A Psicologia da gripe

por Montserrat Martins - Psiquiatra


Isso aconteceu em Porto Alegre, quando já havia mortes no Estado e apenas três locais públicos eram centro de referência para o diagnóstico (o que daria uma média de mais de meio milhão de habitantes por centro de referência). O resultado do exame, só em cinco dias.


Desde os primeiros casos no país, se repetem os discursos das autoridades - federais e estaduais - de que não há motivo para alarme, que o H1N1 não é mais letal que o influenza comum. Quando se viu que vitimava pacientes mais jovens, surgiram outras teorias, uma delas, por exemplo, apontando a obesidade - baseado numa “estatística” dos oito primeiros casos do sul, não da experiência internacional.


Cabe sabermos se a preocupação psicológica das autoridades, em não alarmar a população, é tão relevante quanto as medidas concretas que, até agora, parecem ainda distantes. Poucos locais para diagnóstico, demora no resultado, pouco estoque do medicamento. E qual seria a estratégia de “barreiras sanitárias” para tentar conter a epidemia, mesmo?


Mais discursos psicológicos que ação, na área da saúde, não são novidade no Brasil. Verbas que seriam para a saúde pública, como a CPMF, foram parar na ‘caixa única’ do governo, antes da extinção da contribuição. O que não significa que o Estado não seja capaz de ser um bom gestor, haja visto o sucesso de estatais como a Embraer, a Petrobrás, o Banco do Brasil. Também já houve feitos dignos de reconhecimento, na história de nossa saúde pública, como a universalização do atendimento e, para dar um exemplo mais específico, a quebra de patentes que permitiu a fabricação de medicamentos a custo acessível para viabilizar o combate ao HIV.


Vivemos agora um momento crucial, em que as deficiências estruturais da saúde pública necessitam ser enfrentadas com a prioridade que sempre deveriam ter, na função de salvar vidas. Não seria um momento propício para a Petrobras, por exemplo, ao invés de patrocínio a time de futebol, patrocinar equipamentos necessários para a saúde (como outras empresas já fizeram na Santa Casa, por exemplo)? Ou, a nível estadual, que uma nova meta fosse um “déficit zero” em vítimas de epidemias?


Porque mais que os discursos psicológicos, para tranquilizar a população, são ações concretas que fazem bem à saúde.

Montserrat Martins - Psiquiatra
[email protected]

Fonte: Espaço Vital

http://www.guiasaojose.com.br/novo/coluna/index_novo.asp?id=2971


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