"No mercado de formação de especialistas existe um sem número de centros de ensino cuja qualidade deixa muito desejar. Há muitos institutos e universidades, tanto públicos como privados, cujo nível de ensino está obviamente desactualizado" - declarou na entrevista exclusiva à RIA "Novosti" Nikolai Bulaev, dirigente da Comissão para a Educação e Ciências da Câmara Baixa do Parlamento russo.
Actualmente, na Rússia há aproximadamente cerca de mil centros de ensino superior, tanto públicos como privados, somando a este número cerca de duas mil filiais. O número de licenciados atingiu 1,1 milhões em especialidades diversas, tendo o número de matrículas nos centros universitários quase triplicado relativamente ao período soviético. Este facto não escapou à atenção do Presidente Vladimir Putin que na sua mensagem anual à Assembleia Federal (Parlamento russo) deu ênfase ao seguinte aspecto: "A proliferação dos estabelecimentos de ensino superior tem como produto colateral a degradação do nível de ensino".
"Actualmente temos na Rússia centros de ensino superior cinco vezes mais do que tínhamos na União Soviética - observou o ministro da Educação e Ciências, Andrei Fursenko, na reunião da Direcção da União dos Reitores da Rússia, realizada a 8 de Julho deste ano. - O que não se entende é como é possível assegurar um corpo docente qualificado e profissional para tantas escolas? Que eu saiba, nos últimos 15 anos o número de professores não aumentou assim".
"No nosso país a situação é um pouco paradoxal: assim que uma especialidade entra em moda, os centros de ensino abrem as respectivas faculdades e como resultado verifica-se uma superprodução de especialistas numa ou outra área. E assim a oferta fica acima da procura" - refere Nikolai Bulaev. Os peritos e analistas estão cépticos quanto à qualidade e nível da preparação da maior parte dos licenciados, sobretudo entre os juristas, médicos, professores e economistas principiantes.
O reitor da Universidade Estatal de Moscovo Lomonossov, Viktor Sadovnitchiy, atribui toda a responsabilidade pela degradação do ensino "aos estabelecimentos de ensino privados que se têm vindo a multiplicar-se". Nos anos 90 - refere o académico - o processo de criação destes estabelecimentos deixou de ser controlado, o que subverteu em medida considerável a tradicional reputação e solidez da educação na Rússia.
"Não podemos admitir mais a degradação do nível de educação, uma vez que não se trata aqui só da imagem cada vez pior do país, mas também de sérios prejuízos económicos - continua o ministro. - Além disso, a juventude também não quer uma educação qualquer, uma educação "simplificada".
"A sociedade russa tem agora outro nível de exigências - explica Nikolai Bulaev, dirigente da Comissão parlamentar para a Educação e Ciências - A actual geração de jovens aspira a um bom nível de formação, a uma educação de qualidade, que lhe abra vastas possibilidades, lhe permita afirmar-se na vida e alcançar um elevado estatuto social e material".
Já no Outono o Serviço Federal de Fiscalização na Área da Educação e Ciências propõe-se efectuar uma acção de inspecção aos institutos e filiais das universidades da capital nas regiões da Federação Russa, dando especial atenção aos programas de ensino. "O conteúdo da educação deve estar de acordo com os padrões internacionais mais elevados, sem esquecer ao mesmo tempo as vantagens que o sistema de ensino nacional acumulou": foi esta tarefa formulada pelo Presidente Vladimir Putin para o ensino superior. Os peritos também analisam atentamente a qualidade do ensino, o aproveitamento dos alunos, o estado higiénico e sanitário dos estabelecimentos de ensino e das residências estudantis.
"Os estabelecimentos de ensino que incorram em infracções e transgressões serão encerrados - assinala Andrei Fursenko. - Não será uma iniciativa isolada, antes sim uma política consequente". O ministro está convencido de que no novo ano lectivo o número de institutos e universidades deverá ser reduzido.
A propósito, este processo já está em andamento. Ultimamente foram revogadas as licenças de 15 estabelecimentos de ensino no sul e no norte da Rússia, nos Urais, na Sibéria e, dentre estes, até a algumas filiais de institutos da capital.
Então, impõe-se a pergunta: o que acontecerá com os alunos destas faculdades? O Serviço Federal de Fiscalização na Área da Educação e Ciências garante que os estudantes não ficarão na rua e que poderão fazer exames de admissão a outros estabelecimentos de ensino. Por seu lado, aos institutos e universidades "desclassificados" será concedida a possibilidade de se "reabilitar" e obter nova licença.
Olga Sobolevskaya observadora RIA "Novosti"
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