"No dia 22 de Agosto de 1941, depois de as nossas tropas terem entrado em Novgorod, fui ver a Catedral de Sofia, - recorda Herbert, - Naquela altura, ali encontrava-se um museu de propaganda ateísta. No chão, por entre os fragmentos poeirentos da cúpula, reparei num pano aparentemente valioso e eu, sendo crente, decidi guardá-lo. Passado algum tempo, quando fui passar férias à Alemanha, levei também o pano, apesar de tal prática ser proibida sob a pena de fuzilamento.
Nos anos seguintes, o pano ficou guardado em minha casa e eu não contei a história a ninguém"".
À pergunta por que não devolveu o manto antes, disse: "Não queria que fosse parar de novo a um museu de ateísmo. Hoje, quando a Igreja Russa Ortodoxa voltou a ressurgir e na Catedral de Sofia se realizam cultos litúrgicos, tomei a decisão de entregar a relíquia. Por outro lado, até há algum tempo eu não sabia nada do autêntico valor do manto".
Importa realçar que o manto, que tem grande valor artístico e religioso, foi feito nos meados do século XVII (1664-1672). Em baixo, no canto direito tem uma inscrição bordada "Este trabalho foi concluído no governo de Joaquim, metropolita de Grande Novgorod e Velikie Luki".
O pano, com um bordado finíssimo, inclui uma imagem de Santo Nikita, orlado com pérolas. Note-se que o bispo de Novgorod Nikita tinha sido canonizado ainda no século XIII.
O sarcófago com as suas relíquias encontra-se agora numa das igrejas de Novgorod. Segundo uma lenda, quando um soldado alemão as trespassava com a baioneta, na ferida apareceu um líquido semelhante a sangue.
Herbert Lungwitz que no fim da vida decidiu devolver o pano compreendia que a história do manto teria podido causar emoções diversas e contraditórias - por um lado, ele fez bem por o ter entregado à Igreja, por outro, foi ele que o levou para a Alemanha.
"Sim, eu fui um soldado alemão, mas eu também sou pintor. E como pintor era-me evidente que a guerra iria destruir o manto, como acontecera a muitas outras coisas de valor. Por isso, estou com a consciência tranquila. Sinto-me feliz por o ter feito".
Boris Kaimakov RIA "Novosti"
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