Quero dizer logo que não pretendo de modo algum justificar a violação dos direitos humanos na Chechénia por parte das autoridades federais e não considero a política das autoridades nesta república eficaz e a melhor de todas. A Chechénia continua a ser uma das regiões mais criminalizada e corruptas do país. Cabe reconhecer que no Governo central também há forças influentes que estão interessadas na continuação do conflito checheno, pois é precisamente na Chechénia que são extraviados os recursos orçamentais disponibilizados para a sua recuperação e se fazem fortunas através da venda ilegal de petróleo e seus derivados.
Todavia, agora trata-se de uma outra coisa. Pode-se afirmar com total certeza que os horrorosos atentados terroristas dos últimos tempos, que apavoraram o mundo inteiro, não são acções de rebeldes que lutam pela secessão e um estatuto especial para a Chechénia. É uma guerra de outra índole, que envolve os EUA, os países europeus, muitos países da Ásia e do Próximo Oriente.
Começando pelos actos terroristas de 11 de Setembro de 2001 nos EUA, a táctica e os objectivos dos últimos ataques terroristas apresentam muita coisa em comum. Em comparação com os terroristas tradicionais, que fazem parte de tais organizações como a ETA e o IRA, os terroristas actuais não exigem nada em geral, nem procuram quaisquer compromissos sendo impossível chegar com eles a um qualquer acordo. Eles simplesmente desferem golpe nos locais mais vulneráveis, locais que existem em qualquer país mesmo com uma economia e sociedade civil desenvolvidas, tendo por objectivo semear o pânico, inculcar o medo e provocar abalos económicos.
Enfrentamos fanáticos tipo zombie, sem limitações morais e com um fraco instinto de conservação. Quem luta pela independência do seu povo nunca irá sequestrar mais de mil pessoas - crianças e seus pais - e faze-las viver um autêntico horror durante 52 horas. Se se trata dos "rebeldes chechenos" que lutam pela independência da Chechénia e a sua separação da Rússia, eles deveriam preocupar-se antes de tudo com o que vai pensar a comunidade mundial caso venham a atingir o seu objectivo.
A tomada da escola em Beslan, os dois aviões russo feitos explodir em pleno voo, as explosões num comboio em Madrid, a explosão na discoteca na ilha Bali na Indonésia e o que vem ocorrendo no Iraque e Afeganistão, tudo isso são acções militares de uma guerra mundial, travada pelo terrorismo internacional contra a civilização humana.
O objectivo desta guerra não é a independência da Chechénia ou da Palestina. O objectivo é muito mais ambicioso - trata-se da liquidação do que para eles é um "sistema errado", um mal mundial, personificado antes de tudo pelos EUA e Israel, mas em parte também pela Europa, Rússia e por vários outros países. É a guerra do terrorismo internacional que tem por objectivo liquidar a civilização euro-atlântica. Nenhum outro resultado satisfará os terroristas. O terrorismo internacional é transnacional, não tem fronteiras. É de notar que entre os bandidos que ocuparam a escola em Beslan eram não apenas de origem chechena, existindo entre eles árabes e mesmo eslavos, de acordo com a informação prévia.
Ninguém pode comprar "indulgências" contra os atentados terroristas. Nem mesmo a França, que protestou em termos enérgicos contra a operação militar dos EUA no Iraque, foi poupada, tendo dois jornalistas franceses sido feitos reféns por radicais islamistas, os quais desta vez não gostam nada das leis francesas. Os terroristas terão sempre motivos para os atentados.
O facto de ultimamente a internacional terrorista ter centrado a sua atenção no Iraque e na Rússia tem a sua explicação. Um país ainda com fracas estruturas democráticas, alto nível de corrupção apresenta-se para o terrorismo internacional uma presa mais fácil. O atentado terrorista em Beslan teve por objectivo de provocar um conflito étnico no Cáucaso. A tarefa do terrorismo internacional é provocar na Rússia um caos sangrento, fazer chocar duas confissões diferentes, o que levaria à instabilidade política à escala de toda a Europa.
Neste contexto, quer o queiramos ou não, a Rússia e a Europa estão condenadas a acções conjuntas contra o inimigo implacável. Do ponto de vista dos interesses da segurança nacional dos países ocidentais, a Rússia hoje é um país-chave em cujo reforço e estabilização deve estar interessado o Ocidente, mesmo porque um dia os assim chamados "rebeldes" podem aparecer de repente nas ruas de uma das capitais europeias ou no salão de um avião de passageiros de uma das companhias ocidentais. Então terão que lhes dar outro nome. -0-
Aleksandr Konovalov Presidente do Instituto de Análise Estratégica Cortesia da RIA Novosti
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