Reforma da Educação: Compromissos possíveis

"Os sintomas de crise no nosso sistema de ensino estão a aumentar"- disse o reitor da Escola Superior de Economia, Iaroslav Kusminov ao comentar os quatro anos de modernização do ensino secundário e superior. Kusminov é um dos ideólogos da reforma da educação, cuja implementação foi discutida na semana passada em Moscovo por um grupo de peritos.

O principal objectivo da modernização é a melhoria da qualidade do ensino. No entanto o financiamento deste sector pelo Governo é insuficiente até mesmo para a simples manutenção do actual sistema - sublinha Iaroslav Kusminov. Se na URSS os gastos com a Educação constituíam 5-6% do PIB (taxa que actualmente se verifica em tais países como a Polónia, Portugal ou a Suécia), hoje na Rússia estes gastos constituem apenas 3,6% do PIB. "A envergadura do sistema de ensino está sempre a crescer mas o financiamento praticamente não aumenta" - refere o reitor. Anualmente o Estado disponibiliza apenas 400 dólares por cada aluno do ensino básico e secundário.

Por sua vez, o Ministério da Educação e Ciência afirma que a reforma está a decorrer com êxito e que o financiamento do sector quadruplicou nos últimos quatro anos. No entanto, ainda na véspera do início deste ano lectivo o ministro da Educação Andrei Furssenko disse que a introdução de inovações deve ser feita "de forma bem pensada". O "conservadorismo razoável" é o lema actual da modernização. A habitual crítica dos meios de comunicação social sobre a degradação da qualidade do ensino é comentada pelo ministro da seguinte forma: "Esse processo teve a ver com a redução do interesse da população pelo ensino nos anos 90. Agora a situação está a mudar. Na província o interesse pelo conhecimento é ainda maior do que na capital".

A reforma prevê a passagem para o sistema de exames nacionais (EN). Os exames nacionais passam ao mesmo tempo a ser provas de acesso ao ensino superior. Este novo sistema deverá permitir economizar meios e será uma forma de luta contra a corrupção nos estabelecimentos de ensino superior, permitindo aos alunos de famílias mais desfavorecidas ter acesso às universidades da capital.

Os EN, em forma de testes escritos de múltipla opção, são feitos nos estabelecimentos de ensino secundário e corrigidos por equipas pedagógicas independentes. Passará a ser possível efectuar as candidaturas de acesso ao ensino superior através do correio, com base nas notas dos EN, e esperar calmamente em casa os resultados do concurso. Esta experiência já dura há 4 anos. Neste ano participaram 65 repúblicas e regiões da Federação, 982 mil alunos e 946 estabelecimentos de ensino superior (incluindo filiais). "Este sistema teve boa recepção em muitas regiões e a sua aplicação será alargada"- disse o ministro.

No entanto, a opinião do Conselho de Reitores de Moscovo difere. O seu presidente, Igor Fiodorov, reitor da prestigiada Universidade Técnica Bauman de Moscovo, declara: "Nós continuamos a ter uma atitude crítica em relação aos exames nacionais. Os estabelecimentos de ensino superior devem eles próprios poder decidir qual o número de alunos admitidos com base nas notas dos exames nacionais e qual o número com base no concurso da Universidade". O novo sistema é visto pelas universidades e institutos da capital como um atentado aos seus direitos. O reitor da principal universidade do país, a Universidade Nacional Lomonossov (Moscovo), Viktor Sadovnitchi, considera que o perigo destas inovações reside numa outra coisa: "Desta maneira poderemos vir a perder os jovens de talento. Se o destino dos candidatos ao ensino superior for decidido apenas pelas notas dos exames globais, tal levará a consequências trágicas. Daqui a alguns anos, as escolas irão orientar-se apenas para a preparação do aluno para os exames globais. Tal levará os jovens a mudarem a sua atitude para com o ensino das ciências, acabando por deixar de pensar"

Os exames em forma de teste nem sempre reflectem a totalidade dos conhecimentos e capacidades dos alunos, especialmente quando se trata das disciplinas artísticas ou humanísticas (por exemplo, no caso dos cursos de Teatro ou Jornalismo). São conhecidos casos de erros nos enunciados dos exames, quando os membros das comissões independentes não são capazes de resolver os problemas propostos aos alunos. Até os próprios professores por vezes se queixam da inadequada apresentação dos exercícios. E eis os resultados: só 1 em 10 mil alunos consegue obter as notas máximas nos exames nacionais. São valores muito baixos, se tivermos em conta que eles irão decidir o destino dos jovens.

Os aspectos negativos do novo sistema levaram os alunos da capital a "esperar para ver" (o sistema é por enquanto opcional). Dos 81,3 mil finalistas do ensino secundário da capital, só 2,9 mil se resolveram optar pelos EN. As notas dos jovens moscovitas foram 15-29% superiores às dos seus colegas das outras cidades e das zonas rurais. As cidades de província continuam a ter dificuldades em competir com Moscovo no que se refere à qualidade do ensino e, por isso, não será provável uma entrada maciça de jovens da província nos estabelecimentos de ensino superior da capital.

Parece que o Ministério da Educação pretende vir a optar por uma atitude flexível: os exames nacionais não serão a única forma de avaliação dos conhecimentos dos alunos no acesso ao ensino superior, "devendo ser conservada a possibilidade de alternativa", como sublinhou o ministro da Educação.

Nas outras questões da modernização do sector também se tem chegado a um compromisso. O ensino superior está aberto a inovações, tem vindo a aplicar as novas tecnologias e o ensino interactivo (todas as 63,4 mil escolas do país dispõem de computadores). No entanto, embora façam os possíveis por adaptar o ensino às novas exigências da actualidade, as escolas não tencionam abandonar o seu tradicional ensino fundamental das ciências. O número de disciplinas irá aumentar. Assim, em 60 regiões do país será leccionada a disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Auto-Realização, para adolescentes de 14-15 anos. "Nas escolas também deverá ser ensinada a História das Religiões, com a ajuda de manuais laicos", considera o ministro da Educação. Há alguns anos atrás tal seria impensável.

As mudanças são importantes e necessárias mas se não houver um financiamento adicional será impossível realizá-las, relembram os economistas. Tal só será possível em caso do aumento do PIB em 6-7% ao ano. Só nesse caso é que a reforma da educação será eficaz, diz a concluir Iaroslav Kusminov.

Olga Sobolevskaia RIAN

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