Fazer sentido depois de Beslan

Tomámos o cuidado de não misturar comentários políticos com notícias acerca dos eventos horríficos e traumatizantes em Beslan, para providenciar às vítimas a dignidade que merecem e para não sermos acusados de utilizar a tristeza duns para atacar outros.

Contudo, agora que as câmaras e jornalistas deixaram a boa gente de Beslan à sua privacidade e dignidade, é altura para dissecar algumas afirmações feitas por várias fontes estrangeiras durante esse evento diabólico.

Primeiro, vejamos as afirmações feitas por alguns acerca dos muçulmanos, que são todos iguais e é assim que eles agem e que temos todos de lutar contra eles.

Errado! A vasta maioria dos muçulmanos condenaram este acto horrível e sem sentido, que foi mais perto do Diabo do que de Deus. Houve várias manifestações de solidariedade na Chechénia para com as crianças e contra os terroristas.

Segundo, a noção que este ataque foi perpetrado por rebeldes chechenos. Errado! Em qualquer caso, não se trata de rebeldes, mas sim de terroristas. Aqueles que fazem actos de violência contra alvos civis são terroristas e criminosos e devem ser julgados por assassínio ou danos corporais graves num tribunal de lei, como qualquer outro. Ponto final.

Também nem é bem claro que este bando pertence aos tradicionais grupos de terroristas chechenos, visto que foi composto por várias nacionalidades e visto que um ataque contra uma escola vai contra os morais de qualquer grupo de qualquer parte do mundo. O terrorismo desce a novas profundezas. As reivindicações deste grupo foram a libertação de um grupo de presos chechenos mas também seguiam o ideal de fazer explodir a região em lutas inter-étnicas. Poderiam ter sido trans-Caucasianos com um módico de influência de fora.

Manter Moscovo ocupado nesta região? Garantir que Moscovo não tenha facilidades em trabalhar com o Irão? Quem estaria atrás disso?

Fica cada vez mais claro que esta região encara duas hipóteses: viver com uma certa independência dentro da Federação Russa, com a política estrangeira controlada por Moscovo, ou então ver seus recursos e sua independência pilhados pelo Eixo do Mal fascista-imperialista formado por Washington e seus protegidos principais. Uma escolha difícil de fazer, mas eventualmente necessária. Washington nunca deixaria estas repúblicas em paz se tivessem a independência total, porque mais cedo ou mais tarde, instalaria um presidente treinado ou formado nos Estados Unidos da América e o resto seria cantigas. Washington acabaria por colonizar política e economicamente qualquer destas repúblicas que saísse da Federação Russa, principalmente por causa da sua importância geográfica e mineral. É uma questão de ler a mapa.

Em terceiro lugar, os comentários cínicos de George W. Bush, que Beslan foi mais um caso de terrorismo internacional e que temos todos de lutarmos juntos. Não mencionou o Iraque porque nem precisou mas a intenção estava lá, de justificar sua política externa, ligando-a a Beslan. Pois, Bush e seu regime já ligaram Bagdade a Al Qaeda.

Errado! Os que são mentirosos patológicos como Bush, acabam por serem enganados e apanhados pela teia de mentiras que tecem.

O ponto de equilíbrio que afastava bin Laden de Bagdade e que o mantinha a léguas do Iraque, era Saddam Hussein. Bush pode não saber disso mas se espera que haja alguém no seu regime que o sabe. O terrorismo internacional foi levado a Bagdade não por Saddam Hussein, nem por Ouday Hussein, nem por Qusay Hussein, mas sim por outro homem e esse homem chama-se George W. Bush.

Foi só depois do ataque assassino e cruel contra o povo iraquiano, que chacinou dezenas de milhares de inocentes, tais como aqueles Diabos em Beslan fizeram, que os terroristas internacionais entraram no Iraque em grande escala, jorrando para dentro do país através de todas as fronteiras, semeando o caos. Um comentário e um epitáfio perfeito para a política externa desse George Bush limitado, ignorante e arrogante ao ponto de negligência.

Por isso qualquer tentativa de ligar Beslan ao Iraque, o que tentou a imprensa britânica e norte-americana, é errada e além disso é uma tentativa cruel e sinistra de ganhar pontos políticos. Vê-se logo o tipo de pessoa que George W. Bush se tornou.

Beslan tem a ver com terrorismo internacional, Al Qaeda tem a ver com terrorismo internacional. O Iraque não tem nada a ver com terrorismo internacional e nunca teve. Tem a ver sim com a gula de Washington e a sede de conseguir uma dominação geo-política em áreas chave adjacentes aos recursos mais importantes da Federação Russa. Que ninguém se esqueça disso, especialmente há dois meses das eleições presidenciais nos EUA. George Bush torna o Mundo um sítio muito, mas muito mais inseguro e muito mais perigoso, como a sua negligência assassina e criminosa já demonstrou.

A seguir, uma mensagem para aqueles líderes que gostam de se rastejar aos pés de Vladimir Putin em tais ocasiões, enviando mensagens de condolências enquanto simultaneamente dão asilo político a terroristas chechenos. Com amigos destes, quem precisa de inimigos? Extraditem esses terroristas para que possam ser julgados na Federação Russa, ou então vão ter de encarar a acusação de darem asilo a terroristas e por isso fomentarem o terrorismo, tal como fez o regime Taleban. Qual é a diferença?

Finalmente, para a União Europeia, que exigiu uma explicação da Federação Russa acerca do uso de força. Uma explicação? A Federação Russa exige explicações da UE? Aquele grupinho de burocratas que nem sequer conseguem forjar uma política comum sobre como fritar um ovo?

Eu explico, em linguagem bem clara para idiotas entenderem (leiam devagar e pronunciam bem cada palavra): A Federação Russa atacou este bando de terroristas, assassinos de crianças, porque estavam a rebentar bombas nas suas caras e estavam a metralhá-las nas costas, depois de as terem retido como reféns durante 48 horas, em que nem lhes deram água para beber, nem deixavam-nas utilizar as casas de banho.

Será assim tão difícil perceber isso?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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