presidente Putin foi cancelada, relegando Blair à insignificância política que suas tentativas arrogantes de ganhar protagonismo ao custo de serviço público mereceram. Parece agora, no entanto, que o PM de Canadá, Stephen Harper, está prestes a ocupar a sua posição de lambe-botas-chefe da Casa Branca, com as suas expressas “preocupações” sobre a democracia na Rússia e referências políticas tão ingénuas que são chocantes. Referir a casos de assassínio no mesmo discurso em que criticou o Kremlin, parece que Harper está perigosamente perto de cometer um acto de calúnia.

Distracções à parte...

Pondo de lado a insolência, arrogância e atitudes intrusivas de líderes de países que fariam bem examinar suas próprias políticas antes de lançarem pedras contra outros, a Cimeira G8 começou bem, principalmente com progresso tangível sobre a questão da alteração climatérica.

Alteração climatérica

As posições tinham sido demarcadas pela insistência dos europeus em alvos de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) e um moratório sobre limites proposto por Washington antes de uma tomada de posição clara da parte da Índia e a RP China (os dois países mais poluidores, depois dos EUA). Enquanto ainda não foram estabelecidas metas, os estados membros concordaram hoje a efectuaram “cortes substanciais” nas emissões, empenharem-se num acordo após Kyoto depois de 2009 (antes que o Protocolo terminar em 2012) e “considerar” uma redução de 50% em GEE até 2050.

O acordo foi descrito pela Chanceller alemã, Ângela Merkel, como um grande sucesso, porque trouxe os EUA em linha com um acordo negociado a um nível mais lato, sob os auspícios da ONU.

Investimento

Nesta quarta-feira, o documento “Crescimento e responsabilidade na economia mundial” emitido na Cimeira, declarou que os estados membros “apoiam a iniciativa dos Ministros de Finanças dos G8 a fomentarem o desenvolvimento de mercados de títulos mais profundos e mais líquidos nas economias emergentes” para reduzir a vulnerabilidade destas.

África e Ásia

O mesmo documento empenhou os membros do G8 em implementarem estratégias de desenvolvimento, especialmente em parceria com a NEPAD (África) e APEC (Ásia) enquanto a OCDE, UNCTAD e Banco Mundial foram instigados a continuarem a apoiar mais activamente iniciativas que fomentem o desenvolvimento sustentável e práticas de redução de pobreza.

Direitos de Propriedade Intelectual

Os líderes dos G8 concordaram que o sistema internacional da criação de patentes deve ser harmonizado “para melhorar a aquisição de direitos e protecção de patentes numa escala mundial”. Simultaneamente, houve um compromisso a combater a comercialização de bens de consumo falsificados.

Boa Governação

Os estados membros dos G8 reiteraram a sua posição contra a corrupção ao nível nacional e internacional e pediram aos líderes de todas as nações respeitarem as suas responsabilidades. Empenharam-se à Convenção da ONU contra Corrupção (UNCAC) e sublinharam a necessidade de apoiar o Gabinete da ONU contra Drogas e Crime, a OCDE, Interpol e todos os organismos que apoiam a UNCAC.

Lançado o princípio de diálogo

De grande importância nesta Cimeira foi o lançamento do Processo de Heiligendamm, sob o qual é estabelecido um processo de diálogo contínuo com países com economias emergentes, tais como a África do Sul, o Brasil, a RP China, Índia e México. Este processo tornar-se-á numa vertente permanente do processo de debater e formular políticas globais, devido à necessidade de “definir uma nova parceria que responda a desafios económicos mundiais”.

Questões paralelas

Numa reunião entre os PresidentesPutin e Bush, se discutiu o problema do Escudo Anti-Míssil. Presidente Putin explicou que se os Estados Enidos da América está tão preocupado com um eventual ataque oriundo da RI Irão ou RDP Coreia, então a colocação do sistema anti-míssil no Azerbaijão faria mais sentido do que colocar na Polónia ou na Republica Checa. Nesse caso, declarou Presidente Putin, a Rússia não iria apontar mísseis contra alvos na Europa. A proposta foi descrita como “interessante” por Stephen Hadley, Conselheiro para a Segurança Nacional dos EUA.

Entretanto outros assuntos de interesse internacional, tais como o estatuto de Kosovo, estão na agenda.

Enquanto continua a existir um processo franco e aberto de diálogo sobre questões sérias, e não tentativas pueris de marcar pontos políticos baratos por atirar pedras (normalmente por aqueles que têm tectos de vidro), a Cimeira do G8 será uma ferramenta política útil e produtiva para diminuir tensões, criar pontes e resolver questões antes de se tornarem em crises. Pelo menos, é isso que Moscovo pretende.

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

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