Imaginar como nosso corpo pode mudar no futuro frequentemente envolve suposições sobre altura, tamanho do cérebro ou tom de pele. No entanto, alterações mais sutis em nossa anatomia atual mostram o quão imprevisível a evolução pode ser.
Um exemplo intrigante é o aumento da presença de uma artéria extra nos braços, que, segundo estudos, pode se tornar comum em apenas algumas gerações.
A artéria mediana é um vaso sanguíneo que aparece no centro do antebraço durante o desenvolvimento embrionário. Ela tem a função de transportar sangue para as mãos em formação. Normalmente, essa artéria desaparece por volta da oitava semana de gestação, sendo substituída por outras duas: a artéria radial (onde sentimos o pulso) e a artéria ulnar.
Porém, estudos recentes mostram que, em um número crescente de pessoas, a artéria mediana persiste após o nascimento, tornando-se funcional na vida adulta.
De acordo com um estudo publicado no Journal of Anatomy em 2020, a frequência da artéria mediana em adultos aumentou significativamente. No final do século XIX, ela era encontrada em apenas 10% das pessoas. Já no final do século XX, sua prevalência subiu para 30%.
“Isso representa um crescimento significativo em um curto período de tempo, considerando o ritmo usual da evolução”, explicou Teghan Lucas, anatomista da Flinders University.
Para chegar a essa conclusão, Lucas e sua equipe examinaram 80 antebraços de doadores de ascendência europeia, com idades entre 51 e 101 anos. Os resultados foram comparados com registros históricos para evitar possíveis distorções.
Os pesquisadores sugerem que o aumento da frequência dessa artéria pode ser causado por mutações genéticas que afetam seu desenvolvimento ou por condições de saúde durante a gravidez.
Ter uma artéria mediana persistente pode oferecer benefícios, como um maior fluxo sanguíneo para os dedos ou antebraços. Contudo, ela também pode aumentar o risco de síndrome do túnel do carpo, uma condição que reduz a funcionalidade das mãos.
Ainda são necessárias mais investigações para entender completamente os fatores que impulsionam esse fenômeno. No entanto, os cientistas acreditam que, se a tendência continuar, a maioria das pessoas terá a artéria mediana até o final deste século.
A artéria mediana não é o único exemplo de mudanças anatômicas recentes. Outro caso é o aumento na prevalência do osso fabella no joelho, que agora é três vezes mais comum do que há 100 anos.
Embora essas mudanças possam parecer pequenas, elas desempenham um papel importante na microevolução, levando a variações maiores que podem moldar o futuro da nossa espécie. Essas alterações também criam novas pressões evolutivas, impactando nossa saúde de maneiras que ainda não conseguimos prever completamente.
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