Da Odisséia à Cabraléia

Da Odisséia à Cabraléia, o mundo é uma diarréia

por Fernando Soares Campos

Tudo começou quando Zeus nomeou o troiano Páris jurado do concurso Miss Olympus. As favoritas, segundo Homero, um colunista social da época, eram Atena, Hera e Afrodite. As candidatas podiam não ter as medidas nem a desenvoltura de Gisele Bündchen, mas nem por isso foram menos importantes que a prenda gaúcha, rainha das passarelas.

Homero denunciou na sua coluna de fofocas do Globe Olympus, que, assim como os bicheiros cariocas compram os jurados dos desfiles das escolas de samba, as três principais concorrentes tentaram corromper Páris, oferecendo-lhe mimos em troca do seu voto.

Hera, que hoje é conhecida como uma trepadeira lenhosa e vive por aí enfeitando muros e paredes, naquela época ainda não era lenhosa e não entendia nada de objeto de consumo masculino, pois prometeu ao troiano que o transformaria em rei da Ásia e da Europa. Muita responsabilidade para um príncipe playboy, que só pensava naquilo.

Atena prometeu a Páris que lhe daria sabedoria e destreza militar. Foi um tiro pela culatra, pois isso lhe soou como ofensa. O príncipe teve a impressão de que a deusa estava insinuando que ele seria um demente, além de demonstrar desconhecimento de suas habilidades como guerreiro nas noturnas batalhas com as troianas.

Afrodite, apesar de ter sido gerada de forma artificial, sem os prazeres que a via natural proporciona, é considerada a deusa do amor e do sexo. Entende de sedução e, conseqüentemente, de corrupção. Foi dela a proposta praticamente irrecusável. Afrodite prometeu que, se Páris votasse nela, faria com que ele se casasse com a mulher mais bela do Planeta.

Páris, como qualquer jurado, senador ou deputado corrupto, aceitou a oferta que lhe pareceu mais vantajosa, o suborno de Afrodite. Acontece que, na ocasião, a mais bonita do mundo era a espartana Helena, mulher de Menelau, rei de Esparta.

Com a proteção de Afrodite, a deusa alcoviteira, Páris raptou Helena de Esparta e a elegeu Helena de Tróia. Foi aí que o fofoqueiro Homero, que estava editando a revista gay "Espadas de Esparta", fez o mais infame dos trocadilhos: passou a chamá-la de Helena de Trolha, insinuando que, desde os dez anos de idade, a pagã aprontava das suas, chegando a provocar o tesão de Teseu, cinqüentão, filho do rei Egeu, de Atenas.

Dizem que Menelau não se abalou com o rapto de Helena, afinal ele tinha pra mais de não sei quantas escravas gostosas no seu harém. Algumas tinham o rosto muito parecido com o de Helena; em outras, os peitos eram praticamente iguais aos da formosa, e existiam ainda aquelas que exibiam bundas, coxas e até línguas helênicas. Por que, então, correr atrás de tudo isso numa só? Por quê?! Ora por quê! Porque ela poderia até não significar muito para um só, mas muita gente ficou com saudade de Helena. Entre os saudosos, o mais saudoso: Agamenon, irmão de Menelau. O cunhado de Helena já não suportava tanta saudade, acabou convencendo Menelau a correr atrás do prejuízo.

Depois de muitos anos tentando debalde (advérbio bastante usado à época) entrar na cidade de Tróia, os espartanos tiveram a genial idéia do cavalo de pau oco, que anos depois seria utilizada pelos corruptos colonizadores do Brasil, na versão do santo do pau oco, para contrabandear ouro.

Os espartanos deixaram o cavalo de pau recheado de guerreiros em frente aos portões de Tróia. Sem desconfiar que se tratava de um poderoso vírus, os troianos fizeram o presente grego entrar na cidade. À noite, enquanto Helena e Páris estavam lá no bem-bom, os espartanos saíram da barriga do cavalo. Um dos guardas troianos viu os guerreiros saindo pela retaguarda do animal e até comentou com os colegas do posto: "Olha lá!, não é um cavalo! É uma égua e estava prenhe!". Mas aí era tarde demais, os espartanos abriram os portões e o exército de Menelau invadiu a cidade, matando meio mundo e resgatando Helena.

Muitos anos se passaram, até que os portugueses, inspirados na Ilíada, lançaram-se ao mar e vieram parar nas costas brasileiras. Entre os anos MD e MMVII, ocorreu a Cabraléia de Camões, a versão tropical da Odisséia de Homero.

Aqui no nosso solo pátrio, Menelau se tornou patrono dos cornos. Teseu passou a ser conhecido como o príncipe dos pedófilos. Agamenon é hoje reconhecido como o protetor dos ricardões. E, finalmente, Hera, Atena e Afrodite foram eleitas musas dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário (não necessariamente nessa ordem) em terras tupiniquins.

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