Aviões civis da "SUKHOI" têm apoio do Governo

Na semana passada o primeiro-ministro da Rússia, Mikhail Fradkov, terminou a sua visita oficial à França. Fradkov manteve conversações com o Presidente Jacques Chirac, o primeiro-ministro francês Jean-Pierre Rafarrin e representantes do mundo empresarial da França. Em todos estes encontros foi abordado o tema do projecto de avião civil de médio curso da famosa empresa militar russa "Sukhoi", que está em vias de realização com a participação de companhias francesas.

Mikhail Fradkov anunciou no encontro com os representantes da associação "Diálogo Russo-Francês" que "o nosso Governo dá todo o apoio a este projecto e, por conseguinte, conta com o respectivo financiamento para a sua realização". Acrescentou ainda que o Gabinete de Ministros está a analisar uma série de facilidades alfandegárias e tributárias com vista a acelerar o projecto. Com efeito, é uma questão bastante séria, uma vez que diz expressamente respeito aos interesses dos empresários e especialistas, russos e franceses, que trabalham no sector aeronáutico.

Acontece que o projecto "Aviões Civis da "Sukhoi" ou também designado como "Russian Regional Jet" (RRJ) absorveu tudo o que há de melhor na aeronáutica internacional contemporânea. Trata-se concretamente de três edições de aeronaves: para 60, 75 e 95 passageiros. A parte aviónica está a cargo da firma "Thales", o motor e barquinha do motor a cargo da "Snecma" e da empresa militar russa "Saturn", os sistemas de controlo a cargo da "Liebherr" alemã de Munique e da empresa russa "Voskhod", os sistemas de ar acondicionado também da "Liebherr" mas da sua filial em Toulouse, o trem de aterragem será construído pela "Messier Dowty", o sistema de alimentação de combustível pela "Intertechnique", os equipamentos eléctricos pela "Hamilton Sundstrend", o interior da cabina pela "B/E Aerospace", o grupo propulsor auxiliar estará a cargo da "Honeywell" e da fábrica russa "Saliut", as poltronas para os tripulantes a cargo da "Ipeco", e assim por diante.

Assim, a maior parte dos componentes compete à parte francesa. E, de facto, o projecto RRJ é misto, russo-francês. Os dirigentes da empresa "Sukhoi" procuravam perseverantemente o apoio técnico e parceiros de confiança entre as companhias reputadas no ramo aeronáutico que pudessem assegurar o êxito do programa de aviões civis - isto é, a saída para os mercados mundiais. É que na categoria de aviões de médio curso à qual pertence o RRJ, a "Sukhoi" tem muitos rivais como, por exemplo, o avião russo TU-334, a aeronave russo-ucraniana AN-148, a Embraer brasileira, a Bombardier canadiana e até o modelo chinês ERJ...

Dos aviões supramencionados nem todos os modelos passaram os testes e ensaios exigidos pela certificação, nem todos contam com o apoio do Estado como o que já tem a família de aviões civis da "Sukhoi". No orçamento de 2005 2,7 mil milhões de rublos (ou aproximadamente 100 milhões de dólares) são destinados à implementação do projecto. Porém, a concorrência é sempre concorrência. E para superar os adversários, é preciso propor algo que interesse e satisfaça as necessidades do mercado internacional: aeronaves de pequeno porte, relativamente baratas, fiáveis na exploração, com altos parâmetros operacionais e de manobra, um consumo económico do combustível, conforto para os passageiros.

Mas existe aqui um aspecto delicado: as altas taxas alfandegárias que as firmas fornecedoras dos equipamentos para o RRJ devem pagar na Rússia, o que naturalmente se reflecte negativamente na capacidade competitiva dos aparelhos e assusta os parceiros e participantes do projecto. Pelos cálculos da "Sukhoi", o preço unitário da aeronave dimensionada para 75 passageiros estima-se em 25 milhões de dólares. Grosso modo, é o preço proposto pela Embraer brasileira e a Bombardier canadiana para os aviões com parâmetros equivalentes. E este preço não deixa de ser tido em conta, apesar de o Russian Regional Jet ser mais confortável em comparação com os seus análogos estrangeiros, de contar com a manutenção técnica da Boeing, de ter motores SM146 fabricados pela empresa mista Snecma-"Saturn" que são sensivelmente mais económicos e consumem menos combustível que outros motores, o que tem bastante importância tendo em conta os preços do petróleo no mercado mundial. Para os fretadores aéreos é menos importante, digamos, o conforto dos passageiros, do que o preço geral do avião e os seus parâmetros de economia na exploração e manutenção técnica. Dado que estás últimas características são mais ou menos análogas ao que propõem os concorrentes, a única chance de vencer é baixar o preço da aeronave. Se o Governo garante o seu apoio à indústria aeronáutica nacional e liberta para o efeito determinadas verbas do orçamento, tem que conceder também preferências financeiras como faz o Governo norte-americano para os seus Boeings e a União Europeia para os Airbuses.

Ora, esta questão foi uma das centrais nas conversações em França. Mikhail Fradkov prometeu aos empresários franceses facilitar os procedimentos alfandegários e reduzir a tributação aos fornecedores do equipamento a ser instalado no Russian Regional Jet, tendo ressalvado que esta tarefa não será fácil, já que depende não só do Governo, mas também dos órgãos legislativos. Seja como for, a promessa do primeiro-ministro já é uma garantia em si - disse Fradkov. E a Sala das Convenções rebentou em aplausos.

Resta acrescentar que, conforme anunciou à RIA "Novosti" o director-geral da empresa "Sukhoi", Mikhail Pogossian, foram concluídos os trabalhos e desenvolvimento do anteprojecto em que participaram igualmente os engenheiros e técnicos da "Boeing", nomeadamente a configuração volumétrica do aparelho, a escolha dos fornecedores de materiais e equipamentos. Já no início de 2005 o avião será submetido à projecção executiva e a sua montagem será lançada em duas fábricas da "Sukhoi" nas cidades de Komsomolsk-no-Amur (Região do Primorie) e Novossibirsk (Sibéria Ocidental). E no terceiro trimestre do ano seguinte planeia-se o primeiro voo de ensaio.

"Estou seguro - disse Mikhail Pogossian - de que este programa tem todo o potencial indispensável para ser um êxito no sector aeronáutico da Rússia sendo essa a primeira vez que o fabricante oferece um produto que corresponde na totalidade aos requisitos do mercado mundial. Para além disso, o novo avião possui um elevado potencial como produto de exportação. Esta circunstância proporciona à Rússia uma possibilidade única de passar a ocupar uma posição firme no mercado mundial de aeronaves civis".

O director-geral acrescentou ainda que o programa do avião regional russo estima-se em 600 milhões de dólares e as expectativas da sua comercialização em mais de 10 mil milhões de dólares. As necessidades do mercado internacional em aparelhos de pequeno porte, relativamente baratos, maximamente confortáveis e fiáveis na exploração é estimada pelos peritos em aproximadamente 5.500 aviões nos próximos 20 anos. Só para os próximos anos, a partir de 2007 quando o RRJ for lançado na produção industrial, a necessidade dos países da Comunidade de Estados Independentes (CEI) calcula-se em 300 aparelhos e mais de 400 para os países da Europa, América do Norte e Sudeste Asiático. A empresa "Sukhoi" espera vir a facturar com a exportação destes engenhos praticamente o mesmo que agora factura com a exportação dos seus aviões de combate. E isto significa mais de 1,5 mil milhões de dólares por ano. Conforme Mikhail Pogossian, a "Sukhoi" já investiu no desenvolvimento deste projecto 70 milhões de dólares esperando nos próximos tempos não só reaver estes investimentos, mas começar a obter lucros.

Foi assinado um contrato para 50 aviões com a companhia aérea "Sibir", elaboradas ofertas comerciais para as companhias "UTAir" e "Pulkovskie Avialinii", para além de existirem acordos verbais - afirmam fontes da empresa - de vender os RRJ à "Air France", "Iberia" e outras companhias aéreas. Os executivos da "Sukhoi" falam também da possibilidade de convidar para o projecto de RRJ a companhia aérea indiana HAL, actualmente responsável pela montagem dos caças multifuncionais SU-30MKI sob a licença da "Sukhoi". Tal, segundo a empresa, irá contribuir para a ampliação do espaço comercial para os aviões civis e superar as dificuldades concorrenciais no mercado aeronáutico mundial.

Ora, se o primeiro-ministro Mikhail Fradkov cumprir a promessa dada ao empresariado francês - e disso não há nenhuma dúvida - o projecto "Russian Regional Jet" (RRJ) terá uma vida longa e próspera.

Viktor Litovkin observador político RIA "Novosti"

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