"PROTON": 40 ANOS NO ESPAÇO

Naquela altura a "Proton" era a estação espacial mais pesada de então, com uma massa de 12,2 toneladas e, destas, só o peso dos aparelhos equivalia a 3,5 toneladas. Era destinada principalmente à investigação completa dos raios cósmicos e da interacção com a substância das partículas de elevada energia.

As investigações científicas tiveram continuação nas estações espaciais de gerações posteriores, como por exemplo a Proton-2, -3, -4. O peso total da última edição já era de 17 toneladas, com a massa útil (equipamentos e aparelhos) de 12,5 toneladas. Todas as estações foram colocadas em órbita por meio do lançador pesado Ural UR-500, desenhado no Gabinete de Projecto Especial chefiado pelo académico Vladimir Tchelomey. Os parâmetros técnico-tácticos daquele foguetão eram sensivelmente superiores a todos os lançadores então existentes tanto na União Soviética como no estrangeiro.

Na sua edição militar o foguetão destinava-se a ser meio de resposta a um eventual ataque contra a União Soviética, podendo transportar ogivas nucleares superpotentes de 50 megatoneladas de alcance intercontinental.

Era um projecto grandioso. O primeiro estágio do foguetão era composto por um bloco central e seis blocos laterais. Cada bloco tinha um motor de tracção reactiva equivalente a 150 toneladas. O segundo estágio era composto por um bloco de diâmetro igual ao do bloco central do primeiro estágio. O lançador era abastecido na rampa de lançamento de componentes de combustível agressivos, onde o oxidante era o tetraóxido de nitrogénio e o combustível o demetilhidrazina assimétrico (geptil). O peso de descolagem do foguetão era aproximadamente de 600 toneladas.

Ainda na fase de projecto, verificou-se que com os parâmetros exigidos as dimensões do primeiro estágio impossibilitavam o seu transporte por via férrea. Mas os militares insistiam só no transporte ferroviário. E então Vladimir Tchelomey achou uma solução original: acoplar os tanques com combustível aos tanques com o oxidante, formando assim uma espécie de esquema de "pacote". Tal composição satisfez os militares e foi aprovada como padrão.

A rampa de lançamento do foguetão também era original. Pela primeira vez na prática mundial optou-se por construir duas rampas iguais afastadas em 600 metros entre si e no meio das quais se localizavam os sistemas e equipamentos responsáveis pela preparação e pelo lançamento. A ideia inicial era criar um sistema de lançamento em terra e outro em silo, mas depois os trabalhos da segunda variante foram suspensos.

O primeiro ensaio experimental do UR-500 teve lugar a 15 de Maio de 1964. Para a surpresa de todos, os ensaios efectuados no polígono do arquipélago de Novaya Zemlia (região árctica da Rússia) com uma ogiva nuclear com metade da potência planeada mostraram que uma explosão nuclear com a potência de 50 megatoneladas poderia ocasionar uma catástrofe global e, por conseguinte, a ideia foi rejeitada.

Consequentemente, tornou-se desnecessário o foguetão para transportar esta ogiva monstruosa até ao alvo. Portanto o projecto do foguetão balístico intercontinental "Ural UR-500" foi suspenso já em 1964. No entanto, com base do lançador intercontinental de dois estágios foi criado um outro portador espacial com dois e três estágios.

Uma vez que este portador colocou em órbita os aparelhos espaciais "Proton" durante os ensaios, foi-lhe atribuído o mesmo nome ("Proton" passou a ser designado o veículo de 2 estágios, "Proton-K", de 3 estágios). Estes portadores foram tecnicamente bastante bem sucedidos. Por isso, quando o programa do vaivém espacial russo "Energuia-Buran" foi encerrado, o "Proton" tornou-se o único foguetão pesado na Rússia.

Na variante de três estágios foi utilizado para colocar em órbita os módulos da estação orbital russa "MIR" e depois dos da Estação Espacial Internacional. Tendo-lhe sido agregado um bloco acelerador, passou a servir como veículo de lançamento de aparelhos espaciais para órbitas altamente energéticas (por exemplo, o Observatório Astrofísico Europeu "Integral") incluindo a passagem para órbitas geoestacionárias (aparelhos espaciais de GLONASS, satélites de comunicação) e para trajectórias interplanetárias ("Mars-Fobos", "Mars-96").

O "Proton-K" ganhou a reputação de ser o mais fiável, aperfeiçoado e rentável dos portadores espaciais pesados. Desde Abril de 1996 é utilizado para lançamentos comerciais. Até aos finais de 2000 quando ainda estavam vigentes as quotas da sua utilização no mercado mundial de serviços espaciais, anuladas em Dezembro do mesmo ano, a Rússia conseguiu efectuar 23 lançamentos comerciais por meio do "Proton", tendo obtido receitas equivalentes a cerca de 2 mil milhões de dólares. Importa aqui observar que o preço do lançador não era um preço de dumping, variando entre 65 e 90 milhões de dólares por cada lançamento.

Actualmente a capacidade de carga do "Proton-K" para colocação em órbita de 200 km a partir do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, equivale a 20,6 toneladas e para a órbita geoestacionária - 2,6 toneladas. Em Abril de 2001 teve lugar o primeiro lançamento do "Proton-M" (versão modernizada). A sua estrutura inclui um novo bloco acelerador "Briz-M", que possibilita optimizar a instalação dos satélites debaixo da carenagem dianteira, particularidade essa sobremaneira atractiva para os clientes comerciais.

Yuri Zaitsev perito do Instituto de Pesquisas Espaciais da Academia das Ciências da Federação Russa, para a RIA "Novosti"

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