Acordo Rússia-Brasil sobre o espaço

- Sr.Presidente, durante a visita oficial do Presidente da Rússia Vladimir Putin, quem chega ao Brasil esta semana, será firmado um acordo entre os dois países na esfera espacial. Eu gostaría saber sua opinião do futuro da cooperação na esfera espacial, que o nosso Presidente destacou como "um dos mais perspectivos" nas relações bilaterais entre o Brasil e a Rússia?

Nós estivemos em Moscou com o Vice-Presidente José Alencar em outubro onde tivemos a oportunidade de reunir tres vezes na Agência Espacial Russa com o Sr.Anatoly Perminov e fechamos o memorandum de entendimentos entre os dois países.

Eu acho que é um marco em uma cooperação, que na verdade já existe. Não é? Eu diria que essa cooperação teve um ponto muito importante quando do acidente do VLS. Naquele momento imediatamente o Governo Russo se colocou a disposição para ajudar a elucidar o que é que ocorreu com o foguete e já vem trabalhando na consultoria ao IAE no sentido de que a gente possa a fazer agora um termo de segurança maior em relação ao foguete.

Isso foi um momento muito importante para nós. Nessas conversas lá na Rússia nós verificamos a enorme possibilidade, o caminho, que nós temos aí pela frente. E esse caminho envolve alguns aspectos. Os aspectos mais óbvios são lançadores, não só porque começou nesse trabalho com VLS, como também que há possibilidade de criar uma família VLS, que vá aumentando a possibilidade de alcance, de carga até chegar a foguetes capazes de lançar satélites geoestacionários.

Essa é uma idéia que nós perseguimos e com essa cooperação nos vamos ter grande possibilidade. Eu diria que a Reunião em Moscou, alem da participação de representantes cerca de 10 áreas, foi um sucesso grande. Acho que o nosso Vice-Presidente saiu muito feliz de lá, nós todos saímos, porque é um caminho enorme que se abre entre os dois países.

- Quais são os pontos principais do Memorandum?

Esse memoranum abre duas outras possibilidades. Uma no campo dos próprios satélites e outra - na campo de área técnica de Alcântara. Lá no Centro Espacial de Alcântara que evidentemente nos dará a possibilidade de acesso a instrumentos e equipamentos mais modernos. Nós visitamos a Cidade das Estrelas, eu tive lá, visitamos a área de treinamento, visitamos todo o conjunto da cidade e vimos essa possibilidade grande que se abre aí.

Eu diria que essa é uma área de cooperação importante para o país, eu diria fundamental, e tenho a convicção de que essa cooperação espacial com a Rússia, ela é uma cooperação absolutamente prioritária para nós.

De modo que nós devemos fechar esse memorandum de entendimento, que ele já etá pronto, não há mais qualquer dúvida, deverá ser assinado pelo Sr.Ministro da ciência e tecnologia Campos e o Sr.Diretor da Agência Espacial da Rússia Perminov, que tem estatus de Ministro, aqui na visita do Presidente Putin.

Então, isto fechado, as Agências são designados como as representantes para a execução do Programa e nós vamos dar o seguimento - o Memorando prevê que a cada etapa se faz um termo, um ajuste, um contrato que seja, porque ele só faz a descrição geral da cooperação - ele abre o espaço muito grande. Claro, que poderá não satisfazer todo aquele aspecto, mas a medida que fosse determinando cada etapa, nos faremos um termo de ajuste, alguma coisa que demarca a etapa ou o prazo.

- A Rússia vai fornecer sua tecnologia de produção de foguetes-lançadores?

A idéia é que nós vamos produzir isso conjuntamente. O VLS é já um foguete existente, Rússia está dando esta consultoria e depois nós vamos fazer de forma associada up-grade do VLS e firma família de lançadores nessa conjugação da Rússia e do Brasil. Os custos nós estudamos ainda em forma preliminar, porque a cada etapa vai haver discrimidadamente quais são os custos, quem aporta o que... Mas de uma maneira geral nós poderemos ter aportes de países, ter aportes de empresas e aportes vindos de financiamento.

- Quantos anos vai durar este programa?

Nós temos a meta de lançar o VLS em 2006 e essa é a versão da Memo. O VLS com up-grade e a continuação do VLS mais para frente, eu acho, que seria alguma coisa com horizonte até, talvez 2012, mais ou menos. Nós devemos ter pela frente pelo menos uma cooperação nos lançadores aí que vai chegar a uns 8 anos.

- A troca de propelente sólido nos foguetes brasileiros pelo propelente líquido será feita graduativamente?

No segundo já haverá um estágio com propelente líquido. Há essa previsão. E acho que ai é um caminho que vai ser seguido. Claro, que aí depende muito da nossa área técnica de execução. Pelo nosso lado nessa parte de lançamentos há um órgão, que fica ligado diretamente ao projeto, é o IAE que é um instituto do Departamento da pesquisa e desenvolvimento da Força Aérea. Normalmente nós temos essa divisão. A parte de satélites é a parte que o IPE trabalha. Especialização do IPE é mais de satélites e aplicativos.

- Os cientistas russos vão ajudar a equipar satélites brasileiros?

Poderão ajudar. O Memorandum prevê também a possibilidade de um trabalho conjunto em satélites. Hoje o IPE faz esse parte e continuará a fazer pela nossa parte, e o IAE faz a parte dos lançadores dos foguetes. A Agência faz trabalho de coordenação de esses dois braços executivos.

- Quais serão esses satélites - zondas ou de pesquisa?

No IPE nós temos satélites de pesquisa, de sensoriamento, observação da Terra. E a nossa expectativa é ter mais adiante o desenvolvimento de satélites geoestacionários que seria para comunicação, orientação de vôo.

- Quantas toneladas pode levar foguete para lançar esse tipo de satélites geoestacionários ao espaço?

Acima de 4 toneladas. A 36 mil quilômetros.

- Já é um foguete de classe média, mais próximo a classe mais alta?

Exatamente, é o foguete de classe média, já para classe mais alta. Nós não temos esse foguete e a nossa idéia é desenvolver da família do VLS com a Rússia até chegar a esse foguete.

- Memorandum prevê ajuda da Rússia em reconstrução do Centro de lançamento de Alcântara, não é?

Seria nessa área que falei de equipamento. Muito provavelmente nós teremos a possibilidade de equipamentos de mais nova geração desse acordo e, se isso ocorrer, seria muito bom, porque a nossa idéia é construir em Alcântara um Centro Espacial moderno bem equipado para fazer os lançamentos.

Os três pontos do Memorandum são área de lançadores, área de satélites e área de equipamentos em Alcântara, equipamentos de mais alta tecnologia, de telemetria e coisas assim, radares ... Não há determinação de que vão fazer em todas as três áreas. Mas anda uma idéia que as três áreas poderão ser feitas. Eu diria que uma delas já começou a ser feita - de lançadores. Ás outras também poderão ser feitas. Eu diria que o Memorandum já autoriza isso. Claro, que para cada um haverá um acordo específico.

- Este programa será pago pelo Governo brasileiro? Ou tem parceiros privados?

Esse programa é pago pela grande parte pelo Governo brasileiro. Nos poderemos vir até ter parceiros privados e poderemos recorrer a uns empréstimos. Mas os empréstimos também é de responsabilidade do Governo brasileiro. Essa é uma abertura que é para os dois lados. A Rússia também pode querer no decorrer do Programa utilizar alguns desses foguetes, satélites, que se possam fazer em conjunto, e pode também entrar em essa parceria até com recursos.

- Então tem uma possibilidade de criar uns joint-ventures?

É possível que se possa trabalhar adiante no prosseguimento do acordo até como nós trabalhamos com a Ucrânia. Aqui é a criação de joint-venture. É possível fazer uma joint-venture para lançamentos em Alcântara com a Rússia. Acho que a continuidade de trabalho pode indicar a criação de uma joint-venture que tenha inclusive até um sítio dentro do Centro de Alcântara para o lançamento.

Embora a Rússia tenha sítios de lançamento, tenha até mais de um, mas é possível para o que for feito aqui haja a idéia de ter um sítio próprio em Alcântara para essa empresa a lançar os foguetes daqui. O custo de lançamento é 30 por cento menor por causa da proximidade à linha do equador. E esta economia pode ser utilizada em peso, o que é uma grande vantagem.

- Quando vai terminar a reestruturação da base de lançamentos, será possível lançar de Alcântara grandes foguetes para ISS ou para estações tipo MIR, por exemplo?

Alcântara tem a posição privilegiada e pode lançar foguetes de grandes portes. E nossa idéia é que sirva para todas as finalidades - geoestacionárias, etc. Para isso nos estamos agora refazendo, inclusive, o conceito da base. Alcântara não é mais uma base militar. Existe uma base aérea de controle de vôo, de lançamento. Mas a idéia é criar um grande Centro espacial, com Centro de controle, para poder fazer lançamentos, unificado. Tem que fazer a exclusão aérea, marítima no dia de lançamento, mas que seja uma coisa muito ampla, inclusive com campus avançado, universidade lá dentro, área de estudos, seja uma coisa muito ampla, área de preservação ecológica, acomodação de muita gente que vai trabalhar dentro dessa área de Alcântara que tem 640 km2. Será uma área aberta para público, como, por exemplo o Kennedy Center. A idéia é criar até trilhas de turismo, áreas de acampamento de jovens, educar as pessoas o que a população ganha tendo um satélite. Tudo isso é uma idéia de um grande centro espacial.

- Brasil tem cooperação na área espacial com os EEUU, China, Ucrânia, Alemanha, França, Argentina. Esse Programa com a Rússia é diferente de todas?

O programa com a Rússia é bem diferente. O programa de cooperação espacial com a Rússia se destaca entre todas as parcerias na área espacial. Nós buscamos e já temos esta cooperação. Hoje nós temos quatro parcerias que são mais atuantes. Dos 4 programas importantes - com a China, Ucrânia e Alemanha a cooperação com a Rússia é mais importante. Começou num momento muito difícil - foi o acidente de VLS. Naquele instante a cooperação que nos foi oferecida imediatamente foi muito importante para estreitar esta cooperação com a Rússia. Esperamos que seja êxito.

Entrevista de Andrey Kurguzov Representante da Agência de Notícias da Rússia RIA NOVOSTI no Brasil © RIAN

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