Alexander Gorshev tem 52 anos, é avô de três netos e foi alpinista na juventude. Mas é um dos milhares de russos envenenados por álcool falsificado nos últimos três meses e provavelmente terá que viver o resto da vida à base de remédios.
Centenas de pessoas já morreram e médicos prevêem que muitas outras vão morrer de hepatite tóxica, depois de beber vodca barata feita com produtos de limpeza, e também por não terem condições de custear tratamentos médicos. "Não se trata mais de um problema de saúde, mas de uma questão de vida ou morte", disse Gorshev deitado numa maca num corredor hospitalar, recebendo soro na veia.
Desde que vítimas com pele e olhos amarelados começaram a chegar aos hospitais em massa em setembro na Rússia, faltam leitos e os hospitais vêm sendo obrigados a colocar muitas delas nos corredores. A substância tóxica contida na nova vodca contaminada destrói o fígado definitivamente, explicou Sergei Nikiforov, epidemiologista chefe da região de Pskov, a 700 quilômetros a oeste de Moscou. "Isso provoca invalidez crônica ou morte," disse ele.
Como a maioria dos pacientes é formada por alcoólatras ou sem-tetos que não têm condições de se medicar e cuidar, muitos podem morrer dentro de quatro a sete meses, disse o médico.
A vodca é a bebida favorita dos russos há séculos. O destilado forte e incolor é usado para comemorar, para acalmar, para afogar mágoas ou fechar negócios. A "samogon", ou vodca caseira, também existe há séculos.
Mas o coquetel tóxico que vem provocando as mortes atuais é diferente.
Em julho deste ano foi promulgada uma nova lei obrigando a adoção de normas rígidas de licenciamento e higiene. A lei aumentou as despesas da produção da vodca, e os produtores repassaram o custo aos consumidores. Quase um quinto da população russa ganha muito abaixo do salário médio mensal de 400 dólares, de modo que não tem condições de comprar a vodca legal. Em lugar disso, essas pessoas compram vodca ilegal, mais barata, que frequentemente contém combustível de isqueiros, anti-sépticos ou loção pós-barba.
A vodca legal é feita de mosto destilado de grãos ou vegetais, mas a maior parte do mosto usado nos produtos à base de álcool não feitos para consumo vem de materiais não alimentares, tais como gás ou serragem, explicou a especialista Elena Petrova. De acordo com Petrova, ainda não foi identificada a substância química presente na vodca contaminada que vem devastando a saúde de muitos russos.
O governo ordenou o fechamento maciço dos locais de produção e venda de bebidas alcoólicas ilegais. A região de Pskov, que faz fronteira com Estônia, Lituânia e Belarus, declarou estado de emergência em 25 de outubro. Deste então a polícia já apreendeu pelo menos 15 toneladas de álcool ilegal. Cerca de 17 mil pessoas morreram na Rússia nos primeiros nove meses deste ano após beber álcool ilegal --4.000 menos que no mesmo período do ano passado. Mas a infecção tóxica mais recente difere das doenças normalmente associadas ao álcool pelo fato de destruir o fígado em pouco tempo, impossibilitando a recuperação plena dos doentes.
Segundo "Reuters"
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