Opinião: Tenho a convicção de que quem escreve não pode se omitir da crônica política.
Assim é o recente fato que envolve Cuba. Impossível não tecer considerações com o acontecido recentemente.
Por questões de retaliação, os Estados Unidos e diversos outros países passaram a ver a pequena Cuba como verdadeiro "bicho-papão", lugar de onde poderiam sair todas as maldades que atingissem as Américas. Tudo isso logo após Fidel Castro ter libertado a ilha das mãos de Fulgêncio Batista, presidente eleito que governava o país ditatorialmente e sem o menor escrúpulo cívico.
Como em toda vitoriosa revolução armada, os primeiros momentos foram violentos. Muita gente foi fuzilada, e talvez uns poucos inocentes tenham sido vítimas. Nunca se sabe com certeza. Faz parte do processo revolucionário.
A reação diplomática norte-americana falhou. Os Estados Unidos tinham muitos interesses econômicos, alguns nada produtivos, como os cassinos. Jogaram duro e pretenderam manter seus domínios sobre a ilha.
Ora, o movimento era de libertação. Logo Fidel passava para o lado da Rússia, então comunista. O modelo político foi adotado também em Cuba. De imediato ela se achou isolada comercialmente e de qualquer outro tipo de negócio.
O país ficou como um satélite russo, dependendo das negociações com o açúcar, praticamente seu único produto de exportação. Isso durou muitos anos. Com a queda do Muro de Berlim, a Rússia não tinha mais como apoiar a nação caribenha. Os investimentos estrangeiros não existiam. Fidel teimava, como teima até hoje, em convocar eleições livres. A nação empobreceu demais e hoje Havana encontra-se em estado bastante feio.
De tempos em tempos, os Estados Unidos têm presidentes audaciosos na boa política externa. Barack Obama foi eleito e reeleito com esperanças, mas é preciso ter noção que dirigir país onde os poderosos dominam é tarefa difícil manter política mais liberal. Uma das suas metas era resgatar Cuba do seu isolamento. Através de missões diplomáticas pequenas, dos dois países, as reuniões feitas no Canadá começaram a ganhar corpo. A entrada do Papa Francisco, com a sua autoridade moral conhecida e indiscutível, foi o elo que faltava para a consolidação do acordo. É sabido que tanto Obama, como Raúl Castro mantiveram reuniões e contatos com o Papa, advogado da paz no caso.
O mundo assistiu com prazer a conversa entre Raúl e Obama. Está estabelecido o início de uma nova era, onde o entendimento vai prosperar, ao que tudo indica.
Quais os resultados? Em primeiro lugar, a volta de Cuba à America, o maior continente do mundo, já que abrange os dois hemisférios.
Como consequência, a interrupção do bloqueio comercial, o restabelecimento das relações diplomáticas com todos os países americanos, a geração de riquezas que resgatem a beleza cubana e, naturalmente a realização de eleições que podem transformar o comunismo duro em socialismo democrático, provavelmente com regime de gabinete.
O isolamento jamais construiu nada.
Jorge Cortás Sader Filho é escritor
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