NA RÚSSIA FORMA-SE NOVO PODER "HORIZONTAL"

Da "equipa" do presidente da Câmara Municipal de Moscovo, Yuri Lujkov, vai retirar-se, em breve, Gueorgui Boos, vice-speaker da Duma de Estado e o segundo alto funcionário da hierarquia municipal. A sua candidatura foi proposta para concorrer ao cargo de governador da região de Kaliningrado e, apesar de celeuma surgida, Boos aceitou a proposta de se candidatar a este posto. Assim, ele será o segundo alto responsável da Câmara de Moscovo a ser transferido para trabalhar noutra região. Há algum tempo, para a cidade de Nijni Novgorod, foi transferido o vice-governador de Moscovo, Valeri Chantsev, que tinha integrado a equipa de Lujkov ao longo de três mandatos consecutivos. Deste modo, pode-se supor que a inevitável "deslocação de Chantsev pela linha horizontal do poder" seja um eloquente sinal de a "época de Lujkov" estar a chegar ao fim.

Seria curioso seguir mais de perto a estatística de nomeações dos governadores ocorridas nos últimos tempos. Se os deputados da assembleia legislativa da região de Kalingrado aprovarem a candidatura de Boos (disso já ninguém duvida), ele vai ser o sétimo "tutelado" presidencial que não provém das estruturas do poder local. Dito de forma mais simples, Boos desempenhará funções de um top-manager que não esteja ligado às elites regionais, aos grupos empresariais e às estruturas económicas "paralelas". Convém, pois, perguntar "o que poderá mudar este novo modelo de promoção de políticos da "lista presidencial"? Na realidade, acontece que estas pessoas se transformam num segundo "pilar" do Kremlin nas regiões depois de, há alguns anos, ter sido decretado o esquema do "poder vertical" através de nomeação pelo Presidente de representantes plenipotenciários nos distritos do país. Além disso, começa a ressurgir o sistema de selecção de quadros de todos os níveis, no qual, deste há muito, insistiu Moscovo para vencer o domínio de "clãs burocráticos regionais".

Na altura do omnipotente PCUS, existia o "harmonioso" sistema de preparação da assim chamada "nomenclatura partidária". As escolas soviéticas especiais foram responsáveis então pela preparação de dirigentes administrativos que, depois de tirar o curso, eram colocados pelo país inteiro. Uma pessoa da nomenclatura obtinha assim as garantias de não ser esquecida pelo Partido, desde que não violasse as normas ideológicas ou se tornasse criminoso.

Todavia, este sistema caiu em Agosto de 1991. Em troca, surgiram os novos "quadros revolucionários"- dirigentes de "ânimos democráticos" - nomeados pelo poder central e, nas regiões, os clãs locais que tomaram conta de empresas e dos sectores económicos rentáveis. Ao lado deles, concorreram os "oligarcas" locais. O poder central, fraco e incapaz de estabelecer a ordem sócio-económica normal, viu-se obrigado a "fazer vista grossa" às múltiplas transgressões praticadas por dirigentes regionais que, movidos por ânimos separatistas, até ameaçavam com um eventual abandono da Federação da Rússia. Mas tudo isso já está no passado. O sistema de "clãs regionais" tornou-se um sério empecilho do desenvolvimento. Para realizar projectos de nível federal, os dirigentes locais faziam questão de que o governo federal destinasse verbas orçamentais suplementares ou viesse aumentar as dotações, apesar de serem, por vezes, absolutamente infundadas tais despesas.

Agora está a criar-se um novo sistema de preparação e promoção de quadros ao qual se dá o nome de "reserva presidencial". Claro que se trata apenas de "funcionários da primeira classe" que, como regra, se candidatam para os altos postos nos departamentos federais e regionais. Dessa lista constam agora os empresários honestos e bem reputados, alguns membros da União Nacional de Industriais e Empresários (UNIE) e da Câmara Industrial do Comércio, assim como vários deputados da Duma de Estado.

No que se refere à profissionalização de quadros dos escalões médio e baixo, foi em 1994-96 que se iniciou a formação da reserva federal e regional, revelou à RIA "Novosti" um dos autores do programa, Andrei Prjezdomski . Supõe-se que, para cada cargo de dirigente ou vice-dirigente da unidade da FR, de ministérios e departamentos diversos, sejam preparados alguns candidatos que preencham os requisitos básicos indispensáveis para o exercício destas funções. Tal abordagem, segundo acrescentou, "faz diminuir o nível de proteccionismo, defendendo o Estado contra a infiltração no poder de elementos criminosos e reduzindo ainda o risco de corrupção". Contudo, Prjezdomski deplorou o facto de, na década passada, os princípios de selecção dos quadros não terem sido obrigatórios. "Só hoje estes enfoques começam a ser procurados e aplicados", disse.

Vassili Kononeko observador político RIA "Novosti"

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