Opinião: Deterioração das relações Rússia-Ocidente

Breve reflexão sobre a atual deterioração do relacionamento entre a Rússia e o Ocidente - Temos um cenário claro antagônico no qual podemos identificar alguns elementos de choque constante para ambos os lados, os quais conduzem outras potências a posicionar-se ou abster-se dessas “sensibilidades internacionais”.

A percepção que temos diante da política externa russa em 2007, é a projeção do agravamento e distanciamento no relacionamento com as potências ocidentais, nesse sentido principalmente com EUA, Inglaterra e UE excluindo-se em parte a Alemanha.

 A forma como vem sendo conduzida a política externa americana depois do 11 de Setembro e a doutrina da guerra contra o terror no Afeganistão e Iraque, bem como as crises nucleares iranianas e norte-coreanas, colocaram a Rússia e os EUA em pólos de alto antagonismo em fóruns mundiais os quais, as posições de ambos atores seria de preponderante influência acerca das crises debatidas. Portanto temos um cenário claro antagônico no qual podemos identificar alguns elementos de choque constante para ambos os lados, os quais conduzem outras potências a posicionar-se ou abster-se dessas “sensibilidades internacionais”.

Nesse sentido podemos enumerar alguns eventos como, a ofensiva contra o Afeganistão e o Iraque no início da guerra contra o terrorismo, sendo o ataque contra o Iraque ilegítimo em razão dos EUA não terem aguardado a decisão do conselho de segurança da ONU, que provavelmente haveria veto da Rússia e da China, que alertaram para uma solução do problema por via diplomática, em contra partida a Rússia durante um curto período da guerra contra o terror apoiou os EUA, em virtude do agravamento dos conflitos no Cáucaso, de um lado a Rússia afirmava que os combatentes chechenos praticavam atos terroristas e de outro os EUA especulava que não se tratava de grupos terroristas na chechenia, mas de apenas um movimento separatista, sendo que a Rússia queria evitar que observadores internacionais denunciassem violações de direitos humanos na região, portanto os americanos nesse momento rivalizaram a política externa russa, o que desencadeou constantes críticas à forma como a democracia russa era conduzida, e que permanece atualmente.

As crises nucleares tanto do Irã como da Coréia do Norte exacerbaram os ânimos de russos e americanos, uma vez que a Rússia fornece tecnologia para o Irã e na coréia do norte busca uma resolução da crise por via diplomática. Naturalmente não podemos nos esquecer que os EUA são a única potencia hegemônica atual e essa condição se dá em virtude de serem os únicos a terem condições de atuar nos três campos ação principais:

o campo militar, o campo econômico e o campo político, além da forte influência cultural exportada como “o modo de vida americano” , ainda que a China possa começar a rivalizar no campo econômico e a UE fortalecer-se mais através da estabilidade em parte da união, os EUA tem uma arena montada desde o final da II Guerra Mundial, a arma política e estratégica da liberdade e democracia para os povos vinculados aos valores americanos continuou tendo respaldo até o 11 de Setembro.

 Essa política que em um primeiro momento cortejou os interessados para a política norte-americana e em um segundo momento buscou aniquilar os mesmos cortejados anteriormente é bem perceptível para a China, Rússia e mesmo Alemanha. Exemplos disso são observados com o apoio americano a Sadam Hussein na década de 80, para contrapor as ambições de um Irã conduzido pelo Aiatolá Khomeini, e que agora os mesmos que antes cortejavam agora enforcam Sadam Hussein e se apropriam do seu petróleo, e o Afeganistão que foi amplamente municiado contra a ofensiva soviética no fim da década de 80, com interesse claro dos EUA evitarem o acesso da ex-URSS aos “mares quentes”, virou refugio para Osama bin Laden, o qual teve suas milícias rechaçadas em 2001.

Com o fim da URSS, os EUA buscou utilizar essa arma de aproximação com expressões como “ integração da Rússia ao moldes ocidentais” e “parceria estratégica” com Washington, abandonando o conceito de Ronald Regan de “Império do Mal”, elementos da história contemporânea se repetem em contextos diferentes, agora observamos o “eixo do mal”, com Irã, Coréia do Norte e Síria. O que se poderia esperar com o fim da URSS para uma aproximação real dos EUA seria o desaparecimento da OTAN, como ocorreu com o Pacto de Varsóvia, mas o que ocorreu foi um crescimento da organização para as fronteiras da Rússia incluindo no grupo países antes sob a influência soviética, porém contra que inimigo justificava se a permanência da OTAN ?

 Algumas desculpas foram formuladas como as operações na guerra de Yugoslávia até 1998, e agora a organização muda sua área de atuação saindo do cenário europeu e operando contra o terrorismo. Porém o estabelecimento de bases e operações da OTAN nas fronteiras da Rússia continua se ampliando, como visto nas bases do Uzbequistão, Geórgia e nas operações militares nos países bálticos. Mas mesmo com essas demonstrações de hostilidades por parte dos EUA não se eliminou a visão deturpada tanto da nação russa, como de sua política para o mundo, fato fomentado pela política americana.

Em 2006 tanto Dick Cheney como George Bush, afirmaram ofensivamente que a democracia russa era obscura e violava os direitos civis, mas Vladimir Putin contrapôs afirmando que antes ter uma democracia à moda russa do que uma democracia como a do Iraque, que já ceifou 150.000 vidas civis.

As outras potencias periodicamente tem participado direta ou indiretamente do âmbito desses problemas como se posicionado acerca dos mesmos, tanto a Alemanha como a França que procuraram não rivalizar contra as posições Russas tanto na questão da guerra contra o terror, como na condução da política russa, acabaram participando do processo de paz com suas tropas na OTAN, tanto no Afeganistão como no Iraque, uma vez que inicialmente foram contra a ofensiva americana. Mesmo a Inglaterra diminuiu a porcentagem de apoio tradicional dado aos EUA, pois com a deterioração da imagem de Tony Blair, o ataque terrorista a Londres e a percepção de que o “vírus” do terrorismo se espalhou pela Europa, os ingleses perceberam que os custos para afirmar o modelo americano ocidental democrático não valiam à pena.

Portanto a estratégia que pode ser percebida para a Rússia em 2007, é a de afirmação de sua política externa sem a interferência da política americana, como nas revoluções coloridas tanto na Ucrânia como na Geórgia, buscando a ampliação da sua participação no mercado internacional dos países emergentes com uma postura coesa e afirmativa no que diz respeito ao G8, negociando maduramente com a UE sobre o petróleo e o gás natural solidificando as relações com a Alemanha.

A acusação que a Rússia tem sofrido atualmente sobre utilizar o gás e petróleo como armas políticas, não passa de uma estratégia americana para desvirtuar as suas irregularidades, como apropriação dos recursos naturais de quem lhe interessar e a não assinatura do tratado de Kyoto para redução da emissão dos gases na atmosfera, protocolo que a Rússia assinou recentemente fazendo vigorar plenamente o tratado.

O elemento da deterioração das relações particularmente com os EUA agravou-se naturalmente com a iniciativa americana de montar seu escudo anti-misseis e radares tanto na Polônia como na República Tcheca.

 O que é importante notar é que os EUA perderam a oportunidade de se aproximar da Rússia no momento que pode, ou seja logo após o desmantelamento da URSS, quando a nova Rússia gradualmente tornou-se mais disposta a uma aproximação consistente, porém a política americana manteve a percepção sobre o seu inimigo tradicional e não trabalhou a construção de uma relação de confiança a qual atingiu um nível que podemos qualificar de “retorno da guerra fria”, principalmente para UE esse novo cenário expõe uma emergência da sua capacidade quanto união de articular-se politicamente em posicionar-se nessa nova guerra fria, ou seja definitivamente admitir a presença americana em solo europeu como um parceiro da UE e “mantenedor da segurança”, uma vez que os europeus ainda não têm condições de atuação de grande escala em nível de PESC – Política Externa de Segurança Comum, onde esse elemento permitiria a aproximação russa do mundo asiático principalmente através de cooperações políticas, econômicas e militares com a China e consequentemente distanciando da UE, ou uma articulação política consistente para uma aproximação definitiva da Rússia como importante parceira estratégica e talvez dando um vislumbre de uma futura UE com a Rússia incluída, porém, claro afastando a presença americana em solo europeu, pois como já foi abordado no que tange aos três elementos de atuação hegemônica americana, atuação política, econômica e militar, uma UE com a Rússia rivalizaria em nível semelhante essa hegemonia.

31/08/07

Dimas Melo

Analista Internacional

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