Os Presidentes reúnem-se em Bratislava, o que ao mesmo tempo nos permite falar da atitude da Eslováquia para com a Rússia e os EUA.
Os encontros entre os Presidentes da Rússia e dos EUA despertam sempre interesse. Putin e Bush são os únicos líderes de dois países capazes comandar o mundo. Lideram sociedades com enorme potencial intelectual e territórios com imensas riquezas naturais. Nenhum outro povo ou Estado pode competir com estas duas formações, mesmo que apresentem hoje em dia resultados melhores em certas áreas.
A Rússia tem ainda um outro pormenor. Várias vezes na sua história esteve à beira do desmoronamento como Estado, mas sempre encontrou forças para se defender e sobreviver. Talvez seja esta a razão por que a Rússia nem sempre está à frente na produção de artigos de consumo, mas no que se refere às armas ela sabe fabricá-las de maneira excelente, quer que se trate dos canhões da época do Pedro I, quer dos actuais mísseis balísticos intercontinentais.
A principal contradição entre as duas superpotências
Os Estados Unidos desenvolveram até à perfeição a ideia de liberdade e direitos humanos, a qual, parafraseando Marx, acabou por se tornar a força material que os ajudou vencer o comunismo. Os americanos aperfeiçoaram até demais um outro seu talento - o pragmatismo, tendo num relativamente curto período de tempo tornado-se no maior produtor mundial.
O final do século XX pregou uma partida às duas superpotências. A URSS, à qual era atribuído com frequência o nome de Rússia, perdeu a "guerra fria", tendo-se muitos países afastado dela, e juntamente com a guerra perdeu ainda a ideia da sua missão histórica. Os EUA, ao contrário, venceram a "guerra fria" passando assim a ser praticamente a única superpotência mundial. A supremacia dos EUA no mundo sob o slogan de globalização fez com que se tornasse muito mais vantajoso organizar a produção de mercadorias no estrangeiro, por causa de mão-de-obra mais barata, tendo-se os americanos acostumado a importar para consumo interno. Não tendo com que pagar as importações, os EUA recorrem a empréstimos pelo mundo fora, tendo anualmente que contrair cerca de 2 mil milhões de dólares de empréstimos para nivelar o seu défice comercial. Seria muito vantajoso para a economia americana se ela, através das suas empresas privadas, tivesse acesso às riquezas naturais russas, as maiores no mundo.
A Rússia precisa de tempo para estabilizar a sua situação após desmoronamento da URSS e a queda do comunismo. O enfraquecimento económico e militar dos EUA poderia garantir à Rússia o necessário período de tempo. Esta é a principal contradição entre os dois países.
A Rússia e o Ocidente
Vladimir Putin soube fazer parar o processo de desmoronamento da Rússia, o que não tinha conseguido Yeltsin. Actualmente na economia russa o capitalismo ganha força a ritmos e escalas incomparavelmente maiores do que na Eslováquia e mesmo nos próprios Estados Unidos. Já há alguns anos que na Rússia está em vigor o imposto único de 13 por cento. A queda do rublo parou. A Rússia tem vindo a pagar a sua dívida externa, mantendo relações de amizade na arena internacional com a União Europeia, e com os principais países da Europa - a Alemanha e a França. A diplomacia russa contribuiu bastante para a melhoria das relações entre a Índia e a China, sabendo ainda manter laços de amizade com a China. A Rússia continua a contribuir para o reforço das relações de entre dois mil e quinhentos milhões de habitantes da Terra.
É paradoxal, mas os EUA, pelo contrário, vêm agravando as relações com os seus aliados, envolvendo-se em guerras contínuas.
A Rússia e os direitos humanos
Na política interna da Rússia não se têm verificado exemplos maiores de violação dos direitos humanos. O processo movido contra Mikhail Khodorkovski e a sua empresa Yukos está em conformidade com as leis russas e portanto as tentativas do tribunal norte-americano de se imiscuir na justiça russa parecem ridículas. O próprio Khodorkovski é muito parecido aos nossos privatizadores da época de Meciar. Sentia-se como dono da enorme quantidade de petróleo nacional sem ter obtido o acesso a esta riqueza através de um concurso público.
O problema checheno tem a ver com um outro tipo de recriminações em relação à política russa. A partir de Bratislava é difícil avaliar correctamente todos os pormenores do conflito. Contudo, não devemos esquecer que recentemente a cidadã eslovaca Miriam Eviková e um pouco antes um grupo de trabalhadores da construção civil eslovacos foram tomados como reféns no sul da Rússia por chechenos e só a intervenção oportuna dos órgãos judiciários russos permitiu a sua libertação. Convém também recordar que quando há três anos as tropas norte-americanas no Afeganistão praticamente cercaram Usama ben Laden, como dizia a imprensa, entre os guarda-costas deste terrorista havia bastante chechenos. Os chechenos ainda não deram provas de não serem uma ameaça para os que os rodeiam.
Não sei se Vladimir Putin e George Bush irão abordar ou não em Bratislava os problemas que eu aqui delineei. No entanto, o êxito da cimeira vai depender da medida em que os presidentes e os seus assessores avaliarem objectivamente as suas forças, possibilidades e interesses históricos dos seus países e das conclusões que fizerem de tudo isso.
Atitudes para com os grandes e pequenos países
A marcação da cimeira dos presidentes russo e norte-americano é uma boa novidade para a Eslováquia. Para um país pequeno, a regra clássica da política deve ser não depender só de uma potência. Boas relações com muitos países grandes são do interesse dos países pequenos. Isto proporciona-lhes um vasto campo de manobra e ninguém sabe quando e em que momento este campo lhes poderá ser útil. No quadro da União Europeia a política externa da Eslováquia gravita mais para a ala pró-americana. As declarações norte-americanas sobre a velha e nova Europa não foram senão as tentativas de dividir a UE. Julgo que a política externa da Eslováquia não devia incentivar tendências semelhantes.
Mas nesta etapa estamos satisfeitos com o facto de o encontro de cúpula dos líderes das duas superpotências se celebrar em Bratislava.
Jan Carnogurski advogado ex-presidente do Governo da Eslováquia
in RIA Novosti
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