O Factor Checheno nas Relações Rússia-União Europeia

Com a atenção do mundo focado na política anti-terrorismo da Federação Russa, é claro que há diferenças entre as partes sobre esta questão. O ataque em Beslan foi um ponto simbólico nas relações entre a União Europeia e a Federação Russa – o primeiro a crescer em retórica e o último, a encarar problemas crescentes.

Os mídia na Rússia se preocupam frequentemente com as relações entre a UE e a Federação Russa, como estão, se Rússia irá um dia juntar-se à União ou se irá formar sua própria União na ex-URSS. Faz todo o sentido a colaboração, visto que Rússia é fonte de combustível e energia barato e a UE é um parceiro e investidor importante.

Juntos, poderíamos formar um contra-peso aos EUA, embora ninguém conseguiu impedir a invasão do Iraque mas ficou claro que quer a Federação Russa, quer a UE, partilham as mesmas preocupações acerca da influência global de Washington em assuntos militares, políticos e económicos.

Porém, a espinha na relação entre a Rússia e a União Europeia tem sido sempre a questão da Chechénia. O problema fulcral é a insistência da Europa numa solução política ao conflito enquanto a Rússia considera que a única solução é por via militar.

No início da segunda guerra chechena em Outubro de 1999, ambos os lados tiveram discussões acesas em Helsínquia, quando a UE insistiu num diálogo com os líderes dos terroristas chechenos. O então Primeiro-ministro Putin queria laços mais estreitos com a União, mas nos termos de Moscovo e sem interferência nos assuntos internos da Federação Russa.

Já passaram cinco anos desde então e a União Europeia continua a mencionar violações de direitos humanos por Rússia na Chechénia, enquanto a UE impõe seu modelo nos países membros novos, antigamente membros do bloco soviético e continua a pressionar a Turquia a adoptar medidas novas sobre direitos humanos, nomeadamente a melhorar a situação com a sua minoria curda, depois duma guerra civil que custou até agora muitos milhares de vidas.

É evidente que Bruxelas prefere a política à acção militar. Evita o conflito mas ao mesmo tempo tenta formar sua própria força de reacção militar para lhe dar alguma independência de Washington.

Moscovo, por outro lado, não considera que deve negociar com terroristas e não vê outra solução ao problema senão uma solução militar, embora esta solução ainda não deu grandes indicadores de sucesso. O que importa mais é que esta guerra é considerada em Moscovo como mais do que simplesmente um conflito militar: é uma tentativa de impedir uma implosão do Caúcaso e evitar uma série de secessões e as correspondentes guerras étnicas na região.

A região é também vista como uma que cria terroristas que perpetram os mais chocantes acções contra civis – e agora crianças.

Presidente Putin considera que a Chechénia se tornou um “estado criminoso terrorista” nos três anos de virtual independência entre 1996 e 1999 quando as forças russas se retiraram depois duma negociação política. Os terroristas têm ligações a Al-Qaeda e a outras organizações e por isso, nos olhos de Moscovo, a guerra é um combate justo contra o terrorismo.

Dado que a acção militar ainda não resolveu a situação, a solução é aumentar as acções e simultaneamente tentar evitar críticas da política empreendida. Os constantes comentários da União Europeia contra as acções das forças russas são um tipo de apoio aos terroristas, posição defendida em Abril deste ano por Yuri Fedotov, Vice-Ministro das Relações Exteriores.

Em Setembro, a UE exigiu explicações de Moscovo sobre como a tragédia de Beslan ocorreu, o que culminou numa discussão dura e aquecida, provocando as críticas de Moscovo que a União estava a ser “insolente de profundamente ofensiva”.

A UE quer uma redução de conflito e uma solução negociada. Moscovo se recusa a negociar com terroristas, com seus aliados, com seus apoiantes, muito especialmente agora depois da tragédia de Beslan, que a União Europeia tratou com tamanha falta de sensibilidade.

Yevgeny Bendersky

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