A Rússia continua a liderar nos lançamentos de aparelhos espaciais à escala mundial. Do total de lançamentos realizados em 2004, a Rússia foi responsável por 42,6 por cento, os EUA - por 29,6 por cento, a China - por 14,8 por cento, a Europa - por 5,6 por cento, a companhia internacional Sea Launch - por 5,6 por cento e a Índia - por 1,8 por cento.
Os indicadores russos poderiam ser ainda muito melhores, mas a pedido dos clientes a Rússia foi forçada de suspender sete lançamentos no âmbito de programas comerciais, o que se deveu principalmente aos problemas com os seus aparelhos espaciais. Trata-se dos aparelhos americanos WorldStar (antigo AMC-12) e PanamSat, dos europeus Cryosat, do segundo lançamento "cluster" no portador espacial Dnepr, da "Vela Solar" da Sociedade Planetária americana, da coreana KOMPS-2. No plano de lançamentos do IV trimestre de 2004 figurava também o aparelho espacial Telkom, tendo o contrato entre a companhia russo-europeia e o operador indonésio Perseroan Terbatas Telekomunikasi Indonésia estado na etapa final de elaboração, embora não chegasse a ser celebrado.
Ficaram também inacabados os aparelhos russos de observação óptico-electrónica Resurs-DK, o radar Monitor-E e o satélite Kompas de tratamento de dados sobre prevenção de terramotos. Não foi efectuado o lançamento do satélite de comunicação Express AM2, agendado para Dezembro de 2004. Desta vez por causa de problemas com o portador, que não havia sido encomendado na data indicada por falta de financiamento. (O ciclo de fabrico do portador Proton é de dois anos). Ficou também no papel o lançamento da cargueiro espacial Progress, de novo por falta de meios financeiros. Em geral, dos 28 lançamentos civis agendados para 2004 foram efectuados apenas 15 e mais um - suborbital. Tendo em conta os lançamentos militares, o total cifrou-se em 24 lançamentos.
No entanto, pela primeira vez nos últimos anos regista-se uma estabilidade em termos quantitativos do agrupamento orbital russo, tendo a qualidade do grupo de satélites também registado mudanças para melhor. Aumentou significativamente o número de aparelhos espaciais que funcionam no prazo de garantia, o que diz respeito tanto aos satélites militares como aos de fins sócio-económicos. Infelizmente em 2004 não foi realizado por nenhum lançamento de satélites científicos.
Em 2005, no âmbito do programa espacial federal, dos programas de cooperação internacional e comerciais, prevê-se efectuar 36 lançamentos, mais oito do que o previsto em 2004. Na maioria dos casos serão usados os veículos espaciais da família Soyuz. Prevê-se efectuar 12 lançamentos a partir do cosmódromo de Baikonur, 6 dos quais no âmbito do programa EEI para o lançamento de quatro cargueiros espaciais Progress e dois Soyuz com tripulações de substituição. Quatro lançamentos dizem respeito a programas comerciais: trata-se do satélite de telecomunicações americano Galaxy 14, da estação internacional europeia Venus Express, do satélite meteorológico Meteor-1 e de dois aparelhos de navegação experimentais Galileo (num só lançamento). Prevê-se ainda outros dois lançamentos - do satélite russo de sondagem da Terra à distância Resurs-DK e o satélite tecnológico Foton-M.
Nos 2.º e 4.º trimestres planeia-se colocar em órbitas geoestacionárias através dos portadores Proton dois satélites de telecomunicações russos Express AM. No segundo lançamento, na qualidade de carga adicional, será ainda colocado em órbita um aparelho de telecomunicação e radiodifusão KazSat, que está a ser fabricado pelo centro Khrunitchev por encomenda do Cazaquistão. Outros 6 lançamentos dos veículos Proton previstos para 2005 permitirão transportar os satélites de telecomunicações estrangeiros no âmbito dos contratos assinados pela empresa conjunta russo-americana International Launch Services (ILS). Serão lançados os aparelhos espaciais americanos WorldSatar (já efectuado), da companhia SES AmeriCom e DiresTV-8 (Abril), da companhia DiesTV Group, da companhia malaia Measat (Maio), da companhia Binariang Satellite Systems Snd. Bhd, da canadiana Anik FIR (Junho), da companhia Telesat Canadá, Astra-1KR (Setembro) da companhia SES Astra (Luxemburgo). Em Novembro planeia-se colocar em órbita o satélite WorldStar-3 e entre Dezembro de 2005 a Fevereiro de 2006 deverá ser lançado o satélite Arabsat-4A da Organização Árabe de Comunicação Espacial (Arábia Saudita).
Todos estes lançamentos devem ser efectuados pelo portador Proton-M, dotado do bloco acelerador Briz-M.
Prevêem-se lançamentos "cluster" mensais a partir do cosmódromo de Baikonur do foguetão-portador de conversão Dnepr.
Do cosmódromo de Plessetsk serão efectuados três lançamentos (dois dos quais são comerciais), aproveitando-se para o efeito o portador Rokot. O lançamento previsto para Março irá colocar em órbita o satélite CryoSAt (Agência Espacial Europeia), no segundo trimestre - o satélite experimental Monitor-E (Centro Khrinitchev) e em Agosto - o satélite coreano KOMPSat-2.
Em regime comercial serão ainda efectuados do cosmódromo de Plessetsk os lançamentos do portador espacial Kosmos-3M. O primeiro levará os primeiros dois satélites alemães de reconhecimento por radar SAR-Lyne. O segundo - quatro microsatélites da companhia britânica SSTL, fabricados no âmbito do programa euro-afro-asiático de prevenção de calamidades DMS (Disaster Monitoring Constellation).
O satélite israelita de sondagem da Terra à distância EROS B1 deve ser colocado em órbita a partir do cosmódromo Svobodny no 4.º trimestre, por meio do portador Start-1.
Outros três lançamentos serão efectuados do mar de Barents a partir de submarinos de mísseis estratégicos do projecto Kalmar (Lula).
No segundo trimestre, o portador Volna (Onda) irá colocar em órbita a "Vela Solar". Trata-se da segunda experiência de desdobramento no espaço de uma construção de película plástica de grandes dimensões, comandada à distância. A primeira tentativa, empreendida em 2001 no âmbito de lançamento balístico falhou - a carga útil não se desacoplou. Para o 2.º trimestre está prevista a partida do foguetão Chtil com o aparelho espacial Kompass-2 a bordo, criado há três anos para o teste dos métodos de prevenção de terramotos a partir do espaço e o teste de aparelhagem para um satélite espacial convencional de prevenção de terramotos (tema Vulkan). Para o 4.º trimestre está ainda agendado o lançamento com o mesmo objectivo do aparelho análogo Kompass-2N.
O tempo dirá em que medida todos estes planos conseguirão ser implementados. A direcção da Roskosmos (Agência Espacial da Rússia) avisa que as datas concretas dos lançamentos serão acordada à medida da preparação das estruturas técnicas e plataformas de lançamento, dos próprios portadores e dos aparelhos espaciais. Os prazos podem variar também por causa das prioridades, levando em consideração os interesses do Ministério da Defesa e do Programa Federal Espacial.
Falando em termos gerais, a Rússia, apesar das dificuldades financeiras, conseguiu manter e mesmo desenvolver as vertentes-chave da sua actividade espacial. Claro que o financiamento federal actual de 19 mil milhões de rublos (1 dólar equivale a 27,7 rublos) é insuficiente, exigindo-se na realidade duas vezes mais. Mas já é positivo que, em comparação com os anos anteriores, os valores previstos pelo orçamento nacional sejam de facto canalizados para o sector.
Em 2005, o financiamento da Roskosmos deve aumentar 15,8 por cento, o que é apenas suficiente para cobrir a inflação. Tal financiamento, na melhor das hipóteses, pode vir a ajudar a sobreviver nas condições actuais e nada mais. Será muito problemático, por exemplo, financiar o fabrico e o lançamento de novos satélites para a GLONASS. Daí advém a necessidade de nos orientarmos para os lançamentos comerciais, mesmo em detrimento dos programas nacionais, uma vez que os serviços russos nesta área gozam de bastante procura.
É de assinalar que o papel de "carregador espacial" não é muito atraente, mas os lançamentos comerciais garantem meios financeiros adicionais, bastante significativos, o que em parte ajuda a realizar também o programa espacial nacional, sustenta a indústria espacial nacional e as infra-estruturas dos cosmódromos, permitindo continuar pesquisas cientificas e técnicas inovadoras e desenvolver em geral o potencial espacial da Rússia.
Yuri Zaitsev perito do Instituto de Pesquisas Espaciais
Cortesia: RIAN
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