YURI GRIGOROVITCH - LENDA DO BALLET RUSSO

O sucesso do teatro provinciano de Krasnodar na famosa cena do Teatro Mariinsky (São Petersburgo) voltou a chamar a atenção do público russo ao mestre de ballet Yuri Grigorovitch. A estrela da coreografia ocidental, o homem que ao longo de trinta anos era o principal coreógrafo do Teatro Bolshoi, agora trabalha no Teatro de Ópera e Ballet de Krasnodar (cidade provinciana no Sul da Rússia) que fica a duas horas de voo de Moscovo.

Yuri Grigorovitch de 77 anos de idade é um dos mais velhos coreógrafos do mundo. Foi precisamente o problema etário a razão principal da sua retirada do Teatro Bolshoi. Tratava-se na altura da idade dos dançarinos e não de Grigorovitch propriamente dito. O mestre do bailado considera como o ideal as normas que existiram ainda no Teatro Imperial Russo, segundo as quais qualquer dançarino ou dançarina depois de 20 anos de sua vida cénica era obrigado de abandonar a cena. Era a regra sem exclusões respeitada mesmo pela famosa favorita do Teatro Imperial Russo Matilda Ksechinskaia que se aposentou a prazo certo, quer dizer, passando vinte anos da sua actuação cénica.

Nos final dos anos 80 no Teatro Bolshoi criou-se uma situação crítica - todas as estrelas, entre os quais Vladimir Vassiliev, Mikhail Lavrovski, Natalia Bessmertnova, Ekaterina Maksimova, Nina Timofeeva, Maia Plessetskaia, já há muito que ultrapassaram a idade de pensão, mas continuavam a interpretar os principais papeis, tendo o elenco sido transformado num zoo de pássaros exóticos de paraíso.

Yuri Grigorovitch era resoluto e pelo poder do principal coreógrafo demitiu em 1988 todas as estrelas acima mencionadas. Note-se ainda que entre os demitidos figurou também Natalia Bessmertnova, mulher amada de Grigorovitch que até hoje tem apoiado o seu marido em todas as suas iniciativas.

Com esta sua decisão ele lavrou a sentença a si mesmo, tendo o grupo de estrelas de bailado muito influente declarado-lhe guerra e venceu. Ao perder esta batalha Yuri Grigorovitch deslocou-se em sinal de protesto para Kuban, região provinciana no sul do país, começando a dirigir um elenco de ballet do teatro local.

Para o coreógrafo de fama mundial era um passo muito corajoso. Os malfeitores prognosticaram-lhe fiasco, mas Grigorovitch pouco a pouco fez de um elenco provinciano o forte colectivo de artistas jovens que realizava com sucesso suas digressões pelo mundo fora. A imprensa começou a escrever sobre o fenómeno de Grigorovitch, em resultado de que Moscovo resolveu fazer voltar o mestre no Teatro Bolshoi.

Ao regressar Grigorovitch encenou com todo o esplendor os três bailados mundialmente conhecidos - "Lago dos Cisnes", "Lenda do Amor" e "Raimonda". Tudo levou a crer que dentro em breve o mestre seria nomeado o principal coreógrafo do teatro, mas o novo director Anatoli Iksanov apostou em Aleksei Ratmansky, um coreógrafo jovem, o qual por seu lado resolveu inculcar ao colectivo o amor ao modernismo. Yuri Grigorovitch acabou por ser de novo uma coisa alheia no Teatro Bolshoi e regressou a Krasnodar sem ofensas quaisquer, tendo há pouco convidado para actuar no seu elenco Anastassia Volotchkova, estrela escandalosamente conhecida e afastada do Teatro Bolshoi, dando-lhe o principal papel no bailado "Lagos dos Cisnes". Anastassia Volotchkova é a autêntica perfeição para Yuri Grigorovitch de que ele tem falado na imprensa reiteradas vezes.

O convite de Valeri Guerguiev, dirigente artístico do Teatro Mariinski, de actuar no Verão em São Petersburgo era uma surpresa agradável. O próprio Grigorovitch nasceu nesta cidade, começando ainda quando criança a frequentar a escola de bailado, tendo estreado em 1937 na cena do Teatro Mariinski no ballett de Tchaikovsky "Quebra Nozes", interpretando um dos papeis do episódio "Crianças na Festa de Ano Novo".

É de notar que, passados muito anos, Yuri Grigorovitch levou à cena do Teatro Mariinski de São Petersburgo precisamente o "Quebra Nozes", bailado feliz da sua infância.

Anatoli Korol observador político RIA "Novosti"

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