Estraga-festas

Não mencionam o sofrimento sob o fascismo, não mencionam os campos de concentração, a injustiça da barbárie contra seres humanos. Mencionam sim o sofrimento dos povos da Europa Oriental sob a ocupação soviética.

Como sempre, George Bush foi um dos primeiros a tentar estragar a festa, referindo à ocupação da Europa oriental pela URSS antes de pisar solo russo, uma atitude que foi copiada amiúde por fontes de média ocidentais.

Porém, é uma questão de terminologia, porque libertação e ocupação são palavras que podem ser dois lados da mesma moeda, dependendo dum ponto de vista, tal como os rótulos “herói que luta pela liberação dum país” e um “terrorista”.

Se os norte-americanos gostam de afirmar que libertaram a Europa Ocidental, colonizando os países economicamente e inundando seus mercados com bens norte-americanos, também os soviéticos poderiam afirmar que os norte-americanos ocuparam a Europa Ocidental, instalando um regime hostil, traçaram uma linha do Báltico aos Balcãs e montaram uma Cortina de Ferro atrás da qual adoptaram uma posição de beligerância contra a URSS e seus aliados.

Ao mesmo tempo, a URSS poderia afirmar que a libertação da Europa Oriental trouxe consigo para os cidadãos dos nove países (Bulgária, Checoslováquia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, República Democrática de Alemanha, Roménia) emprego garantido, pensão, habitação, segurança na rua, segurança de estado, um sistema de educação e de cuidados de saúde excelente e gratuito e serviços públicos livres ou baratos. A ocupação norte-americana da Europa Ocidental por sua vez se traduziu em sociedades corrompidas por valores perversas, pornografia, drogas, banalidade e mediocridade cultural, desemprego endémico, pensões de velhice de miséria, uma situação em que era, e continua a ser, um drama para adquirir e financiar uma casa, e cujo financiamento representa uma pedra a volta do pescoço até quase à morte, sistemas de educação que vomitam gerações de burros para a praça pública, que muitas vezes nem sabem ler nem falar suas próprias línguas e dementes cujo tempo de lazer é ocupado em destruir a propriedade dos outros, sistemas de cuidados de saúde cuja preocupação é a linha de fundo nas contas primeiro e só depois a prestação dum serviço, serviços públicos inexistentes ou caríssimos, insegurança na rua e por aí fora. Mas que maravilha!

Em segundo lugar, devemos lembrar que a presença soviética nesses países foi para criar uma almofada para impedir o ocidente a chegar outra vez ao Oriente (milhões de vidas foram ceifadas em duas guerras cruéis) e a presença soviética foi para ajudar as sociedades a reconstruírem-se. Sob o sistema soviético, em muitos casos, sociedades quase medievais se transformaram em sociedades modernas, na linha de frente de desenvolvimento, levando a uma situação em que hoje, qualquer cidadão destes países se encontra muito bem preparado para competir para qualquer emprego com qualquer concorrente em qualquer parte do mundo em pé de igualdade.

Em terceiro lugar, os dirigentes desses países não eram russos. Polónia foi governado por polacos, Hungria por húngaros, Roménia por romenos, Bulgária por búlgaros.

Em quarto lugar, se houve presença militar soviética na Europa Oriental, também houve presença militar norte-americano na Europa ocidental, e continua a haver.

Muito se fala da ausência de certos líderes na festa de hoje em Moscovo. Só que os convites foram feitos, houve quem aceitou e uma mão quase vazia daqueles que quiseram fazer duma celebração um ponto político.

Por um lado, uma festa com cinquenta chefes de estado, de governo e de organismos internacionais, e por outro, uns azedos mal-humorados com complexo de inferioridade. Muitas vezes os homens de estatura pequena são complicados – vejam só o caso de Napoleão. Não quiseram vir à festa, então ainda bem – mais fica para os que vieram.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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