Fala, Lourinho!

Santana do Ipanema (AL), com cerca de 50 mil habitantes, é a mais importante cidade do sertão alagoano. Trata-se de município-pólo de uma região cuja economia se desenvolve basicamente nos setores agropecuário, comércio e prestação de serviços. A Comarca de Santana abrange vários municípios circunvizinhos, portanto é aqui que fluem os processos judiciais.

por Fernando Soares Campos

Santana do Ipanema (AL), com cerca de 50 mil habitantes, é a mais importante cidade do sertão alagoano. Trata-se de município-pólo de uma região cuja economia se desenvolve basicamente nos setores agropecuário, comércio e prestação de serviços. A Comarca de Santana abrange vários municípios circunvizinhos, portanto é aqui que fluem os processos judiciais.


Recentemente o Tribunal de Júri se formou para apreciar e julgar dois casos de homicídio. Em ambos as vítimas eram mulheres que, ao fechar das contas, foram transformadas em rés, "acusadas" de traição no âmbito conjugal. A absolvição dos maridos assassinos (um deles médico) não foi propriamente um fato surpreendente, visto que o arraigado machismo brasileiro e, com maior ênfase, o passionalismo nordestino parecem ter conferido legalidade a crimes dessa natureza.

Entretanto causa certa estranheza o fato de que o primeiro julgamento contou com seis mulheres e apenas um homem no corpo de jurados, que acatou a velha tese da "legítima defesa da honra" e absolveu o réu por unanimidade: sete a zero; sete votos a favor de um assassino que, ao que tudo indica, premeditou o crime, por se sentir inconformado com a rejeição da companheira, pois ela já havia deixado clara a sua intenção de se separar do marido.


No segundo caso, o casal estava separado há algum tempo, e o ex-marido (médico) havia constituído nova família.


Já disseram que, quando os homens de bem deixarem de lado a timidez e se tornarem tão ousados quanto os despóticos dominadores, a humanidade passará a evoluir a passos largos, e a justiça social finalmente se fará realidade no nosso planeta. Seria, portanto, o princípio do Reino de Deus vindo a nós, a vontade do Pai se fazendo na Terra como no Céu.


Tudo indica que aqui, em Alagoas, os homens de bem estão "ousando" enfrentar o hediondo poder do crime organizado, que há décadas... quer dizer... pior, há séculos impõe suas próprias leis, ditando as regras sob o terror dos seus únicos "argumentos": a força de armas letais e a ostentação de fortunas que, em geral, foram construídas através de assalto aos cofres públicos.


Vejamos, por exemplo, o caso dos julgamentos aqui citados. O novo juiz da Comarca de Santana do Ipanema, Dr. Durval Mendonça, que há cerca de três meses substituiu o dr. Galdino Vasconcelos, não aceitou a decisão dos jurados que absolveram por unanimidade o assassino da esposa "traidora", pois identificou irregularidades na condução do processo e anulou a sentença, exigindo nova audiência. Em entrevistas a uma emissora de rádio local, o Dr. Durval falou de sua postura como magistrado, declarando que um juiz de direito é um servidor público muito bem remunerado, portanto não se pode conceber que esse venha a se corromper aceitando propinas para engavetar processos e, com isso, disseminar a impunidade, estimulando a criminalidade.


Além da atitude em relação ao julgamento daquele que assassinou a esposa covardemente, o Dr. Durval tratou de agilizar processos que pareciam insolúveis e dormitavam nos arquivos do Fórum. Entre esses, o caso de duas mulheres (mãe e filha) assassinadas com requintes de crueldade, num momento em que ambas lutavam por seus direitos. A jovem, grávida, exigia, com o apoio da mãe, reparação financeira por parte do amante, que a engravidou. O crime ocorreu na época em que o juiz Galdino respondia pelas 1ª, 2ª e 3ª varas, além do Juizado Eleitoral, Juizado da Infância e da Juventude e juizado Especial de Causas Comuns, da Comarca de Santana do Ipanema.


Outra curiosidade em relação ao caso da mãe e filha assassinadas é o fato de que a principal emissora de rádio da cidade, sob o comando e liderança do deputado federal Givaldo Carimbão (PSB-AL), mantém no ar um programa "jornalístico" denominado "Liberdade de Expressão", cujo locutor é um policial civil, entretanto o tal radialista não noticiou a prisão da pessoa acusada de ter sido a autora intelectual do duplo homicídio: a esposa do amante da jovem grávida assassinada.


Por que esse silêncio? Por que o locutor-policial não destacou a prisão da suposta mandante do crime? Afinal o camarada deve ter sido um dos primeiros santanenses a tomar conhecimento da determinação do Dr. Durval, que desengavetou o processo e mandou recolher a acusada à cadeia da cidade, onde funciona a Delegacia Regional, portanto é o ambiente de trabalho do policial-locutor.
Estranho, muito estranho esse silêncio. Talvez um falador como o Louro José pudesse explicar a mudez do locutor-policial. Vai, lourinho, fala!

http://sergioscampos.blogspot.com/

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X