Toquem os trompetes! 2010 chegou!

Toquem os trompetes! 2010 chegou!

Comecei o ano.

Dia primeiro quase não conta, porque o que mais fiz foi dormir e dormir. Assisti “O homem que sabia demais” (versão de 1956) no Telecine, com minha mãe e voltei a dormir.

Por isso, digo hoje, que comecei o ano. Para comemorar o fato, fui ao cinema. Dois filmes, um atrás do outro. Ambos com aspectos curiosos.

O primeiro estrelado por um cachorro japonês. O segundo, por Penélope Cruz.

“Sempre ao seu lado”, longa de Lasse Haalström, conta a história real da relação entre cachorro e seu dono. Relação esta tão forte que viajou no tempo, desde 1925, quando aconteceu, passando por “Hachikô monogatari”, um filme japonês de 1987, até inspirar o diretor sueco em 2008.

A história de Hachiko é bem simples. Nem um pouco ambiciosa. Quase que um conto. Sobre lealdade, amor e perda.

O tema homem e seu animal é constante e não perde seu charme. O que interessa nesse filme é que diferente de muitos outros, a visão é do cachorro. Quase todos os momentos nos são apresentados pelos sentidos de Hachiko, seja pela visão (demonstrada pela câmera subjetiva ao nível do chão e com cores dessaturadas) ou pela audição aguçada. São poucos os momentos em que os personagens estão fora do alcance do animal.

Esse aspecto explica um pouco a impressão que tive de que os personagens seriam rasos, pouco desenvolvidos. Não há subtramas, não há outros níveis da narrativa, a não ser a história do cachorro com seu dono e, mais tarde, sua contínua espera. Os vários personagens secundários existem apenas como apêndices. Não sabemos nada além sobre eles e nem mesmo sobre os outros membros da família. Apenas um básico, necessário. Isso poderia ser visto como uma falha, mas pelo que falamos antes, o ponto de vista é do protagonista, que não é Richard Gere e sim o esperto cachorro. É como se soubéssemos apenas aquilo que ele saberia ou intuiria, enfim.

O que importa realmente falar deste filme é sobre sua graciosidade. É sensível e delicado. A trilha sonora, composta por Jan A.P. Kaczmarek, traz uma sonoridade oriental com o piano como instrumento principal e ajuda a gerar a emoção.

A narrativa é simples. Faz o que se propõe a fazer: contar essa história verídica. Tem sim os famosos três atos, quase milimetricamente contados na minutagem do filme. Basicamente, 30 minutos para cada seção. Apresentação, desenvolvimento da trama e solução do conflito. Mas não se atem ferreamente às regras, seja em questão de motivação do personagem ou da natureza do conflito.

Creio que uma das cenas mais importantes para compreendermos a visão do diretor é aquela em que Richard Gere está dando aula. Ele diz: “a criação não pode ser capturada, a vida não pode ser capturada. O momento de criação é fugaz”.

É ligeiro, mas talvez indique um pouco a característica deste filme como apenas uma parcela, uma rachadura. Não é uma tentativa de englobar a verdade e nos mostrá-la. Isso seria impossível. Ele está apenas indicando caminhos, para a amizade, o amor, a tristeza, a lealdade… E ao mesmo tempo está falando de como tudo é único. Tanto a criação artística, como a vida. E tão fugazes, que podem nos escapar a qualquer momento.

Por Raquel Gandra em 02/01/2010

http://www.consciencia.net/?p=3394

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