RÚSSIA E GEÓRGIA ESTÃO DESTINADOS A CONVIVER EM BOA-VIZINHANÇA

Pode-se dizer com certeza que a década passada no espaço pós-soviético foi uma "época de soberanias limitadas". O que assistimos foi, de facto, a criação de pressupostos para a constituição de novas soberanias, de novos instrumentos de exercício do poder e de uma nova ética de gestão.

Este é um contexto histórico da presente campanha para a eleição do Presidente da Geórgia.

Obviamente, o desenvolvimento estável de um país torna-se possível só quando a elite governante passa a preocupar-se em realizar uma modernização nacional e é capaz disso, possuindo instrumentos eficazes de poder e um amplo apoio social. A omissão de pelo menos um desses factores dificulta significativamente o avanço para o objectivo traçado. Mais do que isso, os factores acima mencionados determinam igualmente as relações com os vizinhos.

Existem vários tipos da vizinhança. O primeiro pressupõe a "aspiração a um bem comum", ou seja, um diálogo entre os países interessados na modernização recíproca. O segundo tipo é um "diálogo a partir da posição de força", ou seja, um país moderniza-se por conta do outro. O terceiro é um "conflito permanente" entre países com sistemas absolutamente incompatíveis, cujo objectivo final é a destruição do adversário.

A Rússia e os seus vizinhos no Cáucaso estão interessados na modernização recíproca por muitas razões. Uma delas emana da história social e cultural comum e é a segurança interna e externa, a estabilidade económica e a prosperidade da região.

No entanto, os acontecimentos dos últimos anos levam a crer que as tentativas de efectuar uma modernização que não considere as especificidades nacionais e aposte na elite estrangeira e no seu apoio financeiro, proporcionam resultados contrários. Neste caso, não podemos falar de uma modernização nacional, antes de uma prática colonial de exercício de interesses geopolíticos. Os exemplos não faltam: das tentativas de exportação do socialismo para países africanos aos mais recentes acontecimentos na Jugoslávia e no Médio Oriente. O mesmo pode ser dito sobre a posição das instituições financeiras internacionais que, ainda recentemente, não se cansavam de se declarar decepcionadas com o curso das reformas económicas na Rússia.

A direcção política de um país, se visa mesmo a prosperidade do seu país e não apenas um simples controlo sobre a sociedade, deve preocupar-se sobretudo em modernizar a sociedade e a sua economia e desligar-se dos estereótipos políticos na avaliação dos interesses de outros países e dos seus próprios. A Rússia e a Geórgia têm tantos interesses económicos e políticos comuns e tantas relações culturais que não temos outra alternativa senão sermos importantíssimos parceiros estratégicos na região, o que irá definir, no final de contas, o futuro do nosso relacionamento bilateral.

As próximas eleições presidenciais na Geórgia deverão ter como principal resultado a constituição de um poder legítimo e impedir todas e quaisquer tentativas de solucionar militarmente a presente situação do "período de transição" no país.

Quanto os EUA, estão evidentemente a fazer um inventário dos seus interesses geopolíticos, visando, em última análise, a unipolaridade do mundo e incluindo na zona dos seus interesses as ex-repúblicas soviéticas. Estão a construir uma nova linha Magino, pois a velha se revelou ineficaz perante o atentado de 11 de Setembro. Nestas circunstâncias, a Rússia deve não só proclamar como também defender os seus interesses no espaço pós-soviético e intensificar os processos políticos e económicos no âmbito da Comunidade de Estados Independentes (CEI) para evitar a perspectiva de ficar à margem. Neste sentido, os interesses da Rússia como país em modernização em relação à Geórgia são compreensivos e os seguintes: Moscovo deve estar certa de que o sistema de segurança no Cáucaso está completamente de acordo com as realidades da actualidade. Acho que o sinal de tal certeza de Moscovo no futuro será a retirada da força de paz russa da Geórgia.

Enquanto isso, a presença da força de paz russa é necessária, tendo permitido, na época, prevenir uma guerra civil no território georgiano. Nestas circunstâncias, a declaração do secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, sobre a necessidade de retirar as tropas russas da Geórgia é inaceitável. A retirada das tropas russas poderá vir a incentivar manifestações agressivas das forças nacionalistas da Geórgia. Não sei porque Rumsfeld achou este momento oportuno para fazer esta declaração que reflecte apenas a sua opinião pessoal. Assim que a Geórgia tiver um poder legítimo, todas as questões, inclusive aquelas relacionadas com a presença da força de paz russa, estarão a ser solucionadas em conformidade com o Direito Internacional e os interesses recíprocos dos dois países.

Mikhail Marguelov, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais do Conselho da Federação

© RIAN

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