Os ballets mais tradicionais foram permeados com espectáculos de George Balanchine, Roland Petit, John Neumayer e Aleksei Ratmanski. A 25 de Fevereiro o jovem coreógrafo russo Ratmanski, director da companhia de bailado do Bolshoi, apresenta ao público "O Parafuso", o ballet esquecido de Dmitri Shostakovich (1931). É um espectáculo grotesco sobre o tema industrial no estilo de arte socialista.
Neste ballet sobre a vida de uma fábrica soviética a aposta faz-se não nas estrelas mas no corpo de bailado, tradicionalmente muito potente na Rússia. No espectáculo participa um grande número de bailarinos que desempenham os papeis de director da fábrica, engenheiro-chefe, operários, mulheres da limpeza, marinheiros, líderes da União da Juventude Comunista, clientes de uma cervejaria, desordeiros, aviadores e até mergulhador em missão de sabotagem. Da lista de personagens até constam... navios e a cavalaria do comandante militar Semion Budionni. Shostakovitch compôs este ballet aos 25 anos no espírito da já passada década de 20, período em que na Rússia Soviética ainda era permitido o livre pensamento artístico e o estilo grotesco ainda não era proibido. Os anos 30 transformaram a arte numa actividade séria e monótona. "O Parafuso", levado ao palco na altura pelo talentoso coreógrafo experimentador Fiodor Lopukhov, foi retirado do repertório logo depois da estreia.
Aleksei Ratmanski restabelece o espectáculo nas vésperas do centenário de Dmitri Shostakovich, que será assinalado em 2006. O primeiro ballet de Shostakovich, encenado em 2003 por Ratmanski no Teatro Bolshoi foi o "Riacho Claro". Este ballet cómico sobre os camponeses de uma aldeia e os artistas que a visitam para exibir um espectáculo conquistou 4 "Máscaras de Ouro", prémio teatral nacional, tendo sido apresentado em Paris.
Recuperando os ballets do compositor proibidos pelas autoridades soviéticas, Aleksei Ratmanski realiza uma tarefa tripla: refazer o repertório do Bolshoi, diversificar a linguagem coreográfica do teatro e mobilizar os artistas de talento anteriormente desaproveitados. O próprio coreógrafo desempenhou cerca de 160 papéis nos palcos mundiais, ou seja, 10 vezes mais do que os seus colegas do Bolshoi. Ele tornou-se o principal solista do Ballet Real da Dinamarca e recebeu em Copenhaga o título de cavaleiro.
Segundo Ratmanski, em "O Parafuso" ele procurou "reproduzir as danças das máquinas, género outrora existente, mas actualmente desaparecido" e, ao mesmo tempo, aproveitar os movimentos clássicos do corpo. As máquinas foram construídas por Semion Pastukh, pintor de São Petersburgo residente em Nova Iorque. No centro do palco ele instalou gigantescos parafusos sob forma de foices e martelos, um dos símbolos centrais soviéticos, e em torno deles colocou figuras de soldadores de seis metros de altura. Estas máquinas-robots executam diversos movimentos e emitem luz através de um comando remoto.
O ballet "Riacho Claro" foi um espectáculo leve e inebriante. "O Parafuso" promete ser um espectáculo mais complexo e pesado. Aliás, as relações entre os numerosos personagens que constituem o enredo do ballet devem "aligeirar" esta imponente massa cénica.
Seja como for, a principal mensagem do espectáculo de Ratmanski é a seguinte: o Bolshoi é um teatro com plena capacidade de vida, de renovação e convida o público a ver tudo isso. "Planeamos convidar professores que venham a ensinar uma dança diferente, não clássica - diz o director da companhia de bailado do Bolshoi. - O projecto dos Estúdios de Dança parece-me muito promissor. No Outono do ano passado já foram exibidos os trabalhos de diversos coreógrafos para os artistas do Bolshoi. Na próxima temporada serão mostrados os trabalhos dos coreógrafos do nosso teatro".
Na opinião de Ratmanski, a crise na dança só poderá ser superada se "nos permitirem inventar, encenar e trabalhar". Este curso experimental promete novas descobertas, que no fim do século XX não foram muitas no Teatro Bolshoi.
Olga Sobolevskaia observadora RIA "Novosti"
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