Aquela imagem comum de que a justiça é cega, foi adaptada por irmãos peruanos, Daniel e Diego Vega, já premiados pelo júri da mostra Un Certain Regard, de Cannes, no filme O Mudo, cuja personagem principal é um juiz reduzido ao silêncio, sem fala.
O juiz Constantino Zegarra, em Lima, no Peru, é um severo aplicador da justiça, um tanto rápido nas decisões mesmo para pequenos delinquentes, colhendo com isso ameaças dos familiares de seus condenados, revoltados com seu rigor.
Ao fim de um dia de julgamentos, trabalho ao qual se dedica seriamente, Constantino constata terem arrebentado o vidro da porta esquerda de seu carro e, no caminho para a casa, é alvejado. A bala atinge sua garganta e depois de socorrido, Constantino não pode mais falar, foi reduzido ao silêncio e só poderá emitir sons se praticar exercícios com a laringe.
Constantino não pratica exercícios empenhado que está em achar o autor do disparo causador de sua mudez, certo de ter sido alvo de um atentado. Mas como localizar um possível inimigo se a polícia peruana não dispunha de recursos para um inquérito aprofundado e sequer de recursos como gasolina para sindicâncias junto aos suspeitos ?
No contato com a imprensa, os realizadores revelaram também serem precários os recursos existentes para o desenvolvimento do cinema. Existe um projeto de lei de apoio ao cinema aguardando, há vinte anos, uma aprovação do parlamento. De acordo com Daniel e Diego Vega, embora o atual governo de esquerda socialista tenha criado um clima social de grande euforia, o cinema não faz ainda parte das prioridades governamentais.
O filme só foi possível graças a uma coprodução com a França e o México. Diego Vega, além de realizador, é professor na Escola de Cinema e Audiovisuais da Catalunha, em Barcelona. O filme El Mudo teve boa acolha junto à crítica em Locarno.
Rui Martins
Fotos: Daniel Vega
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