O Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) planeja testar um dispositivo inovador — uma interface neural direta (IND) — que utiliza ondas ultrassônicas para modificar a atividade cerebral. Segundo o The Guardian, o aparelho será implantado sob o crânio, mas fora do cérebro, e pode se tornar uma ferramenta revolucionária no tratamento de depressão e outras condições neurológicas.
A interface neural foi projetada para mapear a atividade cerebral e ativar grupos específicos de neurônios através de ondas ultrassônicas. Nesta fase inicial, o dispositivo será testado em 30 participantes, com um custo estimado de 6,5 milhões de libras esterlinas (cerca de 7,5 milhões de euros). Caso seja eficaz, a tecnologia poderá abrir novos horizontes no tratamento de doenças resistentes a terapias tradicionais.
Jacques Carolan, diretor do programa da Advanced Research and Invention Agency (Aria), destaca as possibilidades:
"Estamos diante de um ponto de virada, tanto nas doenças que esperamos tratar, como depressão resistente, epilepsia e vícios, quanto nas novas tecnologias que estão emergindo para alcançá-lo."
O rápido progresso da tecnologia IND torna possível algo que antes parecia ficção científica. Em 2023, a empresa Starlink, de Elon Musk, testou uma interface neural em um paciente paralisado, enquanto outros estudos estão investigando como traduzir pensamentos em palavras para ajudar vítimas de AVC a se comunicar.
Essa tecnologia também pode beneficiar pessoas com depressão, ansiedade e epilepsia — condições relacionadas a disfunções nos circuitos cerebrais.
Para esses testes, o NHS recrutará pacientes que tiveram parte do crânio removida devido a lesões cerebrais, permitindo que o dispositivo seja testado sem cirurgia adicional. Durante os experimentos, os participantes usarão o sistema sobre o couro cabeludo por duas horas, para que os médicos avaliem possíveis mudanças no humor e na motivação induzidas pelas ondas ultrassônicas.
Embora a tecnologia seja promissora, ela também levanta questões éticas importantes. Clare Elwell, professora de física médica na University College London, explica:
"Essas inovações estão avançando rapidamente do ponto de vista técnico, mas estamos atrasados em relação às questões de neuroética."
Interferir diretamente na atividade cerebral levanta preocupações sobre segurança, privacidade e consequências de longo prazo. Segundo Elwell, é essencial equilibrar o progresso tecnológico com uma reflexão ética cuidadosa.
Os testes começarão em março de 2025 e durarão três anos e meio. Caso os resultados sejam positivos, a empresa americana Forest Neurotech planeja realizar testes clínicos mais amplos, incluindo pacientes com depressão grave.
A tecnologia IND tem potencial para revolucionar a medicina, oferecendo novas abordagens para tratar condições neurológicas complexas. No entanto, sua implementação dependerá não apenas de avanços técnicos, mas também de respostas adequadas aos desafios éticos e sociais que ela apresenta.
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