Comentário sobre armas nucleares tácticas causam novas discussões

As intensas discussões sobre as perspectivas da redução das armas estratégicas fizeram passar para o segundo plano a problemática das armas nucleares tácticas. No entanto, as incertezas sobre este tão delicado assunto colocam perante os políticos e militares uma série de questões que deverão ser necessariamente solucionadas. De contrário, o reforço das medidas de confiança e o desenvolvimento eficaz da cooperação entre Moscovo e Washington e entre a Rússia e a NATO serão impossíveis.

Esta dedução decorre do seminário sobre a problemática das armas nucleares tácticas convocado a 5 de Novembro no escritório moscovita da "Fundação Carnegie”

Não há acordos internacionais que se refiram à presença, à composição, à quantidade, ao controlo nem aos parâmetros das armas nucleares tácticas.

Todos os acordos concluídos entre os EUA e a URSS, entre os EUA e a Rússia só mencionam as iniciativas unilaterais de Washington e de Moscovo. Os EUA, por exemplo, comprometeram-se a desmantelar o seu arsenal de armas nucleares tácticas baseadas em terra, inclusive as ogivas nucleares para os mísseis tácticos e os projécteis de artilharia nucleares. Dispuseram-se igualmente a retirar do serviço e a armazenar nas instalações especiais todas as suas armas nucleares tácticas, inclusive as ogivas para os mísseis de cruzeiro instalados em navios de superfície, nomeadamente os porta-aviões, submarinos de ataque e aviões navais e a desmantelá-las na parte.

Segundo o Instituto Internacional de Estocolmo de problemas da paz, as armas nucleares não estratégicas dos EUA são avaliadas em 1670 unidades. A URSS e, posteriormente, a Rússia comprometeu-se, por seu turno, a desmantelar todas as ogivas nucleares para os mísseis baseadas em terra e os projécteis de artilharia nucleares e todas as minas nucleares (os EUA não as possui).

Para além do mais, a Rússia decidiu retirar do serviço e armazenar em instalações especiais as ogivas nucleares para os mísseis anti-aéreos, reduzindo-as à metade (os EUA não possuem tais ogivas), assim como retirar e armazenar em instalações especiais todas as armas nucleares tácticas de navios de superfície, submarinos de capacidade múltipla e dos aviões navais e desmantelar um terço das ogivas. Moscovo declarou desmantelada a metade das suas munições nucleares tácticas instalados em aviões.

Segundo o Instituto de Estocolmo, as armas nucleares não estratégicas russas são em número de 3590 unidades. Não foi divulgado oficialmente se as partes haviam cumprido os seus compromissos unilaterais. As iniciativas unilaterais não são juridicamente obrigatórias, não prevendo, portanto, medidas de controlo. Só a tragédia do porta-mísseis atómico "Kursk" confirmou que o submarino não levava ogivas nucleares, nem nos torpedos nem nos mísseis de cruzeiro "Granit". Ao mesmo tempo, sabe-se ao certo que os EUA mantêm nas suas onze bases em sete países europeus o seu arsenal nuclear táctico representado por 180 bombas de queda livre. Washington considera o seu arsenal europeu como "inútil do ponto de vista militar" e como "dissuasor do ponto de vista político", como afirma o redactor do livro "Armas nucleares não estratégicas", Alister Millar.

No entanto, surge a pergunta: a quem deverão dissuadir estas bombas, a Rússia? E que dizer então das declarações do Presidente Bush sobre as "relações especiais e confiantes com Moscovo"? Esta pergunta não tem resposta.

Um outro aspecto destacado pelos participantes no seminário. As armas nucleares dos EUA na Europa são chamadas de tácticas. Tudo bem, só que, para a Rússia, estas armas são estratégicas, podendo ser transportados pela aviação do teatro de operações militares para junto das fronteiras russas em dezenas de minutos, o que equivale à duração do voo de um míssil balístico.

Os EUA esquivam-se de discutir este assunto, acentuando cada vez mais frequente o problema da segurança do armazenamento das armas nucleares tácticas nos arsenais russos, sobretudo à luz das explosões em Moscovo, Volgodonsk e Buinaksk e da tomada dos reféns no Centro Teatral.

Os parlamentares estadunidenses referem-se cada vez mais à desprotecção das instalações nucleares russas e à necessidade de estabelecer um controlo internacional (provavelmente estadunidense) sobre elas.

O ex-director do 4º Instituto de Pesquisa do Ministério da Defesa da Rússia, general da reserva Vladimir Dvorkin, pergunta sem rodeios: porque é que Washington passou a preocupar-se, tão de repente, com a protecção dos nossos arsenais? Qual o objectivo da sua preocupação: o entabulamento de negociações abrangentes sobre a redução total das armas nucleares tácticas, do que falaram, em tempos, Mikhail Gorbachev e Bush pai ou outros objectivos ocultos?

Muitos políticos estadunidenses, inclusive o ex-ministro da defesa, William Pery, e o ex-comandante das forças estratégicas nucleares dos EUA, U.Habiger, conhecem perfeitamente o sistema de segurança das instalações militares nucleares russas. Habiger havia visitado uma delas e disse que as instalações russas estavam protegidas melhor do que as estadunidenses. Porque é que mudaram de opinião? Este assunto ganha especial actualidade, tanto mais que, durante a discussão dos parâmetros do Tratado sobre a redução dos potenciais estratégicos ofensivos, assinado pelos dois Presidentes em Maio último, a Rússia propôs tornar transparentes todos os armamentos nucleares, inclusive os tácticos. Washington rejeitou a proposta russa.

Os participantes no seminário concordaram que os "receios" estadunidenses devem ter como base o desejo de mascarar a elaboração de novos tipos de armas nucleares tácticas e a modernização dos já existentes. Pelo menos, tais notícias vêm a ser, de vez em quando, do conhecimento da imprensa internacional.

A recusa de Washington de subscrever o Tratado sobre a proibição total dos ensaios nucleares (CTBT) e a sua intenção de manter "sempre aquecido" o polígono nuclear do Nevada levam a crer que nem tudo é tão simples e tão claro nos EUA no que se refere às armas nucleares tácticas. A retirada do Tratado ABM e as tentativas de criar o Escudo Anti-Míssil Nacional são impossíveis, no entender de especialistas, sem que sejam criados mísseis interceptores de ogivas nucleares. Deve ter sido por isso que os congressistas e a imprensa estadunidenses passaram a falar de uma "ameaça terrorista às instalações nucleares militares russas". Os militares russos sugerem uma receita muito eficaz contra todas as preocupações: negociações sobre as medidas de controlo e a troca de informações.

© RIAN

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