Mensagem do Ano Novo

Se me tivessem dito há dez anos atrás que no ano 2005 estaríamos a debater se provas tiradas sob actos de tortura seriam aceites ou não nos tribunais britânicos ou se a CIA deve ou não continuar com essas práticas, diria que estava no meio de um pesadelo, em que o mundo tinha sido apanhado no meio de uma vórtice de tempo e regressou ao tempo medieval.

Se estamos a debater esses assuntos – e estamos – então isso diz tudo sobre os senhores que estão por trás desta notícia, George Bush e seu clique de elitistas corporativos que fazem refém da nação norte-americana e que ditam sua política externa em nome dos seus interesses pessoais e corporativos no sector da energia e das armas.

Zelemos por um ano novo em que o Iraque possa viver em paz e estabilidade sem interferências de fora e em que o cidadão possa prosseguir com sua vida quotidiana em segurança. Infelizmente, a destabilização do estado e da sociedade iraquiana pelos Estados Unidos da América fez com que isso provavelmente e infelizmente não irá acontecer.

Basta ver as imagens na televisão em que todas as mulheres usam o véu para chegar a uma conclusão triste: Washington enviou a sociedade iraquiana cem anos para trás em apenas três. Se as mulheres não podem sair sem o véu – e é o governo eleito que insiste nisso – quer dizer que afinal as mulheres não estão livres.

Palavras bonitas, nada mais...

Este ano foi marcado pelas bonitas palavras em Gleneagles e os fracos resultados de Hong Kong seis meses depois. O que foi prometido em Gleneagles, foi um compromisso pelos mais ricos de ajudarem os mais pobres e não foi isso que foi conseguido na reunião da Organização Mundial de Comércio em Hong Kong. O proteccionismo dos mercados ocidentais por práticas injustas e controladas é um sinal cristalino que o modelo capitalista-monetarista não funciona pura e simplesmente, porque os proponentes deste modelo têm de interferir no livre comércio para que possam sobreviver.

Se admitem que é necessário uma influência do estado para controlar a economia, vamos então todos de viva voz admitir que a economia controlada e centralizada da União Soviética então não foi propriamente o diabo.

A vida do africano é no final de 2005 precisamente aquilo que era em 2004 – desigual, só por causa do acidente do nascimento. Se uma pessoa não tem acesso a uma educação, não tem acesso a electricidade, tem uma esperança de vida mais curta, não tem acesso à Internet e não tem a possibilidade de comunicar ou viajar, só porque nasceu em determinada parte ou num lado duma linha invisível que se chama uma fronteira, então quer dizer que colectivamente, o homem de facto permaneceu no tempo medieval.

Washington, a rainha das mentiras

A ocultação da verdade é outra vertente que nos preocupa no final deste ano e como o nosso nome sugere (Pravda quer dizer “verdade” em russo) a verdade é algo que pretendemos comunicar, por muito que doa.

Vejamos por exemplo as contínuas mentiras de Washington sobre a sua “guerra” ilegal, ou acto de chacina, no Iraque. Ora bem, o segredo mais guardado por Washington é o número de baixas entre suas tropas.

As autoridades do regime de Bush se concentram na cifra de 2,100 mortos. E então os feridos? O Pentágono admite que houve mais do que 15.500 tropas feridos mas o Departamento Médico do Exército diz-nos que o número é 20.748. Algo diferente do número oficial do Pentágono. Ora bem, como então é que se explica a cifra avançada pelo Departamento dos Assuntos do Veterano dos EUA, que afirma que 119.247 veteranos do Iraque e Afeganistão procuraram cuidados de saúde, 46.450 com lesões musculares ou de ossos?

Isso traz-nos à questão de quem são os militares empregados pelo Pentágono? Contam nas cifras oficiais todo o pessoal militar contratado ou só os soldados norte-americanos com contratos assinados com as forças armadas?

É que nem todos os militares que trabalham pelo Pentágono nasceram nos EUA. Um número crescente veio da América Latina – mercenários, que são pagos a preço de ouro para trabalharem para Washington, mas através das firmas, não oficialmente a nível governamental. A firma Halliburton, por exemplo, tem muitos mercenários colombianos a trabalharem no Iraque. Por quê? Porque Washington viu que as coisas estavam a ficar feias e sabe que se morrer um colombiano ou um chileno ou um boliviano, não vai chegar aos títulos dos jornais.

De facto alguém acredita numa única palavra iterada pelo regime de Bush hoje em dia? Em 5 anos, esse regime conseguiu desacreditar inteira e totalmente a imagem do seu país.

Façamos uma Resolução do Ano Novo, um compromisso de tentarmos tornar o próximo ano mais justo para todos, sem actos de chacina, sem tortura, sem desequilíbrios e sem desigualdades.

Um grande abraço de amizade para todos! Que o ano de 2006 lhes traga boa sorte, saúde, paz, amor e que esteja repleto de tudo que lhes traz verdadeira felicidade em todos os aspectos.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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